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Será o fim da Era de Ouro das séries de televisão?

Por Victor Lages, pela Fênix Filmes   “Qual é a sua série favorita?”. Essa virou uma das perguntas mais recorrentes ultimamente em rodas de conversa. Descobrir o que os amigos estão assistindo, pedir recomendações, conhecer histórias novas transformou-se num frenesi para não estar por fora do que está acontecendo no mundo. E isso virou até […]

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The Marvelous Mrs. Maisel

Por Victor Lages, pela Fênix Filmes

 

“Qual é a sua série favorita?”.

Essa virou uma das perguntas mais recorrentes ultimamente em rodas de conversa. Descobrir o que os amigos estão assistindo, pedir recomendações, conhecer histórias novas transformou-se num frenesi para não estar por fora do que está acontecendo no mundo. E isso virou até quase uma doença psicológica: FOMO, sigla de FEAR OF MISSING OUT; traduzindo, O MEDO DE ESTAR PERDENDO ALGO.

Essa “síndrome” começou nos anos 2000 e se espalhou pelo uso excessivo de redes sociais. Vinda com uma frequência assustadora, virou comum ir atrás dos últimos lançamentos de séries da Netflix na sexta-feira, descobrir quem fez maratona de episódios mais rápido no final de semana ou comentar sobre a última batalha de GAME OF THRONES.

Isso porque vivemos o que John Landgraf, presidente do canal norte-americano FX, chama de Peak TV, uma nova era da televisão caracterizada pela superabundância de séries para assistir. Em suas palavras, “simplesmente há muita televisão”. Em 2015, mais de 400 séries foram produzidas nos Estados Unidos, a Netflix anunciou mais de 600 horas de conteúdo original em 2016 e 2017 ficou conhecida como o ano sem limites para a bolha audiovisual.

The Sopranos

Essa onda estilo tsunami vem logo depois de uma época de ápice intelectual nas narrativas. Tudo começou com THE SOPRANOS, série que durou de 1999 a 2007. Foi nessa virada de século que veio a grande transformação nas ficções seriadas, com a criação do primeiro anti-herói da televisão: Tony Soprano, mafioso que, mesmo frio e violento, tinha constantes crises de pânico acarretadas pela sua insegurança. Entre sessões de terapia e um ponto de vista íntimo em sua vida familiar, a história criada por David Chase acompanhava também a máfia de New Jersey e as disputas de poder. Com diálogos que exploravam a bivalência dos retratados, Chase iniciou um momento único em que a ousadia e o foco no desenvolvimento dos personagens eram o mais importante.

Six Feet Under

A partir desse novo modo de narrar, veio SIX FEET UNDER, criada por Alan Ball, que seguiu de 2001 a 2005. Marco no humor subversivo, a série veio para discutir a fina linha entre a vida e a morte e como pode ser engraçado e angustiante mexer com o psicológico dos espectadores ao mostrar que tudo pode acabar a qualquer hora e termos que encarar o desconhecido de frente. Ao contar a história da Família Fisher, dona de uma funerária que funciona no porão de sua casa, são explorados os conflitos e os problemas familiares e como a vida pode ser difícil, principalmente por termos sempre que tentar compreender os nossos em toda sua complexidade e personalidades díspares.

The Wire

2002 veio com outra estreia da que é considerada por muitos críticos como a melhor série da história da televisão: THE WIRE, de David Simon. Trazendo como trama os embates entre a polícia de Baltimore e os criminosos locais, a ótica aqui recai na realidade americana e suas fracassadas instituições políticas e cívicas. Mesmo encerrada em 2008, 11 anos depois a narrativa ainda é debatida e ganhou força dentro das universidades, sendo intitulada de “ficção das ciências sociais”, devido à sua utilização como ferramenta pedagógica no estudo das desigualdades urbanas e raciais ao explorarem a imaginação sociológica dos espectadores.

Mad Men

No embalo da criatividade, 2007 trouxe MAD MEN para somá-la à elegância e seguiu até 2015. Matthew Weiner criou com essa série uma reprodução legítima de como era uma agência de publicidade nos anos 60; e quando se coloca aqui “legitimidade” é no seu sentido mais real. O machismo, a desigualdade, o racismo, está tudo lá e assusta até ver sua atualidade, mesmo depois de quase 60 anos da história. No centro da trama, está Don Draper, diretor de criação da agência que usa sua genialidade e seu charme para aplicar sua moral duvidosa e misógina para conquistar clientes e amantes. Ao seu lado, está Peggy Olson, uma das melhores personagens já escritas na televisão que começa como uma secretária insegura, mas que cresce explosivamente na carreira até chegar no ápice profissional.

Breaking Bad

A quinta ponta desse pentágono chegou em 2008 e durou até 2013, tornando-se uma série obrigatória em cada mesinha de bar, principalmente depois de chegar na Netflix: BREAKING BAD. Criada por Vince Gilligan, a história centrava-se em Walter White, um professor de química que descobre um câncer terminal e se junta ao seu ex-aluno para produzir uma droga a fim de levantar dinheiro para deixar para sua família após sua morte. O bonito de acompanhar essa série, além do primor técnico e inovador a cada episódio, é ver o desenvolvimento da ascensão e decadência de um homem comum convertido em um sociopata a partir da ambição.

Com essas cinco séries, é possível ver como cada uma ajudou a revolucionar o mundo das séries e como se estruturou a chamada Era de Ouro da Televisão, caracterizada por narrativas que transcendiam o tradicional e até o universo cinematográfico; e é possível fazer um paralelo com os anos 70, quando nomes como Scorsese, Coppola e Spielberg chegaram à Hollywood. E, assim como aconteceu no cinema, após o ápice de tramas inteligentes e criativas, veio o excesso.

É por isso que se diz que essa cena acabou. A Peak TV veio com sinais de exagero, tanto pelas produções, quanto pelo público e ambos estão interligados. Ao mesmo tempo em que há uma audiência fragmentada e diversa, há também uma série que parece ter sido feita para cada espectador. Com a multiplicação excessiva de plataformas de streaming, como Netflix, Amazon Prime e Hulu, essa nova era se reinventa em abordar uma gama muito maior de personagens e contos ficcionais, o que acabou causando uma queda de prestígio e qualidade narrativa.

No entanto, isso não quer dizer que só existem séries fracas atualmente. Temos histórias incríveis se desenvolvendo agora com um primor de “filhos herdeiros” da boa era: a ficção científica WESTWORLD, a nostálgica STRANGER THINGS, o suspense policial TRUE DETECTIVE, a dramédia social ATLANTA e a comédia de época THE MARVELOUS MRS. MAISEL. O momento pode ter passado, mas deu tempo para ensinar às mais novas como se faz.

The Marvelous Mrs. Maisel

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