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Dino, Gilmar e Lira falam sobre o 8 de janeiro

O segundo domingo do ano de 2023 entrou para a história do país. Naquele 8 de janeiro, vândalos destruíram prédios dos três poderes e gozaram (até segunda ordem) de uma impunidade que era marca do bolsonarismo até aquele momento. O Supremo Tribunal Federal (STF), até agora, tornou 1.290 manifestantes réus no processo que julga os […]

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Flávio Dino, Ministro da Justiça - Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O segundo domingo do ano de 2023 entrou para a história do país. Naquele 8 de janeiro, vândalos destruíram prédios dos três poderes e gozaram (até segunda ordem) de uma impunidade que era marca do bolsonarismo até aquele momento. O Supremo Tribunal Federal (STF), até agora, tornou 1.290 manifestantes réus no processo que julga os atos e uma Comissão Parlamentar de Inquérito está em curso para investigar o que de fato ocorreu nesse dia.

A revista Veja entrevistou um representante de cada um dos três poderes para relatar sua perspectiva dos acontecimentos de um dia que, segundo Flávio Dino, “ainda não acabou”.

Flávio Dino

Após seis meses, muito ainda não foi esclarecido sobre os atos do 8 de janeiro. Flávio Dino, ministro da justiça, contou à Veja como viveu aquele dia tão latente em sua memória, dado que dos três entrevistados, ele era o único que estava no distrito federal. Segundo o ministro, havia um estado de alerta, uma vez que ele teria sido avisado dos acampamentos nos quartéis. No entanto, Dino foi tranquilizado pelo Governador Ibaneis Rocha, que foi afastado por Alexandre de Moraes do cargo, mas já retornou ao governo do DF. Segundo Ibaneis, tudo estava tranquilo e Dino foi almoçar tranquilamente com a família, mas não demorou muito para que o ministro recebesse as primeiras imagens dos vândalos no início da tarde.

“Percebi que a coisa poderia sair do controle e rumei para o ministério. Era apenas o início de um dia que ainda não acabou. A invasão do Congresso aconteceu diante dos meus olhos”, disse Dino. O ministro relatou que ficou muito nervoso ao ver tudo aquilo e teve, inclusive, um embate com militares.

“Fui ao Quartel do Exército e disse que a gente ia prender todo mundo que estava no acampamento. […] A maioria do Alto-Comando torcia — e friso este verbo, torcia — para que o levante tivesse dado certo. Repeti sem parar para o comandante do Exército: ‘General, nós vamos pegar todos, sem exceção. É a minha ordem’. Ele tentou crescer para cima de mim.”, contou Dino. Para o ministro havia “simpatia” por parte das forças armadas para uma “virada de mesa”.

No entanto, mesmo com as prisões efetuadas apenas no dia seguinte, Dino disse sentir que tudo foi feito da maneira como deveria. Para ele, juntar a PM e o Exército na mesma situação poderia ser perigoso para as pessoas que ali estavam.

Ele finalizou o depoimento contando que durante a pandemia, quando não havia mais vagas em hospitais do Maranhã para internar os doentes, ele socava a parede. No 8 de janeiro o ministro não socou a parede, mas disse que teve vontade de “socar certas pessoas”.

Gilmar Mendes

O ministro do Supremo Tribunal Federal estava em Portugal no dia dos atos golpistas e conversava com um amigo sobre a até então “tranquila transição” de poder. Gilmar Mendes, no entanto, foi surpreendido com imagens que colocaram por terra suas crenças.

“Desde as comemorações do Sete de Setembro de 2021 eu temia que algo como aquilo ocorresse. Liguei de imediato para os ministros Flávio Dino, Alexandre de Moraes, e para a presidente Rosa Weber. Todos estavam tentando entender o que estava acontecendo.”, disse o magistrado à Veja. Ele conta que Dino o contou tudo que estava vendo e que decidiu de prontidão adiantar sua volta ao Brasil. Quando chegou, depois de cessada a quebradeira, viu um cenário de destruição.

“Eram só escombros. Os aparelhos quebrados, as obras de arte no chão, as salas alagadas, os móveis queimados. Consegui sentir o nível de animosidade daquelas pessoas.”, disse Gilmar, que também relatou à revista que chorou ao presenciar aquilo tudo.

“O país enfrenta uma série de problemas, mas sempre achei que tínhamos maturidade para driblar coisas assim, a despeito de toda a radicalização.”, destacou o magistrado diante da incredulidade da situação.

Ele, enquanto caminhava pelos escombros, tentava entender como o país tinha chegado até ali e o que teria que fazer para que isso não acontecesse de novo. Gilmar Mendes que o Brasil cometeu uma série de erros ao deixar “o populismo avançar”, resultando na eleição de Bolsonaro, mas reiterou que não acreditava que houvesse “condições para um golpe”.

“Ainda existem detalhes obscuros nessa história. Tenho a impressão de que a maioria do Alto-Comando das Forças Armadas é legalista, mas não foi por acaso que a polícia de Brasília não fez nada naquele dia. É preciso investigar a fundo e punir quem cometeu crimes.”, concluiu o ministro.

Arthur Lira

O presidente da Câmara dos Deputados estava em Maceió e também foi tranquilizado pelo Governador Ibaneis Rocha, mas ao ver as imagens do que estava acontecendo o questionou: “Governador, eu não estou vendo a polícia na televisão. Não sei onde ela está”.

Lira relatou que recebeu áudios com barulhos de bombas e explosões e que decidiu voltar à Brasília assim que tomou conhecimento do que acontecia. Ele também disse que ligou para Lula, que estava notavelmente nervoso com situação.

“Minha percepção é que o governo não tinha o apoio das Forças Armadas nem das Polícias Militares. O clima era tenso. Lula estava revoltado e preocupado com a situação, como todos.”, disse o presidente da câmara.

Por volta de uma da manhã de segunda-feira, pouco depois de chegar em Brasília, Lira foi ver o resultado dos atos golpistas por ele mesmo. “Era como se o Congresso tivesse sido alvo de um bombardeio. Todos os vidros, todos os móveis da chapelaria, as obras de arte, os documentos — tudo foi destruído. O Salão Verde estava encharcado. O pessoal entrou nos gabinetes, urinou em cima das mesas, danificou equipamentos e ateou fogo nos computadores.”, relatou.

Lira também questionou o porquê de não ter existido contenção aos manifestantes: “Os criminosos portavam cassetetes, granadas, armas, bombas caseiras. Ou seja, estavam preparados para atacar e ninguém fez nada. Essas situações precisam ser investigadas, e serão.”

Para o presidente da câmara, não há comparação entre o 8 de janeiro e qualquer outra manifestação no país. Ele afirma, ainda, que ficou claro ter existido um “movimento organizado de desrespeito à ordem, uma tentativa de criação de Estado anárquico”.

Lira disse à Veja que torce e trabalha para que o episódio seja esclarecido, os responsáveis devidamente punidos e isso não volte a acontecer. Ele, ainda, concluiu dizendo que “aquele movimento radical não representa o pensamento médio da direita. Apesar disso, acho que a direita e o bolsonarismo perderam”.

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