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Confira a análise do cientista político Felipe Nunes sobre a pesquisa Genial/Quaest

Por Felipe Nunes A pesquisa Genial/Quaest publicada hj mostra Lula e Bolsonaro com o mesmo % de intenção de voto em relação ao mês passado. Lula tem 46% e Bolsonaro 31%. Após um mês repleto de atos, declarações e equívocos de ambos os lados, como explicar essa estabilidade? O favoritismo de Lula continua sendo explicado […]

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Imagem: Divulgação

Por Felipe Nunes

A pesquisa Genial/Quaest publicada hj mostra Lula e Bolsonaro com o mesmo % de intenção de voto em relação ao mês passado. Lula tem 46% e Bolsonaro 31%. Após um mês repleto de atos, declarações e equívocos de ambos os lados, como explicar essa estabilidade?

O favoritismo de Lula continua sendo explicado pela relevância da economia real na vida do cidadão. Para 50%, a economia é o principal problema enfrentado pelo país hoje. ‘É a economia, estúpido!’.

Continua muito alto (59%) o percentual de eleitores com dificuldade de pagar suas contas nos últimos meses.

Entre os 50% preocupados com a economia, 18% dizem que é a inflação o principal problema do país e 13% o desemprego. Em set/21, apenas 6% diziam espontaneamente que a inflação era o principal problema. Esse protagonismo da inflação é preditor de eleição de mudança.

Não por acaso, 58% dos brasileiros acham que Bolsonaro não merece um segundo mandato como presidente, enquanto 53% acham que Lula merece voltar a ocupar o Executivo federal.

A estabilidade entre abril e maio/22 nas intenções de voto de Lula é explicada por dois movimentos, um favorável e outro desfavorável. Por um lado, Lula ganhou mais apoio entre as mulheres. Passou para 50% o percentual de mulheres que votam em Lula (+3 pts), enquanto apenas 24% votam em Bolsonaro. O crescimento do presidente entre os homens é impressionante, vale notar.

Por outro lado, Lula perdeu 4 pontos entre os evangélicos e viu Bolsonaro crescer 9 pts. Ou seja, os 3 pontos a mais dentro do eleitorado feminino (1.6 pontos no total), foram anulados pelos 4 pontos a menos dentro dos evangélicos (1.2 pontos no total).

Após tantas polêmicas, Lula tem que comemorar esse null effect no momento, e se preocupar com o efeito negativo que ainda está por vir. Ao contrário do que muitos disseram, 53% dos eleitores não sabem ainda das falas polêmicas de Lula sobre o aborto.

No público evangélico, 47% ainda não sabem do assunto. Ou seja, com o decorrer da campanha, e o uso da fala pela campanha de Bolsonaro, a rejeição do eleitorado à legalização do aborto deve diminuir o atual favoritismo de Lula.

Quando informados, 50% dos eleitores disseram que uma posição favorável ao aborto afeta negativamente a chance de voto em um candidato e 40% que não altera.

Entre os eleitores evangélicos, 62% dizem que podem mudar o voto em função do aborto.

A estabilidade de Bolsonaro também é explicada por movimentos contrários. A pesquisa detecta uma melhora nas intenções de voto de Bolsonaro entre os homens, adultos e evangélicos, mas também no Centro-Oeste, onde o presidente já aparece 18 pontos à frente de Lula.

A tendência de melhora apresentada nos últimos meses, só foi interrompida por conta dos confrontos do presidente com o STF e o TSE. A maior parte dos eleitores (45%) reprovou o perdão presidencial ao deputado Daniel Silveira, condenado por ameaças aos ministros do STF.

A graça presidencial ao deputado Silveira engajou os setores radicais da campanha (64% aprovaram a medida), mas afastou o eleitor moderado que vinha se aproximando do presidente (54% reprovaram a medida).

Como os eleitores de Bolsonaro e Lula já estão bem definidos, é a faixa dos Nem-Um-Nem-Outro que vai decidir a eleição. Entre esses eleitores, a maioria reprovou a ação do presidente.

O afastamento dos moderados explica por que caiu o número de eleitores que votaram em Bolsonaro em 2018 que defendem a sua reeleição. Eram 63% em abril e são 58% hoje (-5pts).

O levantamento mostrou ainda que a faixa de brasileiros que desconfia das urnas eletrônicas caiu de 29% para 22% desde setembro do ano passado, quando foram organizados protestos pedindo o voto impresso.

A desconfiança só é mais alta entre os eleitores que torcem pela reeleição de Bolsonaro (36% não confia x 23% confia). No eleitor nem-nem, a confiança nas urnas é de 45%. Ou seja, a agenda de conflito institucional diminui as chances de Bolsonaro atrair o eleitor da 3ª via.

Embora tenha parado de crescer pelos erros de estratégia cometidos por ele mesmo, vale destacar que há 2 boas notícias para o presidente na pesquisa. É o terceiro mês seguido de queda na avaliação negativa de seu governo: era 51% em fev/22 e agora é 46%.

A queda na rejeição ao governo já pode ser observada, por exemplo, no Nordeste, no Sul e no Centro-Oeste.

Também é boa notícia para o presidente a queda contínua de sua rejeição. Entre fev/22 e mai/22, a rejeição à Bolsonaro caiu 7 pontos percentuais.

Quem definitivamente não tem o que comemorar são as opções da 3ª via. Em todos os cenários testados, nenhum dos nomes disponíveis ultrapassa os 10 pontos percentuais. Ciro chega no máximo a 10%, Dória chega a 5%, Tebet a 4%, Janones a 3% e Felipe D’Avila a 1%.

Para piorar, enquanto continua alto o percentual de eleitores de Bolsonaro e Lula que se dizem decididos em continuar votando neles (75% e 76%), o percentual de decisão nos eleitores da 3ª via é muito baixo (29%).

A pesquisa Genial/Quaest foi feita entre 5 e 8/05, 2.000 entrevistas presenciais domiciliares em 120 municípios nas 5 regiões do país. A margem de erro é de 2 pontos percentuais com 95% de nível de confiabilidade. A pesquisa está registrada no TSE sob o número BR-01603/2022.

Felipe Nunes é PhD em Ciência Política, professor da UFMG, especialista em pesquisa de opinião e diretor da Quaest

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