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Tolerância demais

Foi ótimo assistir o STF finalmente declarar o óbvio, sabido desde 2014 por qualquer um com o mínimo de honestidade intelectual: Sergio Moro não possuía a isenção necessária para julgar Lula. Todas as operações pirotécnicas, as capas de revista, os Jornais Nacionais, os bonecos infláveis, as camisas da seleção nos domingos de sol, as provas […]

28 comentários
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Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE

Foi ótimo assistir o STF finalmente declarar o óbvio, sabido desde 2014 por qualquer um com o mínimo de honestidade intelectual: Sergio Moro não possuía a isenção necessária para julgar Lula. Todas as operações pirotécnicas, as capas de revista, os Jornais Nacionais, os bonecos infláveis, as camisas da seleção nos domingos de sol, as provas processuais e as condenações, tudo foi por água abaixo porque Moro foi parcial o tempo todo.

Ao mesmo tempo é angustiante constatar que o STF conseguiu dizer o óbvio – pelo apertado placar de 3 a 2! – somente depois da Lava Jato criar as condições para um golpe de Estado, prender um ex-presidente sem provas e eleger um fascista para a presidência.

Fascista não: nazista. O caso do assessor de Jair Bolsonaro que fez um gesto usado por supremacistas brancos em plena sessão do Senado Federal não é o primeiro – nem do assessor, nem do governo Bolsonaro. Bolsonaro que foi eleito, aliás, falando abertamente que a ditadura foi ótima e prestando homenagens a ditadores, destilando machismo, racismo e homofobia sem o menor pudor, dentre tantos outros descalabros.

Pois no dia em que Moro foi finalmente declarado suspeito pelo STF, com alguns anos de atraso, o Brasil bateu o recorde de mortes em um único dia nesta pandemia: 3.251 vidas ceifadas. É uma ironia, ou talvez uma licão da História, terrivelmente macabra, pois a esmagadora maioria dessas mortes estão na conta do genocida que nos preside, ele mesmo, o dirigente maior do governo fascista/nazista que só está no poder por causa do trabalho cretino de Sergio Moro na Lava Jato.

Conclusão: tolerância é um belo valor humano, sem dúvidas, mas tolerância com o terror não é tolerância, é cumplicidade.

Essa demora exasperante para reagir às violências também não é aceitável. Demora é, não raro, sinônimo de estragos irreparáveis.

Por exemplo, as reações dos últimos dias ao morticínio: quantas associações, políticos, jornalistas, banqueiros, empresários resolveram cobrar o governo federal para que faça alguma coisa somente quando batemos os 300 mil mortos? (Oficiais, fora a subnotificação.) A tragédia que estava por vir foi explicada em detalhes por 10 a cada 10 especialistas, mas muita gente se omitiu. O momento de pedir ao governo que fizesse alguma coisa passou faz mais ou menos um ano. Agora, com 300 mil mortos e subindo, nenhum apelo a Bolsonaro se justifica. Quem está preocupado deveria se unir aos que pedem impeachment imediatamente.

O que o momento exige é óbvio: que toda a pressão da sociedade se volte contra os presidentes da Câmara e do Senado, para que deem início às CPIs e ao processo de impeachment do Hitler Tropical. (Se demorarem, como já estão demorando, serão também cúmplices do massacre.)

Um pouco mais à frente, contudo, precisamos discutir a sério mecanismos que diminuam a tolerância com o que não pode ser tolerado. Não adianta termos uma bela Constituição se a um reles juiz e um procurador de primeiro grau se permite fazer o que fizeram Moro e Dallagnol; se a manipulação midiática e das redes sociais imperam e distorcem a percepção popular dos acontecimentos; se o governo federal do país pode adotar uma ação política fascista/nazista e cometer um genocídio sem que nada aconteça.

Derrubar Bolsonaro é tarefa para ontem, portanto. Mas é preciso pensar desde já no amanhã. Urge criarmos mecanismos que permitam respostas rápidas e eficientes contra ataques à democracia ou a vida da população.

Esses mecanismos precisam ser amplamente estudados e discutidos, mas dois pontos, me parecem, são imprescindíveis. O primeiro é um projeto revolucionário na área da educação pública, para que esta seja universal e emancipadora – e assim permita que o nosso povo crie anticorpos intelectuais às manipulações da informação, o que por si só seria uma barreira considerável contra golpes e violências institucionais. A segunda é a radicalização da democracia no sentido de uma participação mais direta e frequente da população nas decisões de Estado, inclusive em relação ao poder Judiciário, para que não dependamos tanto da reação em slow motion dos poderes constituídos.

Uma coisa é certa, afinal, quanto ao futuro do Brasil: psicopatas como Bolsonaro e “juízes” como Moro não podem, nunca mais, ter a carta branca que estes dois tiveram (Bolsonaro ainda tem) para cometerem seus crimes contra uma população inteira.

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Pedro Breier

Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.

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Comentários

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Willy

26/03/2021 - 09h43

Nao tem jeito…a Bibaiada da tolerancia (ex resistencia) que finge pregar a pluralidade de ideias nao suporta opinioes contrarias…nenhuma novidade nisso.

Ugo

25/03/2021 - 22h10

Um conselho para Pedro Breier, se alguém fizer aquele sinal para você fale que não e se o cara insistir comece a correr o mais rápido possível pois não tem nada a ver com os supremacistas brancos….kkkkkkkkk

Juvenal

25/03/2021 - 21h56

Ser acusado de desonestidade intelectual pelo insignificante do Pedro Breier equipara-se a um elogio.
E eu posso até entender a aspecto de não ser o juiz natural da questão (o que não entendo é como “não viram isso antes”. Muito suspeito isso…), mas desde 2014 ele não tinha a isenção necessária?? Que piada.

Partagas

25/03/2021 - 19h55

Alguém sabe se os Presidentes da Republica ou Primeiros Ministros de França, Inglaterra, Belgica, Espanha, Italia, Portugal, Estados Unidos, entre outros…que possuem indices de obitos piores que o Brasil sao também chamados de genocidas para explorar os cadaveres politicamente ou é sò uma mongolice a moda esquerdofrenica terçeiromundista tupiniquim…?

Alguém explica como a responsabilidade pode ser de uma pessoa sò?
Isso é seriedade…?
Isso é respeitar a ciencia e principalmente quem perdeu a vida por causa de um virus…?

Nao està na hora de crescer e se tornar gente adulta…?

    Pedro Breier

    25/03/2021 - 22h48

    Esses presidentes e primeiros ministros que você citou deixaram de comprar vacinas quando podiam? aglomeraram e incentivaram o não uso da máscara? deixaram de comprar remédios pra intubação? falaram mal da vacina? deixaram de dar um auxílio emergencial decente pras pessoas? receitaram e distribuíram remédio sem eficácia e com efeitos colaterais graves pra população inteira?

      Partagas

      26/03/2021 - 07h12

      Sai da infantilidade na qual vc se esconde.

      Tony

      26/03/2021 - 07h20

      Vamos supor que não fizeram isso que vc disse (…obviamente vc não sabe minimamente o que acontece em outros países) mesmo assim o número de óbitos por milhão de habitantes contínua sendo superior ao do Brásil.

      A sua é só retórica de quinta categoria.

      Respeite a ciência, a medicina e principalmente quem morreu por causa desse vírus e não pelas palavras ou atos de um Presidente da República. Cada um de nós faz o que acha melhor e não é um Presidente da República ou outra pessoa qualquer a influenciar isso… cresça “bambino”.

        Tiago Silva

        26/03/2021 - 09h21

        Apenas um dados recentes que podem rever sua opinião, Tony.

        A subnotificação de casos no Brasil é imensa, muito pela baixa proporção de testes de Covid na população ou de casos, que aliás fizeram renomados cientistas afirmarem que ao invés de 300 mil mortes… Aqui já teria ocorrido 410 mil ou 415 mil mortes (a depender da metodologia adotada segundo reportagem da BBC de 25/03/2021).

        Noutra questão interessante é de um pesquisa sobre os atos legislativos, ações do desgoverno do Capetão na Justiça e que o El País revela que pesquisa constata que o Capetão realizou estratégia institucional de propagação do vírus (notícia de 21/01/2021), como também em pesquisa recente de cruzamento de dados eleitorais com as mortes de Covid revelam que nas cidades que se votou mais no Direitopata do Bozonero há mais mortes por 100 mil habitantes do que nas cidades que votaram mais no Haddad/PT.

        São pesquisas que podem melhorar sua percepção a apenas rebater opiniões que não gosta com argumentos fundamentados em “convicções” ou amor/ódio em defender o indefensável.

        Partagas

        26/03/2021 - 09h42

        Olha o esperneioooo kkkkkkkk

        carlos

        29/03/2021 - 10h53

        Alexandre, ao invés de justicar o injustificável, falando besteira na bodega porque não ensina geografia pra esse presidente apedeuta, esse analfabeto funcional.

      Ugo

      26/03/2021 - 07h32

      Pedro Breier….fale do que vc sabe e não papagaie tudo que ilhe convém por motivação política..

      Moro na Europa e em vários desses países a situação foi e é pior a do Brásil, faltaram vagas nas UTI, equipamentos de proteção para infermeiros e médicos e tiveram que escolher
      quem salvar entre mais jovens e idosos…

      A vacinação na Europa anda a ritmo inferior a do Brasil por falta de vacinas no mercado.

        Tony

        26/03/2021 - 09h44

        Então não mora na Europa, mora no “Brásil”, come merda e arrota caviar.

Zulu

25/03/2021 - 19h48

Lendo esses textos infantiloides para destrabelhados depensantes parece que o coronavirus seja um problema exclusivamente brasileiro e no resto do mundo nem exista.

O coronavirus é um virus quase desconhecido e ninguem possui a formula magica para amenizar o problema…. o Brasil està bem atras em numero de mortes por milhao de habitantes de varios paises desenvolvidos, com condiçoes economicas, igienico/sanitarias e cientificas bem superiores

Até o ritmo de vacinaçào de varios paises da Europa é inferiro ao do Brasil.

Os textos amongolados do Pedro Breier sao todos iguais do primeiro ao ultimo, nao entram nos detalhes, nao explicam os eventuais erros (pois quem os escreve nao sabe minimamente do que fala) mas se limitam sempre e exclusivamente a jogar tudo no colo de uma unica pessoa que casualmente é sempre a mesma pelo simples fato de nao ter gostado do resultado das ultima eleiçoes.

    Galinzé

    26/03/2021 - 09h46

    Mais um que “mora na Europa” hahahaha

    Vcs não cansam de ser ridículos??? kkk

Efrem Ventura

25/03/2021 - 19h32

“Uma coisa é certa, afinal, quanto ao futuro do Brasil: psicopatas como Bolsonaro e “juízes” como Moro não podem, nunca mais, ter a carta branca que estes dois tiveram (Bolsonaro ainda tem) para cometerem seus crimes contra uma população inteira.”

E’ uma impressao minha ou tem um jeitinho meio nazistoide/comunistoide essa frase do nosso humanista de ocasiao Pedrinho do Toddy…?

E’ um impressao minha ou o nosso Toddinho tem alguma intolerancia a democracia como todos os bons comunistoides…?

    Andressa

    26/03/2021 - 09h47

    “precisa aceitar a democracia”

Tontolão

25/03/2021 - 19h23

A unica coisa que precisam aprender é a fazer oposiçào…o resto do texto sao as asneiras de sempre.

    Sergio Araujo

    26/03/2021 - 09h48

    O gado já foi melhor heim kkkkkkkkkkk

Getúlio

25/03/2021 - 18h21

Parabéns Pedro Breier! Sempre aparecendo com textos que traduzem muita clareza cognitiva nas suas análises. Brindemos com um Cafezinho bem democrática e isento.

    Pedro Breier

    25/03/2021 - 22h43

    Valeu mestre!

Tiago Silva

25/03/2021 - 18h02

Apenas um adendo ao texto corajoso do articulista quando fala de mecanismos para defender a democracia, especialmente sobre a educação (“O primeiro é um projeto revolucionário na área da educação pública, para que esta seja universal e emancipadora”)…

Apenas relembro que em 2018 os maiores apoiadores do Capetão NeoNazista (Neoliberal + NeoNazista) foi de pessoas de classe média e classe alta com ensino superior (que reputo a maioria desse público advindo do sistema privado). Daí o “mecanismo” tem que ser orientado não só para a educação pública, mas principalmente aos advindos da educação privada que parece que absorvem mais a lógica privada de utilitarismo Neoliberal… Não a toa que os descontentes ou arrependidos do Capetão fluem para serem eleitores do NeoFascista (Neoliberal + NeoFascista) do ex-Juiz Corrupto do Moro, além de que ainda hoje a maioria dos apoiadores do Capetão ainda são os que se consideram “empresários”.

    Pedro Breier

    25/03/2021 - 22h44

    Muito bem colocado, Tiago, tem razão.

Galinze

25/03/2021 - 17h45

O choro e a espuma saíndo da boca do Gilmar Mendes após o voto do Ministro Nunes não foiram levemente parciais…?
Eu nunca tinha visto uma cena dessa por parte de um juiz….patético.

É bom que o STF tome essas decisões…aumentam a simpatia dos brasileiros para a instituição e para o Lula e Cia…

O TRF4 e o STJ confirmaram os crimes de Lula que são indiscutíveis e os brasileiros fora e dentro da bolha esquerdofrenica sabem muito bem disso.

O resto é clara intervenção política do STF e de Gilmar Mendes principalmente para tentar por alguém no outro lado da balança das eleições de 2022 pois atualmente não existe ninguém com a mínima chance de incomodar Bolsonaro.

Esse alguém não será Lula que a cada sentença a próprio favor chora de raiva por se tornar elegível e ser obrigado a se candidatar sem querer ou ter que inventar uma mentira para fugir.

    Paulo

    25/03/2021 - 21h46

    GM não “espuma pela boca” pra criar alternativas, em 2022. Ele não está nem aí pra Lula e pro quadro político-partidário. Ele “espuma” pelo ódio que devota a Moro e à sua derivação, Bretas…

    Valeriana

    26/03/2021 - 09h49

    Ministro Nunes traidor kkkkkkkkkkkkkkkk

    impagável

Paulo

25/03/2021 - 17h43

Não se preocupe, Pedro, qualquer um que entre em 2023 terá como 1ª preocupação aparelhar os tribunais superiores e a PGR…

Alexandre Neres

25/03/2021 - 17h02

Parabéns, Pedro Breier! Foi um dia histórico para nós, democratas. É duro depois de todas as cartas na mesa alguns incautos ainda defenderem os corruptos que participaram dessa farsa judicial. A fedentina que o marreco exala me causa engulhos. Nosso estado democrático de direito foi estuprado, o lavajatismo gerou o bolsonarismo e os isentões inda querem se livrar da responsabilidade de nos terem trazido ao pandemônio no qual se é praticado genocídio. Entrementes, parte da nossa elite virtuosa que fez um pacto por cima, desrespeitou as regras do jogo democrático e a soberania popular, perseguiu a maior liderança do país por meio de lawfare, se dá ao luxo de ser contrária ao lockdown e ainda por cima ser vacinada às escondidas.

    Pedro Breier

    25/03/2021 - 22h44

    Valeu Alexandre.


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