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Wanderley: governo superestima propaganda de TV

Mais uma arguta análise do professor Wanderley Guilherme, trazendo alguns alertas importantes ao governo. Após observar que o governo encontra-se sob peculiar “sítio econômico e político”, ele ressalta que também é “peculiar” a passividade com que o governo assiste a este ataque. Especula-se que a presidenta “confia no poder persuasório de sua administração”, mas essa […]

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Mais uma arguta análise do professor Wanderley Guilherme, trazendo alguns alertas importantes ao governo. Após observar que o governo encontra-se sob peculiar “sítio econômico e político”, ele ressalta que também é “peculiar” a passividade com que o governo assiste a este ataque.

Especula-se que a presidenta “confia no poder persuasório de sua administração”, mas essa postura de “platonismo político”, argumenta o autor não serve ao momento atual.

O texto de Wanderley repete, com outras palavras, a teoria do “apagão político” que parece acometer o governo, apagão que parece derivar, paradoxalmente, da sólida estrutura do partido político dominante. Como o PT é a legenda que goza da maior quantidade de doações, fundo partidário, dízimos, e terá, nestas eleições, o maior tempo de TV, a cúpula partidária parece achar que a propaganda televisiva, quando entrar, será suficiente para uma vitória eleitoral. Com este pensamento, prefere não reagir, ou até mesmo recuar, indefinidamente, de qualquer embate contra os setores mais duros da oposição, como a mídia.

Entretanto, o professor reitera seu apoio ao governo Dilma, e apresenta razões para isto. Foi durante a sua gestão, e na anterior, de Lula, que se viu o maior crescimento da participação do trabalho na renda nacional.

Após ler o texto, conclui-se, rapidamente, que Wanderley também se uniu à campanha pela democratização da mídia, e que a comunicação do governo não veja apenas na forma de propaganda eleitoral. O governo federal tem de interagir com a população, o ano inteiro, reagindo, interagindo, provando, “partindo pra cima”.

Ele lembra ainda que a “propaganda de TV” decida pelos demais partidos em favor do PT não significa estabilidade após as eleições, e a propaganda cedida por legendas alheias não garante coesão na votação das reformas.

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“O governo Dilma Rousseff está sob peculiar sítio econômico e político. Peculiar porque não resulta de ações coordenadas e impostas por documento público, mas da convergência de decisões privadas. Peculiar, igualmente, tem sido a reação governamental, ou antes, a passividade com que assiste à reiteração dos movimentos sitiantes. Cochicha-se que a presidenta confia no poder persuasório de sua administração, a ser comprovado pelos resultados de pesquisas pós- propaganda televisiva. Com certeza seria, caso o sítio nascesse em berço de ignorância e não em interesses ilustrados. O platonismo político em que a verdade comanda a virtude não se aplica ao momento nacional (…)

“A estratégia de vencer as eleições privilegiando de forma extremada a propaganda televisiva impôs pesado ônus político à administração atual: o de aceitar indicações e alterações em políticas de governo, embora não as sociais, em troca de tempo de televisão.”

O GOVERNO DILMA ESTÁ SITIADO

Por Wanderley Guilherme dos Santos, na Carta Capital.

O governo Dilma Rousseff está sob peculiar sítio econômico e político. Peculiar porque não resulta de ações coordenadas e impostas por documento público, mas da convergência de decisões privadas. Peculiar, igualmente, tem sido a reação governamental, ou antes, a passividade com que assiste à reiteração dos movimentos sitiantes. Cochicha-se que a presidenta confia no poder persuasório de sua administração, a ser comprovado pelos resultados de pesquisas pós- propaganda televisiva. Com certeza seria, caso o sítio nascesse em berço de ignorância e não em interesses ilustrados. O platonismo político em que a verdade comanda a virtude não se aplica ao momento nacional, exasperado pelas novidadeiras convocatórias às manifestações sem lideranças responsáveis.

A expansão do mercado de trabalho depende da taxa de investimento da economia e, esta, cabe ao empresariado privado proporcionar. Como se sabe, os industriais se mostram presas de paralisia decisória, insensíveis aos incentivos de toda ordem que o governo lhes acena. Segundo a interpretação corrente, trata-se de intensa aversão ao risco, causada por suposta insegurança jurídica, embora se leia diariamente que o governo reconsidera contratos sempre conciliando em favor dos investidores privados. O fluxo de recursos externos é um nervo exposto nessa matéria e nada indica que tenha estancado ou sofrido redução extraordinária. A charada pode ser outra.

Ainda que a taxa de retorno sobre o capital investido seja superior à taxa de crescimento econômico em alguns setores, nem por isso o empresariado brasileiro está satisfeito com o crescimento da participação da renda média do trabalho, especialmente neste período de modesta expansão da economia. De acordo com o dernier cri europeu, o volumoso O Capital no Século XXI, de Thomas Piketty, é em períodos de morno desempenho que o capital consegue obter retornos superiores à taxa média de expansão da economia (sendo outro bônus a redução do crescimento populacional), que é o que dá dinamismo à subseqüente concentração de renda. No Brasil, depois do período de elevadas taxas de crescimento (governos Lula) em que cresceu a participação do trabalho na renda nacional, é plausível que os proprietários esperassem se apropriar, como no passado, de fatias maiores da renda. Redução das taxas de crescimento econômico e populacional tem sido o azeite do mecanismo de concentração da renda. Quer dizer, na ausência de políticas sociais re-distributivas.

E eis que o governo Dilma Rousseff, enfrentando as dificuldades da crise global, mais do que preservar as políticas de seu antecessor, criou novos programas de redistribuição. Com isso, a participação do trabalho na renda nacional continuou aumentando, enquanto a diferença entre a população mais pobre e o 1% mais rico da população prossegue na extraordinária queda inaugurada durante os governos Lula da Silva. Em estudo para o IPEA (publicado em agosto de 2011), Marcio Pochman encontrou que, entre 1960 e 1970, a renda média per capita do país cresceu à taxa de 4,6% ao ano, mas a participação do rendimento do trabalho na renda nacional caiu 11,7% entre um ano e outro. Durante o período da retração dos 80 e dos governos de Fernando Henrique Cardoso, entre 1981 e 2003, o crescimento da renda média per capita brasileira não ultrapassou pífios 0,2% ao ano e, pior ainda, a participação do trabalho na renda nacional desmoronou 23%. De 2004 a 2010, ao contrário, a média da renda per capita aumentou em 3,3% ao ano e a participação do trabalho na renda nacional cresceu 14,8%. Os empresários esperavam outra coisa.

Não houve martírio empresarial em todo o período. Mas apenas razoável e não-inflacionária taxa de lucro marginal, além de apetitosa taxa de juro no mercado financeiro, ilumina as razões da chamada aversão ao risco dos empreendedores. Explicam também porque os editais de concorrência de investimentos estatais se vêm repetidamente pressionados por demandas de maiores recompensas ao investimento. É o sítio em funcionamento.

A estratégia de vencer as eleições privilegiando de forma extremada a propaganda televisiva impôs pesado ônus político à administração atual: o de aceitar indicações e alterações em políticas de governo, embora não as sociais, em troca de tempo de televisão. Cada meia dúzia de votos na Câmara não vale muito em meio aos 513 deputados e nem sempre votam, como combinado, com o governo. Tudo é relevado diante dos dois segundos a mais de televisão apropriados pelo governo para uso futuro na campanha presidencial. O lado malicioso dessa acumulação (que Piketty chamaria de “a acumulação infinita” de Marx) consiste na redução do tempo disponível aos demais candidatos. Tempo de televisão é recurso escasso e obriga a um jogo de soma zero: o que um candidato ganha os outros perdem. Ao contrário da economia em que todos podem ganhar, embora uns mais do que outros – ganhava mais o lado do capital até a Era Lula, quando se iniciaram os ganhos maiores do trabalho – o tempo de televisão é dolorosamente finito e inferior às demandas dos candidatos. No tempo de televisão está a chave do sítio político que os partidos sustentam face ao governo.

O custo do acordo tem ocasionado embaraços de comportamento à administração Dilma Rousseff. Programas de investimento e execução ficam aquém do esperado, e nisso cabe responsabilidade também aos órgãos de fiscalização do governo constituídos por apontamento partidário. Não é por serem partidárias que as nomeações são indevidas, mas porque o retorno crucial se conta em segundos de televisão, não em trabalho profícuo. Por isso os partidos sitiam o governo e por isso se esclarece a submissão dos sitiados.

Durante o período efervescente que se aproxima, com Copa e outros eventos midiaticamente controversos, parte importante da qualidade da segurança, do transporte e dos serviços dependerá de governos estaduais e municipais. Espera-se que a oposição não aproveite as oportunidades para a acumulação de notoriedade, via violência, à falta tempo de televisão.

uipi-PAC-e-políticas-sociais-devem-ampliar-renda-do-trabalhador

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Sidnei Brito

20/05/2014 - 15h24

Por falar em medo, fiquei assustado com o texto do professor Wanderley. Sensação bem diferente do prazer que sempre sinto.

É que na mesma CartaCapital, no primeiro semestre de 2010, o mestre escreveu um texto que, lido uma semana após o pleito daquele ano, não parecia uma análise, mas, sim, uma profecia.

Espero que ele esteja menos certo agora!

De qualquer forma, acho que aqui no Cafezinho mesmo, eu já havia demonstrado certo desconforto com essa confiança do staff de Dilma na campanha de TV.

É bom o pessoal já ir pensando no assunto. Talvez não nesta eleição, mas em pouco tempo a propaganda eleitoral vai deixar de ter a importância que ainda ostenta.

Já há sinalizações, como, por exemplo, a queda livre dos telejornais, especialmente o Jornal Nacional. Isso se dá porque a maioria tem preferido se informar pela internet ou acompanhar a repercussão do que acontece nas redes sociais, em alguns casos supervalorizando as postagens de seus contatos (o que, diga-se, nem sempre – aliás, em boa parte das vezes não – é bom.

Se o cara não quer ver nem telejornal, não é disparatado acreditar que vá dar menos pelota ainda para o programa eleitoral, não?

Portanto, Miguel, você está corretíssimo em sempre chamar a atenção que a briga comunicacional tem que se dar a todo momento e em todas as mídias. Nada de apanhar calado durante três anos e oito meses, acreditando que vai colocar pingos nos “is” em dois ou três meses de campanha na TV.

Não nos esqueçamos que em 2010 Dilma tinha um tempo de TV consideravelmente maior do que Serra e absurdamente maior do que Marina. Não adiantou muito, pois a pendenga foi para o segundo turno e, lá, o tempo de TV é igual, não importando quantas almas foram vendidas ao diabo para se conseguir o apoio.

Seria ótimo não depender da TV para correr atrás do tempo perdido. Até a qualidade das alianças melhoraria.

Guilherme Scalzilli

20/05/2014 - 10h41

O discurso do medo

A mídia tucana alimenta a ilusão de que o país vive uma crise econômica similar à da Europa. Distorce estatísticas e bases comparativas para incutir no público a certeza de que os índices sociais decaíram. Omite ações positivas do governo federal e lhe transfere equívocos de gestões regionais e até de empresas privadas, forjando uma imagem de incompetência administrativa em torno de Dilma Rousseff. Ainda incentiva os protestos de rua, quaisquer protestos, usando-os como evidências de uma instabilidade generalizada que teria transformado o Brasil no caos permanente.
E agora é o PT que explora o discurso do medo.
Não podemos pensar a nova propaganda televisiva do partido sem considerar esse ambiente de manipulação e hipocrisia. As avaliações críticas são razoáveis ao detectar no comercial certo excesso de amargura, o tom apelativo, a falta de propostas e de incentivo à participação da militância. Ora, é exatamente isso que a oposição vem fazendo há meses, naturalizando (fazendo parecer espontâneo) um clima de pessimismo que não tem nada a ver com fatos, raciocínios ou debates construtivos.
O filme criado pelo publicitário João Santana parece-me correto porque retira dos adversários a primazia sobre a estratégia negativa. Devolve a chantagem contra os chantagistas, trata como fantasmas aqueles que teimam em fabricar assombrações. Parte para cima. No jargão da luta, aproveita a desatenção do oponente, enfia-lhe um gancho, sai das cordas e recomeça o combate.
O contra-ataque veio em momento oportuno, lembrando a todos que o petismo guarda um bom repertório de imagens aterrorizantes, caso decidam levar a campanha nessa toada. Talvez a previsível repercussão do filme nas pesquisas aplaque os ânimos da disputa eleitoral, dando-lhe um caráter mais civilizado. Mas não podemos descartar a hipótese de essa alternativa ser repudiada pelas campanhas oposicionistas, acostumadas ao “quanto pior melhor”. Em ambas as situações, Santana precisará saber o momento certo para mudar de tática.

http://www.guilhermescalzilli.blogspot.com.br

Dannty Sá

20/05/2014 - 10h58

Excelente reflexão. Para cima deles Dilma Rousseff.

PIG – Partido da Imprensa Golpista

20/05/2014 - 02h00

Olá amigos! Vamos, juntos, continuar combatendo as mentiras e manipulações do PIG? Curtam e compartilhem nossa página: https://www.facebook.com/Brasilantipig


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