Trump processa New York Times e Penguin Random House por US$ 15 bilhões, alegando “difamação e calúnia”
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta terça-feira (16) que entrou com um processo judicial de US$ 15 bilhões contra o New York Times e a editora Penguin Random House, alegando difamação e calúnia. Em publicação feita em sua rede social, Truth Social, Trump declarou:
“Hoje, tenho a grande honra de entrar com um processo de US$ 15 bilhões por difamação e calúnia contra o The New York Times”.
O republicano afirmou que a ação seria protocolada na Flórida, mas não detalhou as acusações específicas. No entanto, o valor solicitado — US$ 15 bilhões — supera o valor de mercado total da The New York Times Company, o que já gerou repercussão imediata no meio jurídico e entre analistas de mídia.
Acusações e alvo do processo
Trump acusa o jornal e a editora de publicarem informações falsas sobre ele, sua família e seus negócios. O processo também cita quatro repórteres do New York Times, sendo que dois deles participaram da criação do livro publicado pela Penguin, intitulado “Lucky Loser: How Donald Trump Squandered His Father’s Fortune and Created the Illusion of Success” (Perdedor de Sorte: Como Donald Trump Desperdiçou a Fortuna de Seu Pai e Criou a Ilusão do Sucesso, em português).
Com 85 páginas, o documento judicial contém não apenas alegações de difamação, mas também trechos que parecem artigos de opinião pró-Trump, com elogios repetidos ao presidente e menções a diversos processos que ele já moveu contra veículos de comunicação.
Crítica de especialistas
Especialistas em Primeira Emenda nos Estados Unidos apontam que a ação se enquadra em uma estratégia recorrente do presidente: usar processos judiciais para tentar silenciar críticas da imprensa e restringir a liberdade de expressão. Apesar de sua postura agressiva, tais ações frequentemente são vistas como legalmente duvidosas e com baixas chances de êxito nos tribunais.
Trump, entretanto, defende que o objetivo do processo é “restaurar a integridade do jornalismo”, posicionando-se como defensor da verdade diante de publicações que considera falsas.
Reações e próximos passos
O New York Times já rejeitou ameaças legais de Trump em diversas ocasiões, incluindo na semana passada, e ainda não se pronunciou oficialmente sobre o novo processo. A CNN entrou em contato com o jornal para obter comentários, mas não obteve resposta imediata.
O processo está previsto para ser aberto em um tribunal federal de Tampa, na Flórida, embora ainda não tenha sido confirmado se o documento já foi oficialmente recebido pelo tribunal.
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Um processo sem precedentes
O valor do processo e o envolvimento simultâneo de um grande veículo de mídia, uma editora de livros e vários jornalistas tornam essa ação um dos casos mais impactantes e controversos envolvendo Trump e a imprensa americana nos últimos anos.
Enquanto o republicano continua a mobilizar seus recursos legais, o caso promete acirrar o debate sobre liberdade de imprensa, responsabilidade jornalística e o uso do sistema judicial como ferramenta política.
A disputa também reforça a narrativa de Trump de se posicionar como vítima de perseguição midiática, enquanto busca reafirmar sua imagem pública e proteger a reputação de seus negócios e de sua família.
Ao anunciar o processo bilionário contra o New York Times e a Penguin Random House, o presidente Donald Trump adotou um tom enfático e combativo. Em uma de suas declarações, ele afirmou:
“O New York Times foi autorizado a mentir, difamar e caluniar livremente por tempo demais, e isso acaba, AGORA!”
Trump também criticou o apoio declarado do jornal à vice-presidente Kamala Harris durante a eleição presidencial de 2024, sugerindo que a cobertura partidária configuraria difamação.
No entanto, especialistas em direito e liberdade de imprensa lembram que apoiar outro candidato não constitui difamação legalmente reconhecida. Para que figuras públicas como Trump tenham sucesso em processos desse tipo, é necessário provar má-fé, ou seja, demonstrar que os réus sabiam que as declarações eram falsas ou agiram com total descaso pela veracidade delas — um padrão extremamente difícil de ser atingido em tribunais americanos.
Analistas de mídia apontam que a real estratégia do presidente com algumas de suas ações judiciais é gerar publicidade, constranger a imprensa e reforçar sua narrativa política, sendo o resultado do processo, na maioria dos casos, uma preocupação secundária.
Alerta da imprensa e contexto internacional
Horas antes do anúncio do processo, A.G. Sulzberger, editor do New York Times, comentou publicamente sobre o que chamou de “manual anti-imprensa”, uma estratégia supostamente adotada por “aspirantes a ditadores” ao redor do mundo, incluindo os Estados Unidos.
Segundo Sulzberger, parte dessa tática consiste em:
- Usar os tribunais civis para exercer pressão financeira sobre veículos de comunicação;
- Punir jornalistas independentes que investigam figuras poderosas.
O editor fez estas declarações durante a festa de gala do 50º aniversário da Investigative Reporters & Editors, em Nova York, na noite de segunda-feira (15), e conclamou os líderes da mídia a defenderem o jornalismo, seus jornalistas e seus direitos diante de tais ataques legais.
Histórico de processos de Trump
O processo contra o Times não é isolado. Documentos citam casos anteriores em que advogados de Trump moveram ações contra a ABC News e a CBS News, ambas resultando em acordos multimilionários, para frustração de outros veículos de comunicação que temem criar precedente para futuras ações judiciais.
Grupos de defesa do jornalismo alertam que, ao optarem por acordos financeiros em vez de disputas judiciais completas, empresas de mídia podem incentivar a continuação da campanha judicial do presidente.
Além do New York Times, Trump está processando também o Wall Street Journal e os repórteres de uma matéria sobre cartas relacionadas a Jeffrey Epstein. Um porta-voz da Dow Jones, empresa controladora do WSJ, declarou:
“Temos plena confiança no rigor e na precisão de nossas reportagens e nos defenderemos vigorosamente contra qualquer processo judicial”.
O que está em jogo
O processo de Trump levanta questões cruciais sobre liberdade de imprensa, responsabilidade jornalística e limites do poder executivo. Enquanto ele busca reparar a imagem pessoal e a reputação de seus negócios, os especialistas alertam que a batalha legal enfrenta obstáculos significativos, devido ao alto padrão de prova exigido para casos de difamação envolvendo figuras públicas.
Mesmo assim, a ação de US$ 15 bilhões envia uma mensagem clara: Trump continuará utilizando os tribunais como instrumento político, mantendo a tensão entre a presidência e os meios de comunicação e acendendo o debate sobre os direitos e os limites do jornalismo nos Estados Unidos.
A disputa promete ser acompanhada de perto, não apenas por analistas políticos e jurídicos, mas também pelo público, que observa os desdobramentos de um embate que mistura política, poder econômico e liberdade de expressão.


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