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A última entrevista de Bolsonaro antes da condenação

Em comemoração à decisão que tornou Jair Bolsonaro inelegível por 8 anos, faço uma análise da entrevista que o ex-presidente concedeu à Folha nessa semana, para despertar aquele sentimento gostoso de alívio por termos nos livrado de um dos personagens mais grotescos da história política brasileira. Meus comentários vão em itálico: Mas agora o senhor […]

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Em comemoração à decisão que tornou Jair Bolsonaro inelegível por 8 anos, faço uma análise da entrevista que o ex-presidente concedeu à Folha nessa semana, para despertar aquele sentimento gostoso de alívio por termos nos livrado de um dos personagens mais grotescos da história política brasileira. Meus comentários vão em itálico:

Mas agora o senhor perdeu a eleição e provavelmente vai se tornar inelegível. Qual é o seu sentimento? A tendência, o que todo o mundo diz, é que eu vou me tornar inelegível.

Sim. Mas eu queria insistir: o senhor está triste? Ou animado para brigar? Eu não vou me desesperar. O que que eu posso fazer?

Mas qual é o seu sentimento? Eu sou imbrochável até que se prove o contrário. Vou continuar fazendo a minha parte.

Comentário: Tiramos Bolsonaro da presidência e agora a Justiça Eleitoral garante aos brasileiros a paz de não precisarem ouvir termos bizarros como “imbrochável” em cerimônias oficiais. E, de todo modo, se a metáfora era sobre a capacidade do Jair de ser eleito presidente em 2026, foi provado o contrário.

O senhor acha que pode reverter a inelegibilidade no futuro? [silêncio por alguns segundos] Olha, eu conheço a composição das cortes superiores [que mudam com o tempo, e de acordo com os governos, que indicam seus integrantes]. Que é possível, é.

Agora, quando a gente fica sabendo que uma autoridade importante —usando um pleonasmo abusivo aí—bate no peito e fala: “Salvamos a democracia ano passado”… se salvou foi com interferência.

Desde janeiro de 2019 falaram que eu ia dar o golpe: “Vai dar o golpe, vai dar o golpe”. “Olha, botou militar“. Eu botei gente que era do meu círculo de amizade. Se eu fosse petista, ia botar ladrões lá.

Comentário: Deste trecho meu destaque vai para o “botei gente que era do meu círculo de amizade”. E todo o discurso do ministério “técnico”? E o papinho do “acabou a mamata?” Bolsonaro finalmente revela, como se não fosse nada, o que qualquer pessoa de fora da seita já sabia: estamos tratando de um político irremediavelmente paroquial, que enxerga a política como uma oportunidade de amealhar riqueza e poder e, de quebra, se der, dar algumas migalhas aos amigos do peito.

O senhor obviamente vai seguir na vida pública. Olha só, eu fico até… Eu estava no CPAC [evento que reúne as maiores lideranças da direita do mundo] em março, lá nos EUA.

Eram mais de mil pessoas, o Trump estava. Quem ficou na frente inclusive pagou US$ 5.000. Eu não paguei porra nenhuma [risos].

Falei de improviso. Daí um macho lá gritou: “Eu te amo”. Na terceira vez que ele gritou, eu falei: “Eu sou o ex mais amado do Brasil, sabe” [risos].

E está acontecendo a mesma coisa aqui no Brasil. Eu estive agora dois dias em Porto Alegre. É um negócio que eu fico até… sai lágrimas dos meus olhos [de ver] como o pessoal gosta de mim. Quem sou eu?

Comentário: Você, Bolsonaro, é um deslumbrado sem a menor estatura pra exercer qualquer cargo público, quanto mais a presidência do país. O camarada pretende se cacifar para continuar na vida pública porque não pagou nada para participar de um evento da extrema-direita nos EUA, onde, oh meu Deus, “o Trump estava.” Se quiser aprender como um presidente deve se portar diante de potências estrangeiras, Bolsonaro, observe Lula. E tente disfarçar esse deslumbramento e sabujice ridículos porque dá vergonha alheia.

O senhor fica no Brasil de qualquer forma? Eu tenho um convite para trabalhar nos Estados Unidos. Lá vivem, eu calculo, 1.4 milhões de brasileiros. Não sei o número exato.

Mas um convite para fazer o que? Fui convidado para ser garoto propaganda lá.

É sério? De que? De venda de imóveis. Ih, um montão de coisa. Quando cheguei lá [em janeiro], eu saía de casa e tirava umas 400 fotografias. Fui numa hamburgueria e encheu de gente. Eu enchi a pança e não paguei nada. [risos]. O meu cachê foi comer de graça.

Comentário: O cidadão acabou de presidir uma das maiores economias do mundo e, agora, se jacta de ter ido em uma hamburgueria onde “encheu de gente” e depois não pagou a conta. É de uma pequenez monumental. E o ex-mito vai ser garoto propaganda de que produto? Hambúrgueres do bananinha? Serviços diversos da milícia americana? Vai lançar um curso sobre ‘como fazer rachadinha a vida inteira e ainda ter a cara de pau de posar como anticorrupto?’ Estou ansioso desde já para ver as peças publicitárias estreladas por Bolsonaro.

***

Para encerrar essa singela comemoração, uma última fake news – das grossas – de Bolsonaro, sobre o 8 de janeiro: “Está mais do que comprovado que o quebra-quebra foi do pessoal deles [apoiadores do atual governo].”

Não, não está. Está comprovado exatamente o contrário.

Não é maravilhoso que uma pessoa com tamanho ímpeto e facilidade para mentir de acordo com seus interesses mais mesquinhos esteja afastada, ao menos por 8 anos, de cargos públicos?

Está começando a ser reconhecido pela Justiça o seu golpismo, ex-presidente. Que suas mentiras compulsivas, sua desumanidade brutal e seus delírios autoritários não tenham, nunca mais, força para causar sofrimento às brasileiras e brasileiros.

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Pedro Breier

Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.

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Comentários

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carlos

23/04/2024 - 09h47

Ninguém é obrigado a concordar com ninguém, pois afinal temos que ter opinioes proprias, mas quem pensa o contrario, é maria vai com as outras, ha se fulano beltrano é tbm, nao é bem assim que a banda toca.

carlos

19/04/2024 - 08h23

Esse bolsonaro, é um vagabundo, pois o que é as milicias, sao nada nada menosdo que uma organizaçao para-militar,vedadas pela constituiçao federal, 1988 e esse vagabundo, ainda incentiva,o outro chalatao vagabundo a criar nas suas igrejas a mesma organizacao, e mais esse vagabundo receba dinheiro de origem duvidosa.

carlos

22/07/2023 - 14h07

A cara do narcomiliciano entrega, tudo que ele fez nos EUA não nega, abriu conta no banco do Brasil pra receber propina, sabotou a polícia Americana,mas agora vai pagar por tudo isso.

Tony

30/06/2023 - 22h43

Pedro Breier…kkkkkkkkk

Paulo

30/06/2023 - 19h01

Sabem o que é curioso: li a matéria do Pedro e concordei com tudo; mas, ao mesmo tempo, “mutatis mutandis”, se alguém estivesse dizendo o mesmo de Lula eu concordaria também…


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