Menu

O sonho interrompido de Paulo Nogueira (e de todo o Brasil)

por Paulo Nogueira Batista Jr. (via GGN) Fui afastado do cargo que ocupava aqui em Xangai no Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), mais conhecido como Banco dos Brics. Escrevo em plena mudança, em meio a caixas e caixotes. Estou voltando para o Brasil, depois de mais de dez anos no exterior. Fico feliz, pois dez […]

6 comentários
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

por Paulo Nogueira Batista Jr. (via GGN)

Fui afastado do cargo que ocupava aqui em Xangai no Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), mais conhecido como Banco dos Brics. Escrevo em plena mudança, em meio a caixas e caixotes. Estou voltando para o Brasil, depois de mais de dez anos no exterior.

Fico feliz, pois dez anos já era demais. Há tempos pensava na volta, pois estava insatisfeito com o rumo que o NBD vinha tomando. Amigos e familiares diziam, unânimes: “Fica na China, o Brasil está péssimo”. Mas o Brasil, mesmo “péssimo”, é melhor do que a maioria dos países. Os brasileiros é que nem sempre estão à altura do Brasil.

Estou triste, entretanto, pela maneira como fui afastado do banco que ajudei a criar. Mais do que qualquer outro integrante do NBD, estive envolvido, a fundo, no processo que levou à criação do banco e do fundo monetário do Brics. Sonhávamos criar um banco global que estabelecesse novos padrões no financiamento do desenvolvimento.

A minha desestabilização começou por iniciativa de alguns funcionários do governo brasileiro. Destacou-se na operação um certo Marcelo Estevão, assessor do ministro da Fazenda, sujeito atabalhoado que, segundo me disse um ministro de Estado, é motivo de chacota em Brasília. Mas não vou gastar pólvora com ximango. O líder da operação foi o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Mal conheço o Goldfajn, mas, por motivos não totalmente claros, ele meteu na cabeça que precisava forçar a minha saída. Saiu dos seus cuidados como autoridade monetária para liderar uma verdadeira perseguição contra mim.

Para me demitir havia, porém, uma dificuldade. Tinha mandato até 2021 e não podia ser simplesmente afastado. Era preciso demonstrar que eu quebrara o código de conduta do banco.

Colocaram então pressão sobre o presidente do NBD e induziram-no a abrir contra mim dois processos administrativos. O primeiro teve origem na minha recomendação de demitir um funcionário brasileiro, Sergio Suchodolski, que tivera desempenho pífio no período probatório. Esse funcionário foi instado a entrar com queixa contra mim, com alegações de assédio moral. A acusação não prosperou, pois não havia evidências. A única coisa indubitável era a péssima atuação do tal brasileiro.

O que prosperou foi uma segunda acusação: a de que eu teria atentado contra o código de conduta em alguns artigos publicados nesta coluna. A acusação era ridícula. Mas o advogado contratado pelo banco para investigar o assunto concluiu que em alguns poucos artigos eu quebrara a neutralidade política e comentara assuntos político-partidários. Não havia base para tal conclusão, que desmontei por escrito, mas a questão dos artigos era mero pretexto.

Enfim, passou. Ficou uma sensação de decepção e sonho interrompido. É um sonho perfeitamente possível esse de criar um novo banco de desenvolvimento de alcance global, lançado por países emergentes, que poderia em alguns anos rivalizar com o Banco Mundial e outros bancos controlados pelos países desenvolvidos.

Mas os sinais que o NBD está dando, inclusive na forma como me tratou, sugerem que esse sonho dificilmente se realizará. Só uma nova administração poderá revigorar o banco e colocá-lo no rumo sonhado. Talvez o futuro da instituição esteja nas mãos do Brasil, que indicará o seu próximo presidente em 2020.

Apoie o Cafezinho

Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

Mais matérias deste colunista
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

Roberto

31/10/2017 - 13h10

Esse banco é formado por 3 países imperialista, pelo Brasil que sempre foi acusado de ser imperialista na América do sul e pela África do sul. Esperar que seja um banco”socialista e anticapitalista” é ilusão!

Niedja Kinjo

29/10/2017 - 20h53

Todos os dias novas decepções com esse governo que não representa os brasileiros de verdade.
O Brasil está perdendo muito com esses novos donos do poder. Só temos que esperar 2018, com muita fé, porque eles podem dar prosseguimento ao golpe.

JULIO CÉSAR

29/10/2017 - 14h50

A primeira ação que um governo Lula, ou Ciro, devem tomar na presidência do Brasil é desmontar
essa imprensa golpista. Como? Democratizando totalmente todas as verbas do governo, não somente
federal, mas estadual e municipal, pulverizando os recursos para todos. De forma igualitária, e
não mais financiar grupos econômicos grandes, como Rede Globo, grande Jornais e emissoras de
televisão. Zerar, no primeiro momento, todos os recursos para esses canais. E fortalecer a imprensa
na internet, exigindo certos critérios, como partipação aberta popular sem qualquer espécie
de filtro ou censura.

DANIEL DA SILVEIRA BARBOSA

29/10/2017 - 09h06

Lamentavelmente O SISTEMA, não permite que o Brasil esteja no centro das discussões globais. culpa dessa estigma da síndrome de vira latas. Lula em 2018, recolocará o Brasil nos projetos globais. A CIA através da Lava Jato, está tentando inviabilizar e tornar LULA inelegível para 2018 … NÃO conseguirão … O POVO, está nas ruas em caravanas … LULA é imbatível, O POVO, o reconhecemos, como O melhor Presidente que o Brasil já teve….

Luiz

28/10/2017 - 17h45

Não me venham com conversinhas. Isso tem dedo dos chacais da política e finanças ocidentais que jamais aceitarão um banco que faça concorrência ao FMI e BM. Essa quadrilha que tomou de assalto o governo brasileiro quer, a mando do Establishment ocidental, inviabilizar o crescimento deste banco.

JOÃO CARLOS AGDM

28/10/2017 - 17h09

É lamentável, mas, faz parte da onda de deliberada destruição do Brasil que se abateu sobre nós…….


Leia mais

Recentes

Recentes