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O emocionante relato de Marina

No dia dos pais, neste domingo (13), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, publicou um relato pessoal em homenagem a seu pai, o seringueiro Pedro Augusto da Silva. No seringal Bagaço, a 70 km da capital Rio Branco, no Acre, onde morava com seu pai, sua mãe, a dona de casa Maria Augusta da […]

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Marina Silva e seu pai, Pedro Augusto da Silva. Foto: Reprodução

No dia dos pais, neste domingo (13), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, publicou um relato pessoal em homenagem a seu pai, o seringueiro Pedro Augusto da Silva.

No seringal Bagaço, a 70 km da capital Rio Branco, no Acre, onde morava com seu pai, sua mãe, a dona de casa Maria Augusta da Silva, e seus 8 irmãos, Marina notou uma ferida em seu nariz nos últimos meses antes de completar 5 anos. Dentre os vários palpites, dado o tempo prolongado que o sinal permaneceu no rosto da menina, a família começou a suspeitar até de “picada de mariposa” – mal sabiam que, mais tarde, o diagnóstico seria de leishmaniose.

“Coitadas das mariposas, as chamadas “bruxas”, inofensivas borboletas vestidas de marrom, minha cor preferida, não tinham culpa daquela grave doença, a leishmaniose, que era trazida por outro transmissor. Mas o problema é que o diagnóstico estava correto e eu poderia ser mais um daqueles tristes casos que cheguei a conhecer, no seringal, de pessoas com seus rostos deformados pela doença”, disse, no relato.

Marina conta que seu pai, Pedro, saiu às 4 da manhã a caminho da sede do seringal para conseguir ampolas de injeção para curar a doença da filha. Caminhou por onze horas na ida, onze horas na volta e trouxe o remédio, que viria a ser a cura. Apesar dos efeitos colaterais das injeções, “pois eram uma versão mais barata, que se usava em populações pobres da África e da Amazônia”, como era a família de Marina, ela foi curada.

“[Meu pai] chegou à noite, exausto e coberto de lama, deitou-se no chão da casa com os braços acima da cabeça e os pés ainda na escada. Disse pra minha mãe ferver a água com o aparelho de aplicar injeções e esperou no chão, na mesma posição. Depois, com o aparelho na mão, tentou me tranquilizar, dizendo que não ia doer muito, ia ser como se fosse uma picada de “caba”, ou marimbondo.Durante 45 dias me aplicou as tais injeções”

Marina considera que a cura da leishmaniose veio não somente da medicina, mas do “ato de imenso amor” do pai, que se mostrava dedicado em cuidar, zelar e se responsabilizar pela família.

“Meu pai era assim, vivia em estado de permanente cuidado por tudo e por todos, principalmente pela sua família. No Dia dos Pais, sei que meu irmão e minhas irmãs estão com o pensamento nele e lembram de histórias como esta, de sua vida dedicada às nossas vidas. No fundo do coração faço uma prece: Deus, pai de toda a humanidade, inspire-nos ao amor e abençoe todos os papais acolhendo seus filhos do sangue ou do coração”, concluiu.

A leishmaniose no Brasil

A enfermidade que acometeu a ministra Marina Silva não se restringe a ela. Hoje, a leishmaniose é uma doença que atinge principalmente a população mais negligenciada do país, que não tem acesso a uma estrutura adequada de saneamento básico, atenção à saúde e educação básica, como o meio rural.

A doença pode ser transmitida por parasitas em insetos, como mosquitos, que passam para animais vertebrados que atuam como reservatórios, como o cão, antes de contaminar o ser humano. A leishmaniose cutânea, atinge a pele e as mucosas, enquanto a visceral chega aos órgãos internos, como o fígado, baço e medula óssea – esta segunda pode levar à morte, apesar de haver tratamento e cura.

Além de ser considerada um problema de saúde pública no Brasil, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a leishmaniose como uma das doenças mais negligenciadas do planeta – são registrados, em média, 500 mil casos ao ano no mundo.

Apesar do relato de Marina ter acontecido nos anos 60, ele ilustra, também, a realidade de milhares de brasileiros em áreas afastadas do meio urbano e menos notadas pelos governos. Segundo o Ministério da Saúde, entre 2015 e 2020, mais de 16 mil pessoas se contaminaram com leishmaniose cutânea no país, com ênfase nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste.

Diante deste cenário, mostra-se mais do que necessária a preocupação com a saúde da população do país. Diferente dos últimos anos durante a pandemia de covid-19, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, quando a importância da saúde e da ciência eram constantemente colocadas em dúvida e descredibilizadas, a situação tende a melhorar. No início deste ano, com a posse do presidente Lula, ele afirmou que “recursos para educação e saúde são investimento, não gasto”. Hoje, o chefe do Executivo tende a olhar com mais cuidado para as populações mais negligenciadas e, assim, garantir que as histórias como a de Marina Silva não precisem ser repetidas.

Leia o relato de Marina Silva na íntegra

No início dos anos 60, quando eu tinha de 4 pra 5 anos, apareceu uma pequena ferida em meu nariz. Vendo que ela demorava a sarar, minha família começou a se preocupar pois poderia ser “ferrada de bruxa”. Coitadas das mariposas, as chamadas “bruxas”, inofensivas borboletas vestidas de marrom, minha cor preferida, não tinham culpa daquela grave doença, a leishmaniose, que era trazida por outro transmissor. Mas o problema é que o diagnóstico estava correto e eu poderia ser mais um daqueles tristes casos que cheguei a conhecer, no seringal, de pessoas com seus rostos deformados pela doença.

Então meu pai saiu às 4 da madrugada, rumo à sede do seringal, em busca de remédio. Caminhou onze horas pelo varadouro enlameado e comprou as ampolas para injeções, depois caminhou outras onze horas de volta. Chegou à noite, exausto e coberto de lama, deitou-se no chão da casa com os braços acima da cabeça e os pés ainda na escada. Disse pra minha mãe ferver a água com o aparelho de aplicar injeções e esperou no chão, na mesma posição. Depois, com o aparelho na mão, tentou me tranquilizar, dizendo que não ia doer muito, ia ser como se fosse uma picada de “caba”, ou marimbondo.

Durante 45 dias me aplicou as tais injeções. Mais tarde descobri que elas tiveram fortes efeitos colaterais, pois eram uma versão mais barata do remédio, contendo antimônio, que se usava em populações pobres da África e da Amazônia, como era minha família. De todo modo, curou-me a leishmaniose, da qual restou apenas um sinal no nariz. Hoje sempre penso que a cura daquela enfermidade deu-se por um ato de imenso amor de meu pai. E esta foi apenas uma das inúmeras demonstrações de seu zelo, dedicação e enorme senso de responsabilidade.

Meu pai era assim, vivia em estado de permanente cuidado por tudo e por todos, principalmente pela sua família. No Dia dos Pais, sei que meu irmão e minhas irmãs estão com o pensamento nele e lembram de histórias como esta, de sua vida dedicada às nossas vidas. No fundo do coração faço uma prece: Deus, pai de toda a humanidade, inspire-nos ao amor e abençoe todos os papais acolhendo seus filhos do sangue ou do coração.

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