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Legalidade, soberania e os novos desafios da engenharia nacional

A engenharia brasileira foi um dos setores mais atingidos pelas movimentações golpistas e antidemocráticas, que vem agitando o cenário político nacional desde a primeira vitória de Lula em 2002. Existem, naturalmente, razões para que a engenharia nacional seja um alvo. A internet democratizou o conhecimento. A rede mundial de computadores disponibiliza, em quantidade crescente, vídeos, […]

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Olímpio Alves do Santos, presidente do Senge. Foto: Claudionor Santana

A engenharia brasileira foi um dos setores mais atingidos pelas movimentações golpistas e antidemocráticas, que vem agitando o cenário político nacional desde a primeira vitória de Lula em 2002.

Existem, naturalmente, razões para que a engenharia nacional seja um alvo.

A internet democratizou o conhecimento. A rede mundial de computadores disponibiliza, em quantidade crescente, vídeos, estudos, livros, podcasts sobre os mais diversos e espinhosos temas científicos, abertos a todos os internautas.

Entretanto, aplicar o conhecimento ao mundo real, transformar a vida das pessoas e das cidades, isso requer mais que assistir vídeos no youtube.

Para dar uso prático ao conhecimento, você precisará de um engenheiro.

Se entramos hoje, como diz o filósofo Mangabeira Unger, na era da economia do conhecimento, isso significa que há necessidade, mais do que nunca, de profissionais capazes de aplicar esse conhecimento ao mundo prático.

Engenheiros eletrônicos, nucleares, biomédicos, químicos, de computação, de inteligência artificial. O campo da engenhenaria nunca foi tão vasto e tão especializado.

Quando se deseja submeter economica e politicamente um país, portanto, é preciso asfixiar a sua engenharia.

Foi o que aconteceu ao Brasil.

Na posse da nova diretoria do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ), ocorrida na última sexta-feira, 6 de maio, as lideranças de diversas organizações representativas da engenharia fluminense e nacional não cansavam de repetir uma denúncia quase desesperada: como a Lava Jato destruiu a engenharia brasileira,  e como isso representou um golpe de proporções trágicas em nossa soberania e em nossas aspirações de desenvolvimento.

A tomada de consciência, todavia, é uma vitória importante. As franjas mais politizadas da engenharia nacional sabem que a Lava Jato e o impeachment foram ações, infelizmente muito bem sucedidas, do que se convencionou chamar guerra híbrida.

Quando lemos que os acionistas privados da Petrobrás vem embolsando lucros de centenas de bilhões de reais, recursos que poderiam emancipar, por séculos, a vida de milhões de brasileiros, e quando sabemos que, enquanto isso, o povo brasileiro paga preços extorsivos pela gasolina, o diesel, o gás de cozinha, entende-se muito bem o que é a guerra híbrida.

Nessa guerra houve perdedores: nós, o povo brasileiro, e arrastamos conosco tantos sonhos de independência e liberdade.

Mas também houve ganhadores: os de sempre, os apátridas associados ao imperialismo, os rentistas bem protegidos por editoriais da grande mídia, os políticos vendidos ao jogo da mentira, hoje liderados pelo presidente da república, Jair Bolsonaro. 

A batalha pela recuperação da nossa soberania será longa, e ainda estamos no início.

O primeiro passo será recuperar o poder político nas eleições deste ano.

Lula precisa ganhar e precisa contar com uma bancada forte de deputados e senadores.

Em suma, a luta pela soberania nacional passa pelas eleições presidenciais de outubro. Por isso é preciso construir uma campanha pela legalidade que tenha, como primeira frente de batalha, a garantia de um processo eleitoral sem tumultos, respeitado aqui e lá fora.

Passada as eleições, a campanha pela legalidade terá outras frentes, entre elas a de punirmos os oportunistas que protagonizaram os tenebrosos ataques à nossa engenharia que vimos nos últimos anos. Que destruíram empresas, paralisaram obras,  transformaram o necessário combate à corrupção numa pantomina golpista e irresponsável.

Em seguida, ou paralelamente a isso, a campanha pela legalidade será necessária para blindar o projeto de recuperação nacional contra novos golpes da guerra híbrida, que fatalmente virão.

Saúdo, portanto, a iniciativa da nova diretoria do Senge, que entendeu a necessidade de nos mobilizarmos, desde agora, em defesa da legalidade. É uma bandeira que está além das divisões ideológicas ou partidárias.

Defender um processo eleitoral livre, operado pelo sistema que a nossa sociedade escolheu (urnas eletrônicas), e que é um dos mais seguros e modernos do mundo, é dever de todo democrata.

Com a legalidade garantida, haverá ambiente para a implementação de um projeto nacional de desenvolvimento democrático, sustentável e, porque não, revolucionário, que eletrize nossas esperanças, que ouse fazer as rupturas necessárias, que reconecte nossos sonhos e expectativas a um plano concreto de ação!

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Abaixo, o texto publicado na página do Senge.

Presidente do Senge RJ propõe atos públicos em defesa da legalidade

Na posse da nova diretoria do sindicato, Olímpio Alves do Santos defendeu a mobilização da sociedade contra as ameaças dos militares contra o processo eleitoral. “Não podemos achar que essas histórias de golpe são de brincadeira, porque não são”, afirmou.

10 de Maio de 2022

O presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ), Olímpio Alves dos Santos (foto), defendeu a mobilização da sociedade e a realização de manifestações públicas em defesa do processo eleitoral e da democracia no país. Em discurso durante a cerimônia de posse da nova diretoria do Senge RJ, ele alertou que as ameaças de golpe devem ser levadas a sério e terem uma resposta.

“Estamos vendo a todo o momento notícias de possibilidade de golpe; os senhores que usam farda se acham donos desse país e querem interferir no TSE; o ministro da Defesa dizendo o que o TSE deveria fazer – isso não lhe cabe”, criticou. “Temos que convocar atos em defesa da legalidade, em defesa do respeito ao processo eleitoral que nós temos.”

Na avaliação de Olímpio, o Brasil têm longa tradição golpista e as ameaças precisam ser consideradas seriamente. “Não podemos achar que essas histórias de golpe são de brincadeira, porque não são – já tivemos essa péssima experiência. Acho que, neste momento, não devemos ficar na defensiva, mas partir para a ofensiva.”

O dirigente do Senge RJ ressaltou que, historicamente, a classe dominante brasileira fez de tudo para manter privilégios. “Ao longo de todo o período republicano, ela nunca respeitou os acordos, a Constituição. Sempre que achou que seus interesses estavam sendo maculados, ela deu um golpe.”

Por isso, advertiu Olímpio, é importante encontrar formas de garantir o respeito à legalidade e ao processo eleitoral como ele se deu até hoje – com exceção de 2018, que o dirigente considera uma eleição fraudada pelas manobras judiciais da Lava-Jato que tiraram Lula da disputa. “Deveríamos pensar com muita profundidade e calma e nos organizar.”

Durante palestra no evento de posse da nova gestão do Senge RJ, o ex-ministro da Ciência e Tecnologia no governo Lula, Roberto Amaral, também criticou o padrão brasileiro de recorrer a golpes, como na Proclamação da República, que conciliam disputas políticas, com o uso da violência, para evitar rupturas efetivas na ordem dos privilégios. Segundo ele, neste momento é fundamental defender a democracia e retomar a pauta socialista.

Nova gestão

A Diretoria e o Conselho Fiscal do Senge RJ tomaram posse na última sexta-feira (6) para a gestão de 2022-2025. Estiveram presentes dirigentes importantes da engenharia, políticos, parceiros, jornalistas: o presidente da Federação dos Sindicatos de Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Fisenge), Roberto Freire; do Crea-RJ, Luiz Antonio Cosenza; do Clube de Engenharia, Márcio Girão; do Searj, Isabel Tostes; o vice-presidente do Crea-RJ Francis Bogossian e a jornalista Hildegard Angel; a vereadora Tainá de Paula (PT-RJ); as pré-candidatas a deputadas estaduais Náustria Albuquerque e Marina; o jornalista Miguel do Rosário, do blog Cafezinho; o metalúrgico Edson Rocha, dirigente sindical, entre outros.

“Estamos aqui para iniciar uma nova caminhada, para que a gente possa mudar e reconstruir esse país”, afirmou Olímpio. “Isso significa, basicamente, superarmos a vergonhosa desigualdade que temos. Trazer para a cidadania milhões e milhões de pessoas, e reafirmar nosso compromisso com a engenharia. A tarefa da engenharia é trazer uma vida melhor para as pessoas.”´

Cosenza, do Crea-RJ, enfatizou a necessidade de de defender a soberania nacional e a geração de tecnologia no país, criticando a transferência de conhecimentos estratégicos para o exterior. Freire, da Fisenge, lembrou a importância do sindicato para o movimento social, onde nasceu, entre outras, a campanha das Diretas Já, pela volta do voto direto e fim da ditadura civil-militar. Girão, do Clube de Engenharia, apontou a relevância da engenharia para o desenvolvimento. E Isabel, do Searj, reafirmou o compromisso solidário das entidades de engenharia. “A Searj está de braços dados com vocês; precisamos estar juntos para garantir a democracia”, afirmou.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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