
Charge: Aroeira
A surrada tática da mídia contra Ciro Gomes
Na campanha eleitoral de 2002 a história do temperamento explosivo de Ciro Gomes foi usada à exaustão para derrubá-lo.
Dezesseis anos depois, a lenga lenga se repete na grande mídia.
Separei uma notinha que saiu no site do Estadão há duas semanas para exemplificar o quão surrada e desonesta é tal estratégia.
Ciro falou o seguinte em uma entrevista: “(O Lula) Só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar a carga. Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político”. Eis a nota do Estadão sobre o assunto, com meus comentários em negrito:
Pegou fogo. A repercussão nacional da entrevista de Ciro irritou o candidato. Interlocutores do PDT dizem que ele chegou a ameaçar abandonar a campanha e precisou do irmão, Cid Gomes, para contê-lo.
Não faz o menor sentido. Ciro está trabalhando na sua candidatura há mais de ano. Fazendo palestras, viajando pelo país, indo ao exterior, articulando apoios, dando entrevistas, comparecendo a debates. A simples repercussão de uma entrevista – que não pode ser controlada por ninguém de sua equipe – faria com que ele ameaçasse abandonar a campanha? Mesmo, Estadão? Por que? Há alguma evidência disso ou mesmo uma razão lógica? E o Cid Gomes ainda teve que “conter” o furioso Ciro? É patente e ridículo o desespero para pintar o pedetista como descontrolado.
Com a palavra. Em nota, a campanha de Ciro Gomes diz: “Não é verdadeira a informação que o candidato Ciro Gomes tenha ameaçado abandonar a campanha. Portanto, não é procedente que seu irmão , Cid Gomes, tenha feito qualquer tipo de intervenção”.
Esta matéria saiu no dia 26 de julho. Eu copiei seu texto e não havia este parágrafo acima. Ele foi incluído depois como se estivesse sempre ali. Uma aula de mau jornalismo.
Me deixa aqui. O secretário de Turismo do Governo do Ceará, Arialdo Pinho, se recusou a assumir qualquer cargo na campanha de Ciro Gomes, seu amigo e eterno operador político. Motivo: Ciro está fora de controle.
Não há fonte, não há lógica, não há evidência alguma de que Ciro está “fora de controle”. Mas vale tudo para detonar os candidatos não alinhados ao conservadorismo.
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Assim segue a cantilena. Em quase toda entrevista concedida por Ciro se perde um tempo considerável falando do seu temperamento.
Ciro responde que realmente às vezes se indigna, mas pontua que outros políticos, verdadeiros gentlemans, muito bem educados, estão prontos para venderem o país e manter-nos como um país de poucos afortunados e milhões de miseráveis. Não é difícil perceber o que conta – ou deveria contar – mais.
A grande mídia tenta criar um espantalho para bater, já que na discussão de projetos para o país fica difícil vender as cascatas liberais da direita brasileira diante de um candidato qualificado como Ciro.
Que está até em sua fase mais zen, como retratou o Aroeira na charge acima, sobre a reação de Ciro aos movimentos do PT que lhe tiraram o apoio do PSB.
Brio e indignação diante do quadro desastroso que vivemos deveria, aliás, ser requisito mínimo para um candidato merecer a confiança do eleitor. Não um demérito.