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Haddad ao Valor: PT só substituirá Lula a poucos dias das eleições

Reproduzo (via Conversa Afiada) trechos de entrevista de Fernando Haddad ao Valor. A estratégia do PT está clara. Liminar judicial sobre liminar judicial até às vésperas das eleições presidenciais. Quando não for mais possível ir adiante, o candidato a ser indicado por Lula, segundo Haddad, deverá ser do PT, mas não necessariamente ele, Haddad. A […]

23 comentários
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Foto: Ricardo Stuckert

Reproduzo (via Conversa Afiada) trechos de entrevista de Fernando Haddad ao Valor.

A estratégia do PT está clara. Liminar judicial sobre liminar judicial até às vésperas das eleições presidenciais. Quando não for mais possível ir adiante, o candidato a ser indicado por Lula, segundo Haddad, deverá ser do PT, mas não necessariamente ele, Haddad.

A entrevista traz ainda declarações interessantes sobre regulamentação da mídia, reforma do judiciário, tributária, etc.

***

COMO ENFRENTAR A GLOBO

(…) Haddad: Vamos propor uma regulamentação que aumente o pluralismo e a diversidade dos meios. Apesar de serem concessões públicas, rádios e TVs sequer têm contrato de concessão com caderno de encargos. Toda concessão pública no Brasil – rodovias, hidrelétricas, linhas de transmissão, distribuidoras, telefonia – todas têm cadernos de encargos.

Valor: Tem parâmetros. Cumprir tantas horas de jornalismo, um percentual de produção própria…

Haddad: A maioria dos quais nem cumprido é. Não tem nem agência para aferir o compromisso das emissoras com diversidade. Sobretudo não permitir que os poderes político e econômico se imiscuam na comunicação, deixando-a a mais livre possível. Compromisso com diversidade, com o contraditório, com liberdade de expressão de camadas vulneráveis, com representatividade étnica. Nada disso tem previsão nas concessões. Mesmo do ponto de vista regional, é tênue o compromisso com temas locais.

Valor: Quem auxiliou a equipe na elaboração desse capítulo?

Haddad: Quem coordenou foi o João Brant [pesquisador, ex-secretário executivo do Ministério da Cultura], mas muita gente participou, inclusive o [jornalista e ex-ministro] Franklin Martins. É uma proposta liberal. Entendemos que isso faz parte do patrimonialismo brasileiro, a maneira como está regulado o setor é parte de um problema, digamos, quase que genético do país. Queremos dar um choque liberal.

Valor: Defende criar uma agência da comunicação, é isso?

Haddad: Estou dizendo a linha geral. Inaugurar esse debate sobre um choque liberal anti-patrimonialista no setor. Toda concessão exige um órgão regulador que monitore o cumprimento de compromissos que toda concessão tem. O foco é evitar concentração da propriedade, sobretudo propriedade cruzada.

CONTROLE EXTERNO DO JUDICIÁRIO

(…)

Haddad: (…) Os controles externos têm pouca participação da sociedade. Isso vale para CNJ (Conselho Nacional de Justiça), conselho do Ministério Público, para polícias. Há pouca permeabilidade na composição dos órgãos de controle. Então é ter controles externos que garantam a não-captura das agências. A não-captura precisa ser assegurada por uma nova governança. O Brasil tem o hábito de colocar os iguais para se vigiarem. Não funciona. O interesse corporativo prevalece sobre os outros.

IMPOSTO SOBRE DIVIDENDOS, HERANÇA E FORTUNAS

(…)

Haddad: Nosso pressuposto, como o Lula já fez, é manter a carga tributária, sobretudo a carga líquida, estável. E promover uma mudança de composição. Todos os estudos, inclusive os da direita, dão conta de que o sistema tributário é regressivo. Mais uma vez estamos falando de uma proposta liberal [risos]. É corrigir uma distorção, que é cobrar proporcionalmente mais dos mais pobres. O objetivo central é ter uma mudança de composição, garantindo que os entes federados mantenham, em termos reais, sua cota-parte. Então vamos criar uma trava durante a reforma que impede entes federados de perderem receita. E aí promover uma simplificação com a criação do IVA (Imposto sobre Valor Agregado). Paralelamente a essa transição, diminuindo alíquotas de impostos ruins e aumentando de um imposto racional, promover uma diminuição da carga sobre consumo e um aumento sobre renda e patrimônio. O Brasil é um dos únicos países do mundo que não cobra imposto sobre lucros e dividendos.

Valor: A ideia é criar um imposto sobre distribuição de dividendos?

Haddad: Posso ter um tributo sobre dividendos se houver diminuição do imposto sobre consumo. Da cesta básica ou geral.

Valor: Sempre equivalente?

Haddad: Sempre no sentido de reequilibrar a carga a favor dos mais pobres. Poderia criar IPVA para helicópteros, aeronaves e embarcações se, na mesma medida, reduzir a carga daqueles que estão efetivamente pagando.

Valor: O imposto sobre dividendos seria compensado como?

Haddad: Provavelmente acompanhado de redução da carga sobre pessoa jurídica, favorecendo o investimento das empresas.

Valor: Onde mais vai mexer?

Haddad: Criar imposto de renda progressivo sobre herança. Hoje nós temos uma das mais baixas alíquotas sobre herança. Não queremos aumentar para todos. Tem pessoas que têm patrimônio de classe média, deixou apartamento para o filho… Estamos falando de, a partir de certo patamar, ter progressividade.

Valor: E imposto sobre fortunas?

Haddad: Esse tem o desenho menos fechado. O de herança é bem mais fácil de se organizar, a experiência internacional é mais rica. O imposto sobre herança é mais alto fora do Brasil, França, EUA, por razões liberais e meritocráticas: não criar uma casta de pessoas que nunca produziram nada e que não contribuem com o fundo público. É mais uma situação em que a direita no Brasil, patrimonialista desde 1500, tem dificuldades de entender.

RASGAR A REFORMA TRABALHISTA

(…)

Haddad: Não temos compromisso com a reforma feita goela abaixo do trabalhador. Até por princípio. O que foi relevante desta reforma? Caiu o número de ações trabalhistas. Por quê? Há estudos demonstrando que, com a imposição do pagamento de sucumbência e custas, caiu a ação do trabalhador pobre. Quem é pobre perdeu o acesso. Isso não foi discutido. Estímulo à pejotização também é equivocado. Acabou a contribuição sindical. Era reivindicação do movimento sindical sério, mas poderia ter sido de forma gradual. Essas regras serão revogadas.

COM LULA ATÉ A PENULTIMA HORA

(…)

Haddad: Se o TSE recusar o registro, contrariando a própria jurisprudência, cabe liminar ao STF. E se ele observar a jurisprudência, vai deixar Lula concorrer. E se ele ganhar, pacifica o país.

Valor: Se vocês acham que o judiciário está politizado e contra o PT, não é razoável supor que isso não acontecerá dessa forma?

Haddad: Não podemos abdicar do estado democrático de direito. Como é que o PT vai se antecipar a uma decisão? Por que abdicar? O PT está indo no entendimento pacífico dos tribunais superiores.

Valor: Alguns já falaram em avaliar a possibilidade de lançar um outro candidato até 17 de setembro, para não correr o risco de ficar fora da eleição. Isso mudou?

Haddad: Estamos falando de uma decisão do TSE que deve acontecer entre 5 e 10 de setembro, seguindo os prazos. Aguardamos uma decisão favorável. Se não for favorável, vamos por uma liminar do STF. Isso será feito.

Valor: Liminar pode ser negada.

Haddad: Se a liminar não sair, teremos três ou quatro dias de prazo para o Lula ser consultado. Seria uma mudança de entendimento do que foi decidido até aqui. Diante de duas negativas, do TSE e do STF, consultaria-se o Lula. É decisão que cabe a ele. Creio que se o Lula optar por indicar uma pessoa, será do PT. Creio eu. É a minha opinião.

Valor: O senhor crê em mais algo mais? Por exemplo: quem seria?

Haddad: Sinceramente, não.

Valor: Falam do seu nome.

Haddad: Dentro do PT não é verdade isso.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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FRANCISCO DOS SANTOS NUNES

06/09/2018 - 16h07

#bolsonaro pra para com essa robalheira todo no Brasil e colocar ordem na casa ?

Marina

24/07/2018 - 15h20

Nunca, jamais, em tempo algum, Haddad daria uma declaração dessas ao Valor Econômico ninho de golpistas. Mais um fake news urdido pela Globosta. Acreditar nisso é que os golpistas querem. Não adianta especular que as lideranças do PT estão mais unidas, como jamais estiveram, em torno da estratégia desenhada por Lula e só uma mente pequena acreditaria que Haddad abriria o jogo de mão beijada para a imprensa golpista.

Luís Ribeiro

23/07/2018 - 17h48

Que nem coxinha que arruinou o país e a própria vida só pra que “a nossa bandeira jamais fosse vermelha”, parece que tem petista disposto a ser governado por Alkmin ou Bolsonaro só pra “não votar num cara que não é de esquerda”.

Sergio Sete

23/07/2018 - 16h42

Ora ora…. o PT armando um golpe para as eleições…. por que isso não me espanta?

Yan

23/07/2018 - 16h35

QUE NADA, Lulão VAI SER SOLTO 27 de Julho.

Lothar

23/07/2018 - 16h27

Se o PT fic ar esticando a corda por tanto tempo, como irá fazer campanha no rádio e na TV? Vão mostrar Lula preso? Vão usar sósia?

Alan Cepile

23/07/2018 - 15h20

Fico imaginando com qual argumento o Haddad vai tentar convencer qualquer partido a fazer aliança com o PT.

Já está ficando chato mas vou repetir, a tática do PT é suicida.

    Ultra Mario

    24/07/2018 - 00h05

    Eu quero ver é o Haddad nos debates.

    Basta o Alckmin perguntar porque não fizeram nada disso que estão prometendo nos 16 anos que estiveram no poder pra deixar o Haddad sem respostas. Não pode culpar o congresso porque nem tentaram.

    Enquanto isso o Ciro, com os braços cruzados, falando “isso é o que eu estou prometendo desde 2002”.

Beto Castro

23/07/2018 - 14h53

O melhor, mais conciliador do PT que tem mais votos entre a maioria dos afrodescendentes (52%), entre os aposentados (muitos milhões que votam), trabalhadores de todas as categorias, classe média geral (incluindo sindicatos e entidades patrimoniais) e mulheres guerreiras, etc. é o Paulo Paim que ganha hoje no primeiro turno com mais de 60%. O seu único defeito é não ser cacique do partido. É o autor dos mais fantásticos estatutos e projetos de proteção dos trabalhadores, incluindo o Estatuto do Trabalho em andamento. Parou, praticamente sozinho, com a CPI da previdência e o apoio do Senador Hélio José, a desgraça da maldita Reforma da Previdência dos golpistas (fim da aposentadoria).

Foo

23/07/2018 - 14h15

Haddad: Se o TSE recusar o registro, contrariando a própria jurisprudência, cabe liminar ao STF. E se ele observar a jurisprudência, vai deixar Lula concorrer. E se ele ganhar, pacifica o país.

Miguel do Rosário: “PT SÓ SUBSTITUIRÁ LULA A POUCOS DIAS DAS ELEIÇÕES”

    Miguel do Rosário

    23/07/2018 - 14h56

    ué, não é a mesma coisa? que implicância boba

      Jandui Tupinambás

      23/07/2018 - 17h07

      Me descupe, Miguel mas não é implicância boba.

      Haddad não disse isto. Manchete mentirosa.

      Erro básico e infantil no jornalismo (ou simplesmente desonestidade?): dizer que alguém disse o que você queria ou o que você interpretou o que ele disse.

      Uma manchete um pouco mais honesta:

      Haddad ao Valor: se candidatura for impugnada, Lula decidirá se indicará outro no seu lugar.

Pamador Taprendiz

23/07/2018 - 13h58

Alguem sabe explica a merda referente a concessão de energia eolíca que o governo do piauí esta fazendo?

Jeová

23/07/2018 - 13h45

O PT (teve seu tempo e deve dar espaço para o PDT) continua nos mesmos erros de sempre, “o deixa que eu chuto”. Precisamos de um Projeto, com planejamento, com começo, meio, e fim. As ideias colocadas na reportagem acima parecem um apanhado do programa do Ciro. Bom que estão caindo na real! Mas é melhor seguir o mentor e articulador a mais de 15 anos dessa linha de pensamentos, desde sua última candidatura de 2002 (Ciro Gomes).

    Fábio Ribeiro

    23/07/2018 - 14h12

    Jeová, espaço não se ganha, se conquista.

    Nostradamus ( Consultores polítiticos e Assistentes psicológicos )

    23/07/2018 - 14h32

    Rapaz ! Que besteirada! Nada a ver com nada! Não dá para acreditar que você escreva um troço desses!

    WALFREDO FERREIRA DA SILVA

    23/07/2018 - 15h27

    Jeová, o problema é que Ciro Gomes, apesar de ser um homem muito inteligente, não é confiável , atira pra qualquer lado . quando LULA foi se entregar, ele foi o ´único candidato de esquerda que não esteve no abc paulista, e ainda falou bobagens dizendo que LULA não era um preso político,ali era a oportunidade dele entrar como um dos favoritos na escolha do PT. agora recente, tentou ganhar votos com o centrão, a corja que deu o golpe no país, mas, a turma deu um chega pra lá nele e o deixou vendo navios, aí, ele se volta novamente para o PT, entendeu ? o cara não se decide. Ciro Gomes tinha que está ao lado de LULA desde o primeiro momento dessa sacanagem contra LULA .

      Greg

      23/07/2018 - 21h30

      Votou no Lula ou com o Lula desde sempre, com ressalva em relação ao plano Real. Chegou a passar a vergonha de falar bem do Aécio pra desgastar o Serra na disputa interna do partido a pedido de Lula. Esteve sempre do mesmo lado do espectro político, defendendo sempre as mesmas bandeiras idealistas. Defendeu os ideais da esquerda nacionalista quando Lula assinou aquela carta. Quando Lula loteou o Executivo com o PMDB. E mesmo depois de tudo o que o PT fez, ele militou agressivamente contra o golpe. Aceitou conversar com o centrão DEPOIS de ser enxotado pra longe pelo PT, e sob a condicional de se adequarem ao seu projeto de governo, para aumentar o dote a ser pago pelo PSDB e quem sabe com muita sorte, causar algumas fissuras naquela bola de lama que já ressecou e virou barro.

      O Ciro Gomes, meu nobre, é super confiável.

      Ultra Mario

      24/07/2018 - 00h01

      Foi o Ciro quem escolheu o Michel Temer como vice? E ele não é confiavel por criticar isso?

      Cara petistas tem um masoquismo muito esquisito, difícil de entender

    Alan Cepile

    23/07/2018 - 15h57

    Jeová,

    Tb fiquei com a sensação de estar lendo um resumo do programa do Ciro.

    O problema em relação à estratégia do PT é que até agora ninguém apareceu falando nada sobre um possível governo, enquanto Ciro já vem falando desde o final de 2017 em eventos de diversas área, política, sindicatos, universidades, no exterior e etc enquanto o PT nem candidato tem, pq Lula não conta enquanto estiver preso e sem a possibilidade de falar e participar desses eventos.

Dio

23/07/2018 - 13h06

“A estratégia do PT está clara. ”
Me desculpe pha se isso não foi uma constatação. Pq há meses a estratégia a estratégia sempre foi essa, o pt e Lula se esguelaram pra dizer e muitos, incluso o pha, fizeram de ouvidos moucos.
Será q é uma epifania pq essa é a única estratégia de pé pra esquerda até hoje?


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