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Bolsonaro estaciona no Leblon

É claro que o principal assunto do dia no jornalismo político não poderia deixar de ser os 100 dias do governo Lula e embora esse título sugira que eu vá falar sobre outras coisas, esse artigo não deixa de falar sobre a mesma pauta do dia. Em março deste ano a notícia “Caetano estaciona no […]

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Foto: reprodução

É claro que o principal assunto do dia no jornalismo político não poderia deixar de ser os 100 dias do governo Lula e embora esse título sugira que eu vá falar sobre outras coisas, esse artigo não deixa de falar sobre a mesma pauta do dia.

Em março deste ano a notícia “Caetano estaciona no Leblon” completou 12 anos e foi eternizada nos anais do jornalismo brasileiro quando o carro do cantor foi fotografado estacionado em uma vaga no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. O valor-notícia de tal fato? Nenhum, mesmo assim acabou publicado, virando alvo de memes e zombarias ao longo dos anos.

Infelizmente, hoje em dia, boa parte do jornalismo político no Brasil decidiu se comportar como uma editoria típica de sites de fofoca, onde o dever social da imprensa é deixado de lado. E porque eu digo isso? Respondo com outra pergunta!

Falando só do passado recente do Brasil, alguém lembra de ver a imprensa cobrir o ex-presidente Michel Temer de maneira tão detalhista? Lembram de alguma matéria com a ex-primeira dama Marcela Temer? Ou então uma cobertura assídua da sua rotina pós-governo?

E com a Dilma? Não?

Desde que o ex-presidente Jair Bolsonaro saiu do poder, a imprensa segue cobrindo sua rotina como se ele ainda fosse o presidente de plantão. Desde seu autoexílio nos EUA, até o seu retorno ao Brasil, saíram matéria falando sobre inauguração de fast food com o ex-presidente, adesivo do avião em que retornou ao Brasil e até mesmo desvios de rota do voo.

Até mesmo a venda de cosméticos da ex-primeira dama virou até mesmo capa de jornal e mais recentemente entrou nas manchetes o seguinte título: “‘É macho, um varão’, diz Bolsonaro ao saber que será avô de um menino”.

A cobertura da imprensa sobre ex-presidentes pode depender de diversos fatores, como a importância histórica e política do ex-presidente em questão, os eventos relevantes que ocorrem na vida desse ex-presidente, e a relevância das suas ações e posicionamentos atuais para o cenário político atual.

Em muitos casos, ex-presidentes podem ter uma importância significativa para o país e para o mundo, seja por suas realizações durante o mandato ou por seu papel na história política e social. Nesse sentido, a imprensa pode considerar importante cobrir a vida e as atividades desses ex-presidentes, especialmente se eles continuam sendo figuras públicas ativas e se aspectos da sua vida ou tais atividades continuam impactando o cenário nacional.

Por outro lado, a imprensa também pode optar por não dar uma cobertura diária a ex-presidentes que não estão mais no poder e que não têm mais um papel ativo na política ou na vida pública, a menos que acontecimentos relevantes ocorram em suas vidas.

Cabe ressaltar que a imprensa tem o papel importante de informar e formar a opinião pública, e deve agir de forma ética e imparcial na cobertura de eventos e personalidades públicas. A decisão sobre qual cobertura dar a ex-presidentes deve ser tomada com base em critérios jornalísticos, levando em conta a relevância e o interesse público das notícias.

A julgar pelas ultimas manchetes, acho que está está óbvio que não há qualquer critério jornalístico para uma cobertura que, no noticiário político, é dispensada para políticos no exercício de seus mandatos e que no jornalismo de fofoca, é dispensada para celebridades. Bolsonaro não é qualquer um dos dois.

E isso ocorre enquanto parte do jornalismo brasileiro se preocupa em fazer uma péssima cobertura dos 100 dias do governo Lula, mesmo que seja pelo lado crítico. A crise do jornalismo é causada pelos “donos” do jornalismo. Basta ver que grandes profissionais são demitidos todos os dias, as pautas se tornam cada vez mais rasas e as redações, cada vez mais câmaras de eco.

Se até hoje estamos rindo do “Caetano estaciona no Leblon”, infelizmente, teremos muito a lamentar quando sair o título “Bolsonaro estaciona no Paranoá”, será mais um vagão no trem descarrilhado de fracassos do jornalismo brasileiro.

Não estou aqui apelando para o fictício jornalismo “imparcial”, isso não existe. Estou clamando pela honestidade. No fundo, acho que somos todos idealistas.

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Cleber Lourenço

Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_

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EdsonLuíz.

11/04/2023 - 18h50

Corruptos e milicianos se combate juntos; apoiadores de ditadores se combate juntos.
▪Não pode ter essa de livrar a cara de miliciano para derrotar corrupto; ou,
▪Ter essa de livrar a cara de corrupto para derrotar miliciano.

E se forem, os dois, igualmente inimigos da demicracia, apoiadores de Órdem ditatorial e os dous igualmente populistas, o combate tem que ser sem tréguas. Ainda mais para alguém ideologicamente de esquerda, como eu.

Alexandre Neres

11/04/2023 - 09h06

Quem acompanha esse Portal já se deu conta de que o senhor Edson Luiz quer pagar de isentão, mas está sempre tentando normalizar o genocida, como, por exemplo, tentando retirar do dito cujo o rótulo que lhe foi pespegado de fascista. Seguindo sua linha de raciocínio, para se caracterizar algum regime como fascista teriam que se reproduzir todas aquelas condições que vigoraram quando do surgimento do fascismo histórico, o que na prática não é factível. Vou reproduzir características que o escritor e semiólogo Umberto Eco via como típicas do que chama de fascismo eterno: o culto da tradição; o tradicionalismo implica a recusa da modernidade; o irracionalismo depende também do culto da ação pela ação; o desacordo é traição; é racista por definição; provém da frustração social ou individual; a obsessão da conspiração, possivelmente internacional; estão condenados a perder suas guerras, pois são incapazes de avaliar objetivamente a força do inimigo; não há luta pela vida, mas vida para a luta; elitismo popular; cada um é educado para tornar-se um herói, sendo o heroísmo a norma; machismo; populismo qualitativo; novilíngua; e assim por diante.

Porém não é disso que quero tratar, mas, sim, de um ponto que o senhor Edson Luiz aborda reiteradamente: o populismo de Lula seria comparado ao do mitômano. Usada de forma indiscriminada, a palavra é tão problemática que devemos nos indagar se o próprio discurso antipopulista não estaria permeado de demagogia e de manipulação, e, de acordo com seus próprios critérios, sendo populista.

O uso do termo “populismo”, que é polissêmico e complexo, para sustentar uma falsa simetria baseia-se em um recurso retórico antigo, pois tal falácia que visa difamar por meio de associação. Rotular os dois como equivalentes significa ignorar o abismo que os separa. Na verdade, é difícil de fazer uma comparação de salnorabo com qualquer outro chefe de Estado democraticamente eleito no decorrer da nossa História. Mesmo antes de chegar à presidência, sua carreira política já era marcada pela apologia da tortura e da ditadura, da esterelização dos pobres, por ameaças de fechar o Congresso e o STF, e pela pregação da maiores barbaridades homofóbicas, racistas e misóginas. Uma vez no poder, incitou sua militância contra parlamentares e juízes, foi conivente com a propagação de um vírus mortal e isolou o país do restante do mundo, nada nem sequer remotamente próximo ao modus operandi do PT. A passagem deste partido pela administração federal notabilizou-se pelo respeito às instituições da democracia liberal.

Usar o termo populista para criar associações esdrúxulas não é exclusividade brasileira. Assim como Trump, Bernie Sanders também fora tachado de populista, sendo essa uma tática utilizada no contexto de guerra interna entre a esquerda e a direita do Partido Democrata nas primárias de 2020 para fortalecer uma candidatura moderada, in casu a de Biden. Na França, o discurso que apresentava Mélenchon como o outro Le Pen serviu para tirar a credibilidade da alternativa à esquerda a Macron.

A retórica que se vale do termo populismo para tentar igualar políticos com diferenças tão profundas no compromisso com a democracia liberal é arriscada. Como ficou claro no caso brasileiro, além de ser ineficaz para alavancar uma candidatura de centro, produz outros efeitos colaterais. Já em 2018, tal estratégia, em vez de servir de combustível para desidratar o mitômano junto ao eleitorado antipetista, serviu para naturalizá-lo. “Bolsonaro é populista. O PT é populista. Logo, Bolsonaro não será pior do que os governos petistas”. Esse silogismo é um dos grandes trunfos da campanha bolsonarista. Esse tipo de recurso retórico reabilita o capetão e confere às eleições das quais participa um aspecto de normalidade, escamoteando o caráter aberrante de sua candidatura. A partir do momento em que alguns dos seus opositores o consideram mais um adversário, e não como o adversário a ser derrotado, sua força eleitoral aumenta. No mínimo, esse discurso contribuiu para que uma parcela significativa do centro e da direita moderada anulasse o seu voto. Em muitos casos, deu salvo-conduto para quem desejava votar em salnorabo, mas tinha vergonha disso.

A naturalização do genocida como candidato e presidente também banaliza suas ideias e move o espectro político na direção da direita reacionária. Uma parte importante do processo político é a definição do que é ou não considerado legítimo no debate público. Questionar o discurso hegemônico pode servir para apontar os pontos cegos da democracia liberal de forma a incluir setores invisibilizados. Contudo, não é isso que ocorre no bolsonarismo. O que esse movimento faz é dar voz ao que Hanna Arendt chamava de ralé, cuja inclusão na esfera pública não emancipa ninguém, pelo contrário aprofunda o silenciamento de grupos subalternizados e coloca em risco a própria existência da democracia liberal. Falas como as que fazem a apologia de golpes de Estado, que dez anos atrás eram inaceitáveis, passaram a ser veiculadas e debatidas de forma corriqueira, como se fosse uma alternativa banal.

Embora esse senhor vezenquando se apresente como progressista ou esquerdista, fazendo uma análise mais detida das ideias que advoga, resta evidente sua posição reacionária ao fazer o jogo sujo da extrema-direita, tentando normalizá-la, e sua ligação atávica com o espírito udenista, permeado de falso moralismo, que costumava criticar o populismo e incensar golpes pelo fato de ser ruim de voto.

Edu

11/04/2023 - 08h50

O bostanaro é o cachorro louco que latia mais alto contra a Esquerda. Or isso, cadelinhas de tidos os matizes foram lamber a caceta do CAPETÃO CORNO, ícone da milícia assassina do RJ.
Claro que alguns tem uma fagulha de senso crítico e uma finíssima película de vergonha na cara e, aí, chutam a bunda do genocida, sem antes fazer a simetria calhorda com a Esquerda. Mas o que podemos esperar de um canalha desgraçado ??????
Por isso, temos 101% de certeza que têm pai fictício… se é que entendem …
Talvez, um cara com um pé de mesa dentro das calças e com camisa vermelha, trabalhou suas genitoras enquanto eles observavam pelo buraco da fechadura. Vai saber …

Paulo

10/04/2023 - 23h23

De fato, há, comparativamente (bem observado), uma superexposição do dia-a-dia do ex-presidente. Mas creio que isso se deva ao “interesse jornalístico” que desperta, ou seja, pelo desejo mais rasteiro de audiência, leituras, etc…Sim, porque Bolsonaro ainda representa quase metade do eleitorado brasileiro, e uma metade francamente engajada e potencialmente consumidora – infelizmente…

EdsonLuíz.

10/04/2023 - 22h17

Eu adoro o jornalismo brasileiro!

Como faz décadas estou desligado de correntes políticas, nenhuma abordagem feita por bons jornalistas atingem suscetibilidades em mim e me causam maior desconforto por contrariar o que penso.

Com isso de estar distanciado de correntes políticas, aumentou mais ainda a admiração que tenho por bons jornalistas.

Eu não vejo problema nenhum em jornalista ou qualquer outr@ profissional ser politicamento posicionado; para mim, isso até o valoriza. Mas para @ jornalista ter maior valor para mim, el@ e qualquer outr@ precisa ter honestidade intelectual e preparo para se posicionar e mesmo assim manter isenção. Só com o preparo para manter a isenção ele consegue me passar a confiança em sua honestidade, e mesmo quando é muito bom jornalista, mesmo assim ele não consegue essa isenção sempre. Ocorre que, ao mesmo tempo se posicionar e ser isento é tarefa realmente muito difícil e há que se relevar alguns escorregões nesse compromisso.


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