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BORRASCA: amigos, traição, chuva e entrevistas exclusivas

Uma garrafa de uísque. Três amigos. Um apartamento. Uma traição. Uma chuva. Esse é o mote que guia BORRASCA, novo filme de Francisco Garcia (CORES e A CAUDA DO DINOSSAURO) que chega aos cinemas no dia 02 de maio e promete causar mais estrondos do que o temporal que abre a história. Com Mario Bortolotto […]

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Uma garrafa de uísque. Três amigos. Um apartamento. Uma traição. Uma chuva. Esse é o mote que guia BORRASCA, novo filme de Francisco Garcia (CORES e A CAUDA DO DINOSSAURO) que chega aos cinemas no dia 02 de maio e promete causar mais estrondos do que o temporal que abre a história. Com Mario Bortolotto (dramaturgo que criou a obra teatral homônimo o qual o filme foi gerado) e Francisco Eldo Mendes (que também atua na peça em parceria com Mario há anos), no próximo mês, espectadores brasileiros embarcarão em conflitos de personagens avançando ao acaso, ao sabor de seus sentimentos, e num filme com tons de Polanski e John Cassavetes. Com muito prazer, acompanhem agora entrevistas exclusivas com esses três nomes do audiovisual e do teatro nacional que prometem tratar o bom cinema como um terremoto e a linguagem como a recriação dos passos do homem.

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Francisco Garcia, Diretor

 

Cafezinho: Quais são os desafios de adaptar uma peça de teatro e ainda dirigir o roteirista do filme?

Francisco: Os desafios foram inúmeros. Primeiro, como rodei o filme em praticamente duas madrugadas de maneira 100% independente, numa espécie de “ação entre amigos” que colaboraram comigo no processo de realização, sabia que não tinha muita margem para erros. Assim, optei por ter os atores que fizeram a peça e a partir daí ensaiamos continuamente por alguns dias dentro da locação para chegar no jogo cênico desejado e podermos efetivamente ter propriedade para possíveis improvisos no momento da filmagem que teria que ser muito rápida.

Sobre dirigir o Marião, foi um prazer imenso por toda a parceria estabelecida e suas qualidades como ator, que são inúmeras. Já tinha dirigido ele anteriormente e tenho outros trabalhos de adaptação de seus textos. Então foi tudo muito natural.  Sua única exigência era não modificarmos o texto para não descaracterizar a obra original. E durante o processo de ensaios e filmagem, o texto falou por si de uma maneira muito fluída e consegui cumprir minha palavra.

C: O que você traz para BORRASCA de cada filme que você fez?

F: Dos filmes que dirigi anteriormente, sinceramente, nada! Todos tiveram propostas e modelos de produção muito diferentes. Em Borrasca, quis experimentar uma linguagem e uma forma, mais fluída, com equipe reduzida, dentro de uma única locação e de rápida produção para não ficar dependente de financiamentos. Optei por um estilo de filmagem muito particular que é o que denominamos “filmar por eixo”, que consiste em dividirmos o roteiro em blocos e rodamos cada um deles em longos planos com a câmera em diferentes eixos da locação. Nunca tinha ouvido falar neste tipo de rodagem, e posso dizer que gostei do estilo. Inclusive, acabei repetindo em outros projetos como no longa Uma Pilha de Pratos na Cozinha, também uma adaptação da peça do mesmo autor, em fase de finalização. Neste filme, trago sim muita influência daquilo que aprendi no processo criativo do Borrasca.

C: BORRASCA ganhou prêmios e participou de diversos festivais. Para você, como os festivais são importantes para um filme?

F: O filme foi ganhador de dois Prêmios de Melhor Ator para Bortolotto: um no Festival português de Santa Maria da Feira, onde ele concorria com grandes nomes da atuação como Matheus Nachtergaele, e outro em um dos festivais mais tradicionais do país, o CinePE. Estes prêmios, tem bastante significado para mim, pois são resultado e certeza que deu certo o exercício de fazer um filme onde a proposta é não fetichizar em técnicas, efeitos e locações, e sim ter o ator como o principal vértice de toda uma estrutura de linguagem.

C: Onde BORRASCA se encaixa no cenário de cinema brasileiro?

F: Ótima pergunta! Na verdade, tenho pensado há algum tempo sobre o assunto, e realmente cada vez mais acho que Borrasca não se encaixa no cenário atual do cinema brasileiro onde temas sobre minorias e ativismo têm tido maior destaque.

Nos dias de hoje, e vejo boas razões para isso, acredito que o público possa pensar que a temática do filme está fora do nosso tempo, num momento histórico onde conflitos e questões existenciais masculinas não têm tido muito espaço. Ao mesmo tempo acho o tema do filme universal, atemporal, e portanto contemporâneo, trazendo algo a mais de estranho para um cenário atual já tão potente.

Enfatizo que sou admirador de inúmeros tipos e de distintos gêneros de cinema, mas isso não significa que preciso me enquadrar a eles. Sempre propus construir uma filmografia pelo desejo de realizar um filme que me movia naquele momento, e isso vou continuar fazendo. Acredito na pluralidade e diferenças nos tipos de filmes e temas para a cinematografia de um país. Essa é riqueza do cinema nacional. Riqueza de olhar e de sentimento.

C: O que você levará do processo de produção de BORRASCA para sua carreira cinematográfica?

F: Não sei exatamente. O próximo filme que estou finalizando, por exemplo, tem uma proposta formal e um modelo de produção completamente distinto do Borrasca. Sendo assim, o tempo e meus próximos projetos falarão por si. Só sei que hoje, com o filme finalizado e distribuído, apesar de ter um olhar bastante crítico sobre a obra, fico bastante satisfeito com o resultado sabendo que seu modelo de produção foi completamente fora dos padrões tradicionais de realização.

 

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Mario Bortolotto, ator, roteirista e co-compositor

Cafezinho: O que BORRASCA representa para você, enquanto ator e roteirista e trabalhando ainda na trilha sonora?

Mario: A oportunidade de ter um trabalho feito em coletivo e que eu consiga assinar embaixo, já que houve total respeito de ambas as partes. Houve um respeito da direção em relação ao texto e a nossa interpretação (já que o Eldo Mendes também já havia feito a peça e trabalha há muito tempo comigo) e em contrapartida total respeito da nossa parte em relação ao trabalho de direção do Francisco. Acho que a trilha apenas completa essa fidelidade ao universo retratado.

C: Qual é o ponto de convergência entre as jornadas pessoais de Mário Bortolotto e seu personagem?

M: Não há exatamente pontos de convergência. Como em toda obra minha, há detalhes pessoais da minha vida que estão nos personagens, tanto no meu quanto no outro personagem. Isso sempre acontece. O público não precisa saber exatamente o que pode ser real e o que é ficção. Mas o personagem mesmo é bem diferente de mim. Mas ambos somos escritores. Talvez seja o maior ponto de convergência.

C: Existe diferença entre o roteiro da peça BORRASCA e o filme BORRASCA? Algo se perdeu e/ou algo foi acrescentado?

M: Pouca coisa. Há um pouco mais de humor na peça. O filme opta por um mergulho maior no drama sem muitas concessões.

C: Você ganhou prêmios pela sua atuação em alguns festivais. Na sua opinião, como BORRASCA cresceu com essas premiações?

M: Acho que prêmio sempre ajuda a prestarem mais atenção no filme tipo “vamos ver qual é” e porque esse filme ganhou tal prêmio e se foi justo ou não. Ajuda a atiçar a curiosidade.

 

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Francisco Eldo Mendes, ator

Cafezinho: Onde seu personagem esbarra na sua vida pessoal? O que você trouxe de suas vivências para esse papel? 

Francisco Eldo: O personagem esbarra na minha vida pessoal quando reflete sobre a falta de estrutura familiar. Da falta que faz não ter uma boa estrutura familiar. Além da falta que faz os amigos que se foram. Eu criei uma construção de “gênese” na relação entre os personagens do Diego e Enzo, baseado na história real da perda do amigo Paulo de Tharso, que é, inclusive, homenageado no filme.

C: Como é estar atuando ao lado do escritor da peça e do roteiro?

FE: Ter feito esse longa com o Mário foi uma das melhores coisa que aconteceu na minha carreira. Primeiro porque acho o Mário um dos melhores dramaturgos da sua geração, além de um grande ator. Como ele é muito exigente e já tinha me dirigido na peça homônima, foi grande o desafio em ambas as oportunidades. Ele não deixa o ator pular uma vírgula do seu texto que seja. Ao mesmo tempo é um grande parceiro em cena. Me passa segurança. Um grande aprendizado. Uma honra.

C: Enquanto ator, é mais simples ou mais complicado gravar tudo em um só ambiente e em apenas duas madrugadas?

FE: Filmar no mesmo ambiente me ajuda. Fico mais concentrado. Agora ter feito em duas noturnas de 15 horas foi muito difícil. O desgaste foi extremo. Lembro que às 4:00hs da manhã da segunda noite olhei pro Mário e falei que não estava aguentando mais. Ele olhou pra mim, trincou o pulso e disse: tem que aguentar. Aí tirei forças não sei de onde e consegui…

C: O que você leva de BORRASCA para sua experiência como ator?

FE: Levo do Borrasca a experiência de ter feito um filme que gosto muito, uma cumplicidade no diálogo com o Mário, antigo parceiro de cena, além da relação com Francisco e toda a equipe que foi muito generosa e paciente. Só tenho a agradecer.

 

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