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Brasil, Irã e Estados Unidos: bastidores de uma diplomacia frustrada revelados por Paulo Nogueira

Relato inédito traz à tona desabafo de Lula em 2010 sobre tentativa de mediação internacional no programa nuclear iraniano e reforça desconfiança em relação à política externa norte-americana Em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva protagonizou um dos episódios mais ambiciosos da diplomacia brasileira: uma tentativa de intermediar um acordo entre Irã […]

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Paulo Nogueira expõe a conversa privada com Lula e reacende debate sobre o papel do Brasil nas grandes decisões geopolíticas do século XXI.
Negociação ignorada por Washington reacende desconfiança sobre a política externa dos EUA e reforça vocação do Brasil como mediador internacional / Reprodução

Relato inédito traz à tona desabafo de Lula em 2010 sobre tentativa de mediação internacional no programa nuclear iraniano e reforça desconfiança em relação à política externa norte-americana


Em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva protagonizou um dos episódios mais ambiciosos da diplomacia brasileira: uma tentativa de intermediar um acordo entre Irã e Estados Unidos sobre o programa nuclear iraniano. Ao lado da Turquia, o Brasil negociou com o regime de Teerã e chegou a apresentar uma proposta que, segundo Lula, atendia integralmente aos critérios estabelecidos em carta pelo próprio presidente dos Estados Unidos à época, Barack Obama.

O episódio voltou à tona por meio de um relato do economista Paulo Nogueira Batista Jr., então diretor executivo do FMI em Washington. Segundo Nogueira, em visita oficial a Brasília naquele ano, ele ouviu diretamente de Lula um desabafo emocionado sobre a postura dos Estados Unidos, que desautorizaram publicamente o acordo por meio da então secretária de Estado, Hillary Clinton.

“Lula estava indignado. Disse que o presidente Obama era uma espécie de ‘Mangabeira úmida’ e que não dava para confiar em sua palavra”, relembra Nogueira. A expressão faz alusão ao intelectual Mangabeira Unger, conhecido por seu pensamento sofisticado, mas por vezes desconectado da realidade prática – crítica comum também à diplomacia americana.

Segundo o relato, Lula não apenas se baseou na carta de Obama para negociar com o Irã, mas também tentou convencer o então presidente Mahmoud Ahmadinejad a aceitar os termos do acordo como forma de evitar sanções internacionais mais duras. “Ele usou a experiência de Cuba como exemplo e disse: ‘Não subestime o estrago que sanções prolongadas podem causar a um país’”, contou Nogueira.

A proposta, elaborada em conjunto com a Turquia, previa que o Irã enviasse parte de seu urânio enriquecido a território turco em troca de combustível nuclear para uso civil.

O gesto visava construir confiança mútua e abrir caminho para um acordo mais amplo. No entanto, após o anúncio do pacto, Hillary Clinton rejeitou publicamente o plano, minando a iniciativa e esvaziando o papel do Brasil na negociação.

Dias depois, a carta de Obama mencionada por Lula foi divulgada, confirmando que os termos propostos por Brasil e Turquia estavam de fato alinhados com o que havia sido sugerido pelos Estados Unidos — o que aumentou o constrangimento diplomático.

Passados mais de dez anos, Nogueira decidiu tornar público o relato por considerar que as lições daquele episódio permanecem relevantes, sobretudo diante das novas tensões envolvendo o programa nuclear iraniano.

Entre os aprendizados destacados, ele aponta três: o Brasil possui capacidade e legitimidade para atuar em temas internacionais de grande escala; o presidente Lula tem habilidade e interesse genuíno em exercer esse papel; e os Estados Unidos, na sua avaliação, demonstram um histórico de inconsistência e falta de confiabilidade em sua diplomacia, especialmente quando interesses estratégicos estão em jogo.

A tentativa frustrada de mediação de 2010 revela não apenas o papel que o Brasil aspirava exercer no cenário global, mas também os limites impostos por uma ordem internacional marcada por assimetrias de poder.

O episódio permanece como um marco da política externa ativa e altiva que o país buscava naquele período — e um lembrete de que, na arena da diplomacia, nem sempre a boa-fé é suficiente.

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