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A ABIN não foi “bolsonarizada”

O escândalo envolvendo a compra de softwares espiões pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e a espionagem indevida de mais de 10 mil brasileiros voltou a colocar a agência no centro do debate público e das manchetes dos jornais. Com a situação, muitos analistas de política e especialistas afirmaram que essa seria uma consequência de […]

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O escândalo envolvendo a compra de softwares espiões pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e a espionagem indevida de mais de 10 mil brasileiros voltou a colocar a agência no centro do debate público e das manchetes dos jornais.

Com a situação, muitos analistas de política e especialistas afirmaram que essa seria uma consequência de uma suposta “bolsonarização” da ABIN. Acontece que desde 2016, durante o governo do presidente Michel temer, a agência passou a ser controlada totalmente pelos generais sob articulação do general Sérgio Etchegoyen.

Por isso, não faz muito sentido afirmar que ABIN foi bolsonarizada principalmente quando pensamos que o alto comando das forças armadas foi quem produziu e tutelou a campanha de Jair Bolsonaro até o Palácio do Planalto antes mesmo de 2018.

A Cognyte, empresa responsável pelo software, tem como representante no Brasil Caio Cruz, filho do general Santos Cruz, um dos articuladores da ascensão de Bolsonaro ao Planalto.

O contrato 567/2018 foi firmado durante o governo de Michel Temer (MDB), por R$ 5,7 milhões e dispensou licitação, vigorando entre de dezembro de 2018 e maio de 2021.

Pela data da compra do software da Cognyte, a ABIN que já era subordinada ao Gabinete , que havia sido recriado e era comandado por Sérgio Etchegoyen.

O tenente-coronel Marcelo Pimentel ressaltou em suas redes que Etchegoyen foi da turma da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) de 74, a mesma do Santos Cruz. Sendo um dos responsáveis por levar Santos Cruz ao Estado-Maior do Exército em 2015. Etchegoyen também teria levado Santos Cruz ainda atuou no governo Temer como secretário nacional de Segurança Pública entre 2017e 2018 e atuando como um dos mentores da intervenção federal no Rio de Janeiro cujo Braga Netto foi o interventor.

Além disso, vale apontar que além de Braga Netto, o secretário de segurança pública na intervenção do Braga Netto foi o general Richard Nunes que hoje integra o alto comando das forças armadas.

Santos Cruz saiu do governo Temer em junho de 2018, quase 6 meses antes do Contrato com a Cognyte entrar em vigor 26 de dezembro de 2018.

Conversando com o pesquisador Ananias Oliveira, especialista em assuntos militares ele também apontou que tenente-coronel da reserva Helcio Bruno de Almeida era consultor da empresa Cognyte até 2021, Hélcio foi um dos convocados pela CPI da Covid sob a suspeita de que teria envolvimento com um suposto esquema de corrupção envolvendo a empresa Davati e vacinas contra a covid-19.

Hélcio também é presidente da ONG Instituto Força Brasil (IFB), investigada na CPI das Fake News  e no inquérito sobre fake news que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).

Ananias também explicou que Hélcio foi da mesma turma da AMAN de Braga Netto e é amigo de do General Azevedo e Silva, ex-ministro de defesa que levou 100 mil comprimidos de cloroquina para os Yanomami como medida para combater a covid-19.

É importante ressaltar que uma das bases para a recriação do GSI foi o Sistema Nacional de Informações que teve como um dos seus “arquitetos” Cyro Etchegoyen, tio do Sérgio. Além disso, vale lembrar que durante todo breve governo Temer, o comandante do exército durante a compra do software foi Eduardo Villas Bôas (da Aman de 1973) que é amigo de infância do general Sérgio Etchegoyen e que foi assessor do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República durante o governo Bolsonaro de 2019 a 2022.

Com tantas conexões entre militares que são colegas de turma da AMAN ou até mesmo parentes que vão desde antes do governo Bolsonaro, não restam dúvidas de que os problemas tudo que ocorreu foi de forma deliberada pelo alto comando das forças armadas.

E onde está o general Heleno nessa história toda? Nomeando o general da cavalaria Carlos José Russo Assumpção Penteado como secretário-executivo do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), o 2º com mais poder na pasta e próximo de Sérgio Etchegoyen.

O tenente-coronel Marcelo Ustra da Silva Soares também estava lotado no GSI sob as bênçãos do general Heleno, Marcelo é primo do militar e notório torturador Brilhante Ustra.

Ustra foi um coronel do Exército Brasileiro e chefe dos centros de tortura e assassinato de pessoas que se opunham à ditadura militar, o DOI-CODI do II Exército, no período em o pai do Sérgio, Leo Guedes Etchegoyen, ocupou o posto de chefe do Estado Maior do II Exército.

Até mesmo militares de patentes baixas afirmam que “quem tumultuou foram os generais” por isso, o problema não é “desbolsonarizar” ou não a força e sim acabar com as ambições de poder do generalato brasileiro. Isso é o mais urgente.

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Cleber Lourenço

Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_

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