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Eleições no Iraque: Dirigente comunista fala sobre a atual situação do país e o resultado eleitoral

Publicado no site Resistência. A aliança encabeçada pelo líder religioso xiita Moqtada Sadr, tendo como principal aliado o Partido Comunista do Iraque, venceu as eleições legislativas, de acordo com os resultados definitivos divulgados no dia 19 de maio. A Aliança dos Revolucionários pelaReforma, conhecida por sua abreviação, Saairun, elegeu 54 parlamentares, entre 329. A coligação governista Al-Nasr […]

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Publicado no site Resistência.

A aliança encabeçada pelo líder religioso xiita Moqtada Sadr, tendo como principal aliado o Partido Comunista do Iraque, venceu as eleições legislativas, de acordo com os resultados definitivos divulgados no dia 19 de maio. A Aliança dos Revolucionários pelaReforma, conhecida por sua abreviação, Saairun, elegeu 54 parlamentares, entre 329. A coligação governista Al-Nasr (A Vitória), liderada pelo primeiro-ministro iraquiano, Haidar Al-Abadi, ficou apenas em terceiro lugar, com 37 deputados.

Uma mulher comunista, Suhad al-Khateeb, foi eleita para representar a cidade de Najaf, considerada uma das mais conservadoras e sagradas cidades religiosas do Iraque. Khateeb, que é professora, disse sobre sua vitória: “o Partido Comunista tem uma longa história de honestidade – nós não somos agentes de ocupações estrangeiras. Queremos justiça social, cidadania e somos contra o sectarismo. Isso também é o que os iraquianos querem “.Moqtada Sadr é o líder da principal milícia que enfrentou as tropas invasoras americanas e tem como base social os trabalhadores pobres. Sadr não poderá ser primeiro-ministro pois não se candidatou previamente ao cargo, como exige a lei iraquiana, mas será determinante para a formação do governo, processo complexo pois o novo parlamento iraquiano, o primeiro eleito depois da guerra contra o Estado Islâmico, é muito fragmentado, sendo formado por representantes de 37 alianças e partidos, sendo que a Saairun, a aliança mais votada, tem apenas 16,4% das cadeiras.

Em entrevista ao jornalista Carl Melchers, publicada no site do Partido Comunista do Iraque nesta terça-feira (22), Rashid Whewieli, um dos líderes do Partido, fala sobre as eleições e a situação atual no Iraque.

Qual é a situação em Bagdá agora?

A eleição foi bastante calma, mas o cancelamento pelo presidente Trump do acordo nuclear EUA-Irã é uma grande preocupação para as pessoas daqui. Eu não acredito que haja uma guerra, mesmo que isso seja dito com frequência. Mas se houver uma guerra entre o Irã e os EUA isso terá consequências para o Iraque. O Irã é nosso maior vizinho e compartilhamos uma longa fronteira. Se alguma coisa acontecer, afetará a economia, a segurança e toda a vida diária do Iraque.

Que influência isso teve no humor das eleições?

Politicamente, as forças ligadas ao Irã tentaram usar esta ameaça para convocar à coesão contra os EUA. Na prática, esta situação enfraquece a posição dos grupos políticos que procuram resolver os problemas sociais urgentes do Iraque.

Mas a aliança eleitoral, que inclui o Partido Comunista do Iraque, emergiu como a força mais votada nas eleições. Quais são os objetivos políticos do seu partido?

Nossos objetivos políticos são os mesmos desde a queda de Saddam Hussein. Queremos uma alternativa ao status quo após 15 anos de formação do Estado falido. Queremos acabar com a divisão religiosa e étnica da sociedade em sunitas, xiitas e curdos. Em suma, queremos construir um Iraque democrático, federal e unificado no qual a justiça social desempenhe um papel central.

Que significado tem o Partido Comunista do Iraque na política iraquiana?

O Partido Comunista Iraquiano é o partido político mais antigo do país. Foi fundado em 1934 e historicamente desempenhou um papel importante. O PC ainda é hoje o maior partido organizado da esquerda secular no Iraque e tem grupos de base em todo o país. Mas, além disso, ele é uma das poucas organizações que realmente é um partido no sentido clássico. O PCI trabalha com programas, estatutos e reuniões. Como Partido Comunista, é composto de membros de todos os grupos étnicos e religiosos do Iraque, não apenas dos três principais grupos, mas também cristãos e outras minorias. É realmente um partido para todos os iraquianos.

E os outros partidos?

A maioria das principais forças políticas do país é definida por clãs religiosos, étnico-nacionalistas ou familiares. Quase não há partidos baseados em programas econômicos e sociais.

E quanto ao equilíbrio de poder?

As forças democráticas são uma minoria. Há uma razão na história para isso. As forças de esquerda e liberais foram as principais vítimas da perseguição política sob Saddam Hussein. Suas estruturas políticas foram destruídas.

Saddam Hussein foi derrubado há 15 anos pela invasão norte-americana. O que isso significa a partir da perspectiva atual?

A derrubada do antigo regime trouxe uma grande mudança, mas também muita destruição. Nos anos 1970 o analfabetismo não existia mais no Iraque e as universidades eram exemplares. Existem hoje cerca de cinco milhões de analfabetos e o sistema educacional é muito precário. A sociedade é dividida etnicamente e religiosamente. As minorias religiosas, que costumavam fazer parte importante da sociedade, quase desapareceram – cristãos e yazidis quase não existem mais. Mas mesmo para nós, como esquerda secular e democrática, não tem sido fácil desde 2003.

Por quê?

Rashid Whewieli

Rashid Whewieli

Os três principais blocos étnico-religiosos, xiitas, sunitas e curdos, compartilham todo o poder no Estado através de um sistema de cotas. Eles criaram um sistema não previsto na constituição. Por exemplo, em uma administração municipal conta-se quantos sunitas, xiitas ou curdos vivem em uma área, e de acordo com essa proporção a administração será ocupada. Aqueles que, como os partidos de esquerda e os liberais, não pertencem a esses blocos, não têm chance, pois os assentos parlamentares também são preenchidos de acordo com o sistema de cotas. Este sistema não produziu um sistema de saúde funcional, uma economia estável ou segurança social, e depois de 15 anos muitas pessoas estão cansadas disso. O Iraque vende seu petróleo enquanto tudo o que as pessoas precisam é importado dos países vizinhos. Na década de 1970, o Iraque estava muito à frente desses países no desenvolvimento industrial. As águas dos rios Eufrates e Tigre produziram a mais antiga civilização da humanidade, e o Iraque está atualmente importando água potável da Arábia Saudita, um país amplamente composto por deserto.

O Partido Comunista do Iraque se uniu a uma aliança eleitoral que inclui as forças do clérigo xiita Muqtada al-Sadr. Como isso aconteceu?

Cartaz da aliança vencedora das eleições iraquianas

Cartaz da aliança vencedora das eleições iraquianas

O movimento de al-Sadr não é um partido, mas um amplo movimento popular. A base é formada pelos pobres, pelos xiitas. Eles vivem em um ambiente no qual as pessoas estão intimamente ligadas ao imã e seguem-no teológica e politicamente. Em sua curta e turbulenta história, al-Sadr fez coisas que contradizem completamente nossas ideias. Mas no Iraque, depois de 2003, as forças políticas e as correntes começaram muitas vezes do zero. Não houve experiência dentro das instituições do Estado, mas houve uma guerra civil quase imediata. Desde então, muita coisa mudou.

De que maneira?

Foi importante, por exemplo, a resposta do movimento de al-Sadr ao protesto de 2011, que na época se baseava em forças democráticas e de esquerda. Estes protestos foram influenciados pelas experiências das revoluções na Tunísia e no Egito, mas o protesto ocorreu basicamente em face da situação concreta no Iraque. Era sobre a falta de segurança para a população, alto desemprego e corrupção extrema. Qualquer pessoa que não tenha trabalho na polícia, exército ou administração pública tem pouca chance. Não temos indústria, nem pública nem privada. Em 2015, após os protestos sociais em Basra, uma aliança prática foi formada entre os sadristas e as forças democráticas seculares. Houve muito desenvolvimento, especialmente em termos de objetivos políticos e ideias. O próprio Al-Sadr comprometeu seu povo a não carregar fotos de si mesmo e de sua família durante os protestos. Em vez de bandeiras e slogans xiitas, eles usavam palavras de ordem que falavam para todos os iraquianos. Seus seguidores assumiram as posições do movimento de protesto em relação ao sistema de cotas e as nossas demandas sociais. Tudo isso eles fizeram sem condições. Além disso, al-Sadr está distante dos outros partidos islâmicos e do Irã.

E quanto às outras forças políticas?

Enquanto al-Sadr está seguindo uma linha de perseguição aos interesses nacionais do Iraque, os outros grandes grupos políticos estão perseguindo os interesses da política externa dos países vizinhos. Eu estava participando de um programa na TV e quando perguntei aos fundamentalistas islâmicos o que eles haviam realizado em defesa do Iraque foi respondido que eles derrotaram o Estado Islâmico e escreveram uma constituição. É isso. Economicamente e socialmente eles não têm absolutamente nada para mostrar. Os curdos dificilmente são melhores. Sempre que alguém critica seus líderes políticos eles apontam para a coesão contra os outros dois blocos (sunitas e xiitas). O bloco xiita agora igualmente reivindica a vitória sobre o Estado Islâmico, mas muitos democratas e comunistas também tombaram nesta guerra contra o EI. Os poderes dominantes usaram sua mídia, recursos e o apoio do Irã para monopolizar a luta contra o ISIS. Eles têm um grande número de estações de TV, o Partido Comunista do Iraque não tem sequer uma.

Não há realmente nenhum apoio do resto do mundo para as forças seculares iraquianas?

Financeiramente, não recebemos apoio externo. Antes do colapso da União Soviética tivemos bons contatos com partidos comunistas, especialmente com o Partido Comunista da União Soviética e com outros partidos de países socialistas. Desde 1993, estamos politicamente abertos. Por exemplo, temos contato com o Die Link (A Esquerda), na Alemanha. Nós nos financiamos principalmente com as taxas de filiação. Somos uma das poucas forças políticas no Iraque que é verdadeiramente independente e não é financiada por nenhum estado estrangeiro, seja ele os EUA, Irã ou qualquer outro país.

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Comentários

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joao sigrist

23/05/2018 - 18h11

Os americanos fazem anarquia em todo lugar do mundo onde existe movimento contra sua dominaçao e depois se dizem democracia.
Para comprovarem que sao realmente democracia deveriam primeiro respeitar o principio da auto determinaçao dos povos a quem fazem guerra e espoliam de forma escancarada.
O Brasil dos golpistas esta mostrando como sao servis a esta politica vergonhosa dos EU verdadeiros ditadores do mundo atual.


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