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Barbárie: quem era o garçom assassinado pela PM em Guarujá

Filipe do Nascimento, de 22 anos, era um jovem que mantinha uma rotina impecável. Nunca deixava de comparecer ao trabalho e era sempre pontual. Era também reconhecido por sua conduta positiva, evitando falar mal dos outros e preferindo manter-se em silêncio na maior parte do tempo. Seu espírito brincalhão emergia quando interagia com os mais […]

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Imagem: Arquivo pessoal

Filipe do Nascimento, de 22 anos, era um jovem que mantinha uma rotina impecável. Nunca deixava de comparecer ao trabalho e era sempre pontual. Era também reconhecido por sua conduta positiva, evitando falar mal dos outros e preferindo manter-se em silêncio na maior parte do tempo. Seu espírito brincalhão emergia quando interagia com os mais jovens, enquanto sua personalidade, geralmente mais tranquila, dominava a maioria das situações. A descrição foi feita por Douglas Brito, comerciante do Guarujá, no litoral paulista, e ex-patrão do jovem Filipe, morto pela Polícia Militar (PM), na última segunda-feira (31).

O garçom foi assassinado durante a Operação Escudo, feita depois da morte do soldado Patrick Bastos Reis e que conta, até o momento, com 16 mortes confirmadas. Segundo a namorada do jovem, Filipe saiu de bicicleta para ir a um mercado próximo de sua residência, com a intenção de comprar macarrão. Após dois minutos ela escutou tiros.

“Ela relatou que, no mesmo dia, mais cedo, os polícias estavam fazendo patrulhamento no beco e bateram lá na porta. Ele atendeu, pediram documentos, ficaram conversando com ele. Ela falou que um dos PMs entrou dentro da casa dela — que estavam só as duas crianças, porque ele tinha saído para responder as perguntas de outros PMs”, afirmou o comerciante.

“A polícia lá dentro, por volta das 12h, ficou questionando as filhas dela se ele tinha alguma coisa guardada, o que que ele fazia, se ele usava alguma coisa de errado. Uma filha de 7 e uma de 9 anos, que eram enteadas dele. A filha dele mora com a avó materna em Pernambuco”, disse.

Douglas diz ter trabalhado ao lado de Filipe por 2 para 3 anos. “Ele recebia em dinheiro, ele não tinha conta. Ajudamos ele a tirar os documentos, abrir a conta. Do ano passado para cá que ele começou a receber Pix”, comentou. “Ele trabalhou esse fim de semana comigo, paguei ele no domingo (30). No dia seguinte, mataram ele”, disse Brito. 

De acordo com Douglas, embora Filipe tivesse uma passagem anterior pela polícia, ele desempenhava um papel ativo em sua equipe de trabalho. Douglas ressaltou que existem elementos sólidos que indicam que Filipe não estava envolvido em atividades ilícitas, citando fatores como preconceito e discriminação relacionados a histórico criminal e origem étnica como possíveis influências nessa percepção.

“Nessa Operação Escudo, muita verdade e muita mentira são misturadas, entendeu. Você é não sabe o que é verdade. O caso do Filipe, se eu não tivesse essas comprovações de pagamento, dele trabalhando… O pessoal que trabalha bem, eu mantenho na baixa temporada aqui, que nem ele”, afirmou.

Ainda segundo o comerciante, a mulher do jovem está emocionalmente desolada e receosa. Ela expressou sua intenção de retornar à sua cidade natal, mesmo considerando os desafios envolvidos. Ela mencionou suas preocupações com relação às condições de sua moradia e a escuridão do ambiente. Além disso, ela destacou que não se sente capaz de permanecer na região, especialmente devido à ampla atenção dada ao caso de Filipe. Ela valorizou a existência de evidências concretas de sua colaboração com a equipe de trabalho de Douglas.

Filipe do Nascimento era natural do estado de Pernambuco e não possuía laços familiares na cidade de São Paulo. O jovem deixou uma filha pequena e duas enteadas, ambas com idades de 7 e 9 anos.

O sonho arrancado

Filipe tinha o desejo de se tornar como criador de conteúdo nas redes sociais, sendo um usuário frequente tanto no TikTok quanto no Kwai, aplicativos de compartilhamento de vídeos. No final dos vídeos, o antigo garçom pedia aos usuários que o seguisse para crescer nas plataformas.

“Tá todo mundo ficando famoso. Vamos ver se consigo”, brincou Filipe em uma das publicações. O perfil também tinha vídeos de dança que eram frequentemente compartilhados, bem como pela exibição de artesanatos feitos por ele.

O posicionamento da polícia

O relatório de incidente que descreve os acontecimentos ligados ao falecimento de Filipe classifica o ocorrido como um caso de legítima defesa e morte decorrente de intervenção policial.

De acordo com o testemunho da polícia militar, os agentes adentraram uma viela no bairro Morrinhos 4 e foram confrontados por “um indivíduo [que] surgiu na porta com uma arma na mão”.

Nesse momento, um sargento que fazia parte da operação relatou ter efetuado dois tiros de fuzil a uma distância aproximada de 2,5 metros de Filipe. Ele também mencionou que um cabo ao seu lado também disparou.

Baseado nos relatos dos policiais militares, o registro documental menciona a presença de uma bolsa contendo substâncias entorpecentes no barraco onde Filipe estava no momento do incidente.

Conforme o boletim de ocorrência, foram confiscados um revólver calibre 38, uma pistola calibre 38 e nove pacotes de maconha, juntamente com as armas dos policiais que participaram da ação, incluindo pistolas e fuzis.

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