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A mídia esquece antigas alianças e entra na caça aos políticos, mas não os do PSDB

[s2If !current_user_can(access_s2member_level1) OR current_user_can(access_s2member_level1)] Espiando o poder: análise diária da grande imprensa Foto: Guito Moreto/Agência O Globo Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho A foto aí de cima estampa as capas do Globo e da Folha de São Paulo de hoje. O Estado de São Paulo vem com outra imagem do ex-governador do Rio […]

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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa

Foto: Guito Moreto/Agência O Globo

Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho

A foto aí de cima estampa as capas do Globo e da Folha de São Paulo de hoje. O Estado de São Paulo vem com outra imagem do ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral Filho, entrando no complexo penitenciário de Bangu, ao lado de outro ex-governador, Anthony Garotinho, esperneando na imagem de Alexandre Cassiano, do Globo, que vai aqui embaixo. A mídia familiar esquece alianças duradouras e lembra de outras esporádicas para continuar a confundir a população. O Globo, por exemplo, que apoiou Cabral incondicionalmente durante seus dois mandatos, diz numa das onze páginas sobre o assunto que “aliados, agora, negam antiga proximidade”. Não há menção na matéria, logicamente, ao apoio irrestrito que o próprio jornal deu ao ex-governador, fazendo vista grossa às estripulias que ontem causaram sua prisão, conhecidas há tempos. Cabral é do mesmo PMDB de Michel Temer, Eduardo Cunha, Moreira Franco et caterva. O filho dele, Marco Antonio, deixou seu cargo no governo estadual para votar pelo impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, mas é ela, Dilma, que aparece no texto como aliada do ex-governador. E a manchete de ontem do Estadão, sobre suspeitas em obras da gestão de José Serra em São Paulo, já sumiu do noticiário, e na Folha a chamada de capa, ao lado da foto de Cabral preso, avisa que “TJ também absolve os acusados no caso da cratera do metrô”.

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Ainda que justas, a de Cabral principalmente, as prisões fazem parte da estratégia de fim de mundo do golpe, de caça aos políticos no caminho para o que o jornalista Luis Nassif chama de “esfacelamento total da República”, em seu “xadrez da guerra mundial entre os poderes”. Segundo Nassif, a crise fiscal obriga o governo a impor sacrifícios, que recaem sobre os mais fracos, “poupando os grandes marajás dos setores político, público e Jurídico” enquanto “denúncias continuarão a fluir da Lava Jato.”

Junte-se a tudo isso uma “política econômica que, para desconstruir a Constituição de 1988, não vacilará em aprofundar a crise, através dos instrumentos fiscais e monetários”, e está criada a “situação de absoluta instabilidade, das quais agentes oportunistas tentarão se valer de uma forma ou de outra”. “Em qualquer hipótese, a falta de qualquer projeto da parte dos vencedores em breve os obrigará a ampliar os avanços inconstitucionais”, alerta o jornalista.

O Globo chega a fazer graça com o assunto na manchete dizendo que “Cabral é descoberto”. “Corrupção teria desviado 224 milhões”, diz uma das três chamadas grandes embaixo do título. As outras afirmam que “‘oxigênio’, ou mesada, era de até R$ 500 mil”, e que “propina pagou joias, lanchas e vestidos de luxo”. Embaixo, no pé da primeira página, oito colunistas do jornal dão suas opiniões sobre o assunto, e o primeiro deles, da esquerda para a direita, é Merval Pereira, a ressaltar na capa o “estado quebrado na economia e acéfalo politicamente”.

“Estado acéfalo” é o título da coluna em que Merval diz que “a prisão do ex-governador Sérgio Cabral, chefe do grupo político do PMDB que governava o Estado do Rio e sua capital há quase uma década, é um golpe praticamente fatal na capacidade do governador Pezão de negociar um arrocho nas contas públicas do Rio”. O colunista também nos faz lembrar das coberturas da Globo nas tomadas dos morros cariocas pela polícia, em clima de vitória final, de apoio total ao governador e seu projeto contra o tráfico de drogas, ao dizer que “também deve-se à corrupção no primeiro escalão dos governos de Sérgio Cabral o fracasso do projeto de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs)”.

De todo o time de colunistas do jornal carioca, Fernando Gabeira é o que fala mais claramente (no texto em que o título pergunta se “Cabral chegou por acaso?”) que “os indícios de que Cabral enriquecia e os habitantes do estado ficavam mais pobres não datam de hoje, quando se tornaram escandalosamente visíveis”. “As imagens que se repetem hoje, dos homens usando guardanapos na cabeça após jantares luxuosos, ou das mulheres ostentando os sapatos Christian Louboutin, foram divulgadas há alguns anos”, afirma.

Gabeira, no entanto, também parece se esquecer que durante todo esse tempo o jornal para o qual escreve, silenciado por anúncios fundamentais em tempos de crise também na imprensa tradicional, deixou o então governador quieto. “Nada acontecia com Cabral. Aqui e ali, vazamentos de delações premiadas indicavam seu nome. Mas até algumas semanas atrás ele dizia que tinha tudo para andar nas ruas de cabeça erguida”, afirma o colunista, que não deixa de citar a obsessão maior da grande mídia ao dizer que Cabral, “além disso, era o amigo de Lula, o homem que ordenava as obras federais.”

Preocupado ultimamente em saber como começou o relacionamento do presidente Michel Temer com a primeira-dama, Marcela, Ricardo Noblat se concentra em Dilma no texto de hoje, em que pede o afastamento do governador atual do Rio de Janeiro gritando no título “Peça as contas, Pezão!”. “A prisão de Sérgio Cabral promoveu o governador Luiz Fernando Pezão à condição de Dilma do Rio de Janeiro”, diz o colunista. Ele lembra do mensalão, da compra da refinaria de Pasadena, no Texas, mas não lembra que Cabral, na eleição de 2014, votou em Aécio Neves.

Na Folha, Hélio Schwartsman afirma na capa que “população do RJ ganha uma dose de justiça poética”. É esse, aliás, “Justiça poética”, o título do artigo em que o colunista diz tudo o que aconteceu nesse episódio, direitinho, como se não soubesse de nada. “Não sei se o ‘timing’ das operações policiais foi ajustado para coincidir com o agravamento da crise. Também não sei se as prisões preventivas, que em tese servem apenas para garantir o bom andamento do processo, não para punir criminosos, foram aplicadas segundo a melhor interpretação da lei”, afirma Schwartsman.

O que ele diz saber é “que o encarceramento dos ex-mandatários, especialmente o de Cabral, oferece à população fluminense um pouquinho de justiça poética”. “Num momento em que autoridades propõem cortar até um terço dos salários e aposentadorias dos servidores públicos, não deixa de ser reconfortante ver pelo menos um dos responsáveis pelo descalabro econômico sofrer um pouquinho”. E assim, extasiada com tanta justiça poética, a celebrar a prisão que deveria ocorrer ha três anos, pelo menos, a população nem percebe a marcha do golpe a cortar-lhe salários, empregos e benefícios, sem mexer nos ganhos dos mais ricos.

Para Nassif, a escolha do momento para as prisões, “o show completo, com policiais armados, cobertura integral da Globo, em um momento em que a Assembleia Legislativa planeja jogar a conta sobre os mais fracos, e o Senado endurece com o Judiciário, abre a garrafa completamente e deixa escapar o gênio da rebelião popular”. “Montaram em um barril de pólvora, com a criminalização final da classe política”, conclui Nassif, e no Globo, na coluna Panorama Político, Ilimar Franco mostra a nova tendência para as próximas eleições, se é que elas ocorrerão.

“Novos tempos, novas expectativas” é o título da nota na qual Ilimar conta que “conselheiros do presidente Temer avaliam que os últimos acontecimentos, envolvendo Sérgio Cabral, reforçam na sociedade a busca de candidatos que não tenham perfil político (João Doria) ou que passem a imagem de novidade (Marcelo Crivella, Alexandre Kalil e Marchezan Jr.)”.

Em outra página do Globo, Marco Aurélio Ruediger, sociólogo e diretor da Fundação Getulio Vargas (FGV) publica o artigo “A emergência de uma nova política”, em que afirma que “os acontecimentos que têm vindo à tona nos últimos tempos são, nesse sentido, apenas mais um episódio do processo de aumento da insatisfação social com o sistema político, refletido em uma aguda corrosão da confiança que já ameaça atingir as próprias instituições da democracia.”

Ilimar Franco completa dizendo que “Temer fez essa aposta ao lançar o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, para o governo paulista. Nesse contexto, integrantes do PMDB querem subir, desde já, no projeto do governador Geraldo Alckmin. Ele seria quem melhor se identifica com o figurino exigido pelos eleitores: um gestor que não tenha o perfil de um político tradicional.”

Vice-governador de Mário Covas, eleito por três vezes governador de São Paulo, candidato à Presidência derrotado por Lula em 2006, Alckmin é, agora, somente um gestor, sem perfil político. Um gestor que deixa seu estado sem água, cujo partido está envolvido em esquemas continuados de corrupção como o do metrô paulista, mas que não é incomodado pela mão de ferro do Judiciário, como mostra a decisão publicada na capa da Folha, também no Estadão.

“A 7.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo manteve a decisão de 1.ª instância ratificando a absolvição criminal de 12 técnicos e engenheiros acusados como responsáveis pelo acidente nas obras da Linha 4-Amarela do metrô, em 2007”, afirma o Estado de São Paulo, que completa lembrando que “sete pessoas morreram após a abertura de uma cratera durante a construção da Estação Pinheiros. Dois desembargadores votaram pela manutenção da decisão e outro votou contra.”

Ainda segundo o Estadão, “Para o desembargador Fernando Simão, as provas apresentadas eram ‘frágeis’. ‘Uma condenação, com preocupação em dar satisfação social, diante de tamanha tragédia, por si, não se justifica. Em matéria penal, a procedência da denúncia apenas pode ter lugar em face das provas incriminadoras, não afetadas por mínimo resquício de dúvida. Não é o que acontece aqui’, sustentou em seu voto como relator da apelação.”

O jornal paulista termina contando que “o magistrado concluiu que, assim, é ‘imperativa a aplicação do in dubio pro reo’, princípio jurídico que prevê absolvição do acusado diante de ‘fundada dúvida’ sobre a prática. E no seu xadrez de hoje, Nassif ressalta que “há uma aliança clara envolvendo o PSDB-Globo-STF-PGR. E um conjunto de circunstâncias que irá definir se, nos próximos meses, avançará o golpe no golpe.”

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Luis Edmundo

Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

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Comentários

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André Monteiro

19/11/2016 - 01h02

Cabral está lembrando Odorico Paraguaçu quando inaugurou o cemitério que mandou construir.

Torres

18/11/2016 - 20h05

Oras, não existiu partido que mais apoiou o PMDB, e Cabral, do que o PT e Lula.
Cabral apoiou Dilma até onde deu.
E agora, esses velhos aliados dizem nunca terem sido aliados.
Discurso igual ao da Globo.

    André Monteiro

    19/11/2016 - 01h03

    Torres, mas seja justo, tem que lembrar que o PMDB traiu o PT. Foi uma traição monumental e aliou-se ao PSDB. Isso é um fato!

      Torres

      19/11/2016 - 01h56

      Sim, vamos lembrar.
      O PT se aliou ao PMDB.
      Renan, Jucá, Sarney, Cunha, Cabral…
      Todos eram aliados do PT.

        Antonio Serrano

        19/11/2016 - 13h13

        Sim! O mesmo PMDB que apoiava FHC e o governo do seu PSDB e que agora ficou com o papel menor de realizar o serviço sujo para o mesmo PSDB ou já esquecestes que Renan foi ministro da justiça, Sarney um dos líderes no congresso no governo do “impoluto” ? Só se tornaram figuras execráveis na tua ótica e discurso depois de participarem do projeto político do PT?

        André Monteiro

        20/11/2016 - 11h27

        Ninguém está negando isso, Torres. O PT aliou-se, sim. Mas o PT não se aliou para ser traido. Quando se é traido perde-se completamente os laços.

          Torres

          20/11/2016 - 11h40

          O PT se aliou à bandidos para roubarem juntos.
          Eles confiaram no PMDB?
          Burros!

carlos

18/11/2016 - 16h08

https://youtu.be/LOvRnZwkHo8


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