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Terceirização no setor petróleo: na prática, escravidão

Por Tadeu Porto*, colunista do Cafezinho Resgatei aqui um texto meu de abril de 2015, no Brasil Debate, onde estava esbravejando contra o PL4330, sem saber que o Golpe brasileiro me daria ainda mais desgosto. A terceirização irrestrita foi uma das grandes responsáveis pelo afundamento da P-36 e os trabalhadores e trabalhadoras do setor petróleo […]

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PETRO9 MACAE 18/03/2001 GERAL OE JT PLATAFORMA-ACIDENTE EQUIPES TRABALHAM PROXIMO A PLATAFORMA P36 NA BACIA DE CAMPOS TENTANDO EVITAR O AFUNDAMENTO FOTO DIGITAL POOL TASSO MARCELO-AE 5.70 MB

Por Tadeu Porto*, colunista do Cafezinho

Resgatei aqui um texto meu de abril de 2015, no Brasil Debate, onde estava esbravejando contra o PL4330, sem saber que o Golpe brasileiro me daria ainda mais desgosto. A terceirização irrestrita foi uma das grandes responsáveis pelo afundamento da P-36 e os trabalhadores e trabalhadoras do setor petróleo jamais vão esquecer essa atrocidade. Segue o texto:

 

Terceirização no setor petróleo: na prática, escravidão

De vez em quando, me aventuro a assistir à TV câmara. Confesso que considero um bom exercício de política, afinal, é difícil ver tantas táticas de manipulação do discurso em um só lugar! Às vezes, penso que, se tirarmos os fatores hipocrisia e demagogia, daria para abreviar um dia inteiro de cobertura televisiva em uma coluna de jornal.

De todo o desconforto que já senti vendo o canal do Legislativo, nada se compara ao sofrimento que tive ao assistir, in loco, as votações do PL da escravidão, também conhecido como projeto de lei 4330/04. Como um bom fã do seriado Lost, eu estava mesmo aguardando um desastre para o dia 08/04/15, mas não esperava tamanho golpe (num certo momento de alucinação causada pela dor, acredito ter visto “o monstro” sair da sua forma de fumaça negra e se materializar no presidente da Câmara).

Sei que pode parecer exagero, mas realmente me fez mal ver aquela votação e aqueles discursos pavorosos. Foi um misto de dor no estômago e ardência nos olhos que me causavam uma angústia tremenda. Isso acontece porque, como sindicalista e petroleiro, conheço de perto mazelas da terceirização que são impossíveis de ignorar. E um pouco delas eu gostaria de compartilhar nesse texto.

Sabemos dos dados gerais que demonstram a precarização do trabalho mediante o uso desenfreado da terceirização. Graças ao Dieese e à CUT, que já fizeram um ótimo trabalho denominado Terceirização e desenvolvimento: uma conta que não fecha, temos acesso a uma série de números qualificados que demonstram o desastre que é terceirizar.

Basicamente, podemos dizer que, na época do estudo (dezembro de 2013), os 12 milhões de trabalhadores terceirizados recebiam cerca de 25% a menos que os primarizados, e ainda tinham um uma jornada semanal de três horas a mais. Sem contar a maior suscetibilidade a acidentes de trabalho e os inúmeros benefícios que recebem a menos. São números e fatos que devem preocupar a sociedade, nesse momento de sanha do Legislativo para aprovar tal retrocesso.

E no setor petrolífero não é diferente. A começar pelos trabalhadores terceirizados offshore, que possuem uma escala de trabalho inferior (14 dias de folga para 14 trabalhados) comparados com empregados próprios da Petrobras (21 dias de folga para 14 trabalhados). Na ponta do lápis, primarizados têm cerca de 30 dias (um período de férias) a mais de descanso por ano, para se dedicar a filhos e filhas, netos e netas, pais que necessitam de cuidados e ao seu próprio lazer.

Além de uma jornada de trabalho mais justa, podemos citar, também, o benefício da estabilidade no emprego, mesmo não sendo prevista pela lei (empregados capital misto não são estatutários) e sim garantida pelas forças dos sindicatos da categoria.

Por exemplo, se verificarmos as demissões em massa ocorrendo no setor de petróleo, veremos que os empregos diretos dos funcionários próprios da Petrobras não são afetados, e que praticamente toda a crise do setor óleo e gás está sendo descontada nos trabalhadores terceirizados.

Mas de todas as adversidades que conseguimos apontar, os acidentes de trabalho são as piores, pois muitas vezes eles levam a um caminho sem volta, que é a morte. Mais de 80% dos óbitos em serviço nas duas últimas duas décadas no sistema Petrobras foram de terceirizados. Sem contar, ainda, os inúmeros acidentes que envolvem afastamentos que prejudicam toda a vida desses trabalhadores, ademais se considerarmos a imensa dificuldade que os mesmos terão para acessar os benefícios que garantam a sua saúde ocupacional.

Um exemplo bem prático da linha tênue que separa a morte e a terceirização é o último grande acidente do setor e petróleo que tivemos aqui no Brasil, a explosão do FPSO Cidade de São Mateus, um navio-plataforma fretado pela Petrobrás.

Sabemos que as investigações devem ser feitas pelos órgãos pertinentes e aguardamos os veredictos institucionais acerca do assunto. Todavia, pelo andar da carruagem, é possível inferir com uma margem considerável de probabilidade, que a BW offshore foi negligente com a segurança em sua plataforma, usando, segundo relatos, uma estratégia que pode ser classificada como assédio moral ao seu cipeiro.

Desse exemplo, podemos abstrair o caminho da morte que é simplificado pela terceirização e talvez explique esse dado alarmante de acidentes fatais envolvendo não primarizados:

Um trabalhador consegue encontrar um problema (vazamento recorrente), todavia, para saná-lo, parte do lucro da empresa será prejudicado (parar uma plataforma). Deve existir, assim, uma correlação de forças para que esse empregado possa ter a possibilidade de enfrentar os interesses predominantemente financeiros da empresa [Afirmo aqui que “o mercado” não liga pra mortes. Mesmo com toda a instabilidade da Petrobrás na bolsa nos últimos meses, alguém aí viu as ações dela caírem por causa de mortes na sua cadeia produtiva? Pois é, nem eu].

O assédio moral (afastamento do empregado) é uma ferramenta forte que a empresa tem para vencer essa batalha contra o coletivo de trabalho e, aliada a baixa estabilidade e ao enfraquecimento sindical, características inerentes da terceirização, poucos arriscarão essa velha luta contra o capital. Por conseguinte, a empresa acaba ganhando essa batalha e a saúde do empregado, muitas vezes, é menos importante que o lucro do empregador.

Por fim, fica o ensinamento que o mercado de óleo e gás nacional nos apresenta: terceirizar, em resumo, é cortar benefícios, explorar a carga de trabalho e ceifar vidas.

Aparentemente – e infelizmente – o mesmo dinheiro que faz as empresas terem vistas grossas à saúde do assalariado chegou com intensidade ao Legislativo e faz nossos representantes escolherem o empresariado, em detrimento aos trabalhadores (a palavra achacadores nunca fez tanto sentido). Resta a nós, a difícil (mas não impossível) luta de pressionar ao máximo nossos políticos para que esse retrocesso não aconteça, mostrando a nossa vontade de derrubar esse projeto

*Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense. Sigam-o no Facebook! :)

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Tadeu Porto

Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil

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Vamos rezar…

26/03/2017 - 23h20

Além das repercursões negativas na qualidade do trabalho, na saúde e vida do empregado de ultima instância na relação de contratação, há o perigo iminente do desastres ambientais de onerosos e difíceis controles.

Narebarros

25/03/2017 - 21h53

A FUP junto com a CUT em vez de defender os trabalhadores estão defendendo a tomada do poder pelo PT.
O Ispis deveria se impor e rejeitar que a FUP seja usada para a tomada de poder pelo PT.
A FUP está traindo a categoria quando para preservar o PT impede a categoria petroleira a não defender os seus direitos, traindo várias vezes e não havendo uma grave nacional ou pior traído os petroleiros e fazendo de tudo para interromper graves por melhoria a todo corpo petroleiro.
O culpado desta terceirização ou escravidão é a CUT, FUP e PT que não lutam pela categoria petroleira.
Quando as vaidades pelo poder terminar e o trabalhador estiver em terra arrasada de seus direitos talvez os algozes se unam, mas poderá ser tarde demais… Parabéns aos algozes…
Não sei como os sindicalizados da Petrobras ainda mantém esse câncer nos seus sindicatos….

Katinha Ladeira

24/03/2017 - 15h22

Isto n e terceirizacao e ESCRAVDAO

Luiz Carlos P. Oliveira

24/03/2017 - 11h18

SALMONIX NIC: O projeto da Dilma era bem diferente deste. Vai ler mais, sua anta.
* Mistura de salnonella com onix.

Luiz Carlos P. Oliveira

24/03/2017 - 11h15

Afinal, alguém pagou o prejuizo sofrido pela Petrobrás pelo afundamento da P36 ou ficou assim mesmo? Como era o FHC na presidência, a imprensa se calou. Imaginem se acontecesse o mesmo no Governo Lula ou Dilma. O que a imprensa diria? Claro, que o culpado era o Lula. Nada mais odioso do que essa imprensa canalha e mentirosa.

Chamonix Nic

24/03/2017 - 11h10

DILMA E PT DEFENDERAM ESSA LEI COMO A UM FILHO NESSE VÍDEO!
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=807999829349005&id=211857482296579

Marília Braga

24/03/2017 - 11h08

A ignorância de um povo é causa e fonte de sua própria miséria moral, material, social. Todos somos atingidos e continuar nos agredindo procurando os culpados não vai mudar em nada o cenário político brasileiro. Temos que unir forças contra essa bandidagem política podre instalada no poder e somente o povo é capaz de mudar isso. Ah!…”SE O POVO SOUBESSE O PODER QUE TEM”…mas unido, separado não tem poder nenhum!!

    Vinicius Pires

    24/03/2017 - 20h05

    Mas, que os coxas são os culpados, são. Rsrsrs

    Elga Lindgren

    25/03/2017 - 15h10

    O problema é o ódio contra a esquerda que foi implantado justamente com esse objetivo: dividir a força do povo. Implantado e lamentavelmente assimilado e reforçado constantemente pela mídia e grupos como MBL, MCC, etc… A extrema direita no Brasil está muito semelhante ao fascismo. É muito ódio.

Nilson Baptista Junior

24/03/2017 - 05h29

Puttzzz…analfabetismo não é doença, mas tem cura…traduza.

Eva Adão Silva

24/03/2017 - 04h05

Esses entreguistas apátridas são a escória da humanidade!

Andre Massao Noce

24/03/2017 - 03h51

KKKKKKKKK… prove o que fala golpista… ou vai ficar nessa falácia…

Paulomaia Maia

24/03/2017 - 01h52

Nelson Rodrigues Pregnolatto

23/03/2017 - 22h48

Todos alarmados contra a terceirização, contudo outras afrontas virão, como aumento de impostos, fim de aposentadoria, etc…. São afrontas NORMAIS pra GOVERNO GOLPISTA! Sugiro assim, já que todos partidos de esquerda, a CUT, a UNE, o MST, o MTST, ETC… ACEITARAM O GOLPE, e NÃO CHAMAM O POVÃO TODO pra tirar esses GOLPISTAS DE BRASÍLIA, que a gente vá se acostumando, na boa. .. alguém aí acha que negociar com GOLPISTA trará Lula 2018, com o queremos? A direita deu esse golpe todo pra dar esse mole pra Lula? Ou tiramos os GOLPISTAS DO PODER, ou vamos virar mansos cordeirinhos! Funciona assim!

Mário Santos

24/03/2017 - 00h34

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Laercio Ferreira

24/03/2017 - 00h27

O PRÉ SAL , A PETROBRAS ´É UMA DAS MAIORES EMPRESA ESTATAL DO PLANETA , LUCRO CERTO A COLÔNIA , ATÉ O PSDB , ATRAVÉS DO SERRA NUM PROJETO DE PARTILHA ENTREGOU O PATRIMÔNIO A EXXON AMERICANA, DISTRIBUIDORA DE ÓLEO E GÁS , E AS RIQUEZAS DO SOLO ESVAIU-SE COM APOIO DO CONGRESSO DESNACIONAL DO BRASIL DOS EUA??

    Perlii Gomes Filho

    24/03/2017 - 00h36

    Vão terceirizar a PM

Laercio Ferreira

24/03/2017 - 00h21

ISTO QUE FOI APROVADO NA EMPRESA TRANSNACIONAL DO CONGRESSO DO BRASIL DO EUA, NÃO É TERCEIRIZAÇÃO , ,E PURA PRIVATIZAÇÃO , ESCRAVIDÃO, POIS UM A EMPRESA, QUE TEM O DIREITO DE TERCEIRIZAR ,TODOS OS SETORES DA INDÚSTRIA, DO CHÃO ATÉ SUA DIRETORIA FOI PRIVATIZADA , SEM PUDOR AOS CAPITAIS PRIVADOS ,/ SÓ RESTA O DONO DA EMPRESA??

    Perlii Gomes Filho

    24/03/2017 - 00h36

    Vão terceirizar a PM

    Laercio Ferreira

    24/03/2017 - 00h44

    AÍ O BICHO PEGA , A PM SÃO INSTITUIÇÃO PÚBLICAS , COM SERVIDORES PÚBLICOS FARDADOS , ARMADOS ATÉ OS DENTES, PAGOS PELOS GOVERNADORES DE ESTADO ,E DA, FEDERAÇÃO ,PAGOS COM DINHEIRO DO POVO? MEU CHAPA PM , PF ,SÃO PROTEÇÃO DAS ELITES POLÍTICAS , SÃO BALAS DE BORRACHAS E TIROS PRA TODOS LADOS??


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