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A III Guerra Mundial acontece na mídia e nas redes sociais

Rodrigo Vianna, em seu blog Escrevinhador, faz uma análise interessante da cobertura da Folha sobre a violenta crise política na Ucrânia. Eu acrescento alguns comentários. É um bocado assustador constatar que o repórter da Folha não faz a pergunta principal: quem financia a oposição? Ele vê um sujeito passar o dia inteiro fabricando coqueteis molotov, […]

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Rodrigo Vianna, em seu blog Escrevinhador, faz uma análise interessante da cobertura da Folha sobre a violenta crise política na Ucrânia. Eu acrescento alguns comentários. É um bocado assustador constatar que o repórter da Folha não faz a pergunta principal: quem financia a oposição?

Ele vê um sujeito passar o dia inteiro fabricando coqueteis molotov, como se isso fosse muito normal.

Nem o repórter nem a Folha buscam fazer qualquer análise sobre isso, o que me parece muito estranho.

Nem falo do custo em si dos coquetéis, e sim da mão-de-obra e do planejamento.

A Ucrânia se tornou mais um centro de experimentação de golpes fabricados à distância, com ajuda de redes sociais e, obviamente, muito dinheiro.

Agentes políticos da Europa e dos EUA, talvez com a complacência dos governos (ou talvez mesmo com a participação deles), estão patrocinando o golpe na Ucrânia com objetivo de afastar o país da Rússia. A Ucrânia é uma peça-chave no grande jogo energético jogado entre Ásia, Rússia e Europa.

Rodrigo Vianna lembra, contudo, que essa guerra, hoje, é jogada principlmente na mídia, em toda parte. Conforme os apoios vão se firmando entre os grupos políticos, consegue-se mais recursos, publicidade e negócios. E qual é o país que exerce a hegemonia absoluta sobre as famosas “redes sociais”?

Temos que tomar muito cuidado. Agentes poderosos estão se aproveitando do ambiente anárquico das redes para recriar novos impérios virtuais, e que aliás nem são tão virtuais assim.

*

Ucrânia e Venezuela: lutar com palavras – não há vândalos em Caracas ou Kiev, só em SP!

“Lutar com palavras é a luta mais vã. No entanto lutamos mal rompe a manhã.” (Drummond)

por Rodrigo Vianna, em seu blog.

Não se trata de poesia. Mas de política. A edição da “Folha” desta sexta-feira é mais uma demonstração de que a batalha nas ruas de Kiev ou Caracas não é feita só de coquetéis molotov, bombas e fuzis. A batalha se dá na mídia, na TV, na internet, nas páginas envelhecidas dos jornais. São Paulo, Caracas, Kiev, Moscou e Washington. A batalha é uma só.

Reparemos bem. Ao lado, temos a primeira página do jornal conservador paulistano – o mesmo que apoiou o golpe de 64 e emprestou seus carros para transporte de presos durante a ditadura militar. Na capa da “Folha”, ucranianos escalam uma montanha de entulho no centro de Kiev, e a legenda avisa: “Manifestantes antigoverno usam pneus e entulho para montar barricadas…” Logo abaixo, uma chamada sobre reintegração de posse em São Paulo: “Em SP, invasores destroem imóveis do Minha Casa”. Numa página interna, o jornal informa que esse “invasores resistiram e, até a noite, praticavam atos de vandalismo”. (página C-1)

Ucranianos não praticam “vandalismo”. São tratados de forma heróica. Ainda que se saiba que parte dos manifestantes em Kiev tem um discurso racista, próximo do nazismo. Brasileiros são “vândalos”. Ucranianos são “manifestantes”.

Mas sigamos adiante. Nas páginas internas, a “Folha” traz vários textos do enviado especial a Kiev. Num deles, o repórter mostra uma pequena fábrica para produção de coquetéis Molotov, dentro do Metrô de Kiev. O cidadão que produz as bombas é descrito assim: “Sem afiliação a partidos ou uma proposta ideológica clara, o cidadão diz ter sido atraído pela praça e pelas manifestações a partir da ideia de que é necessário mudar o sistema político na Ucrânia.”

Mudar o sistema político. Hum. Não fica claro se o cidadão quer uma ditadura. A Ucrânia não é uma democracia? O governo não foi eleito pela maioria? Hum… “Sem afiliação a partidos” – essa parece ser a chave para legitimar tudo nos dias que correm. A CIA, os EUA, a CNN, a Folha não tem filiação a partidos. Não. Nem o nobre manifestante de Kiev.

Ao lado da reportagem sobre os molotov, um texto opinativo assinado por Igor Gielow (sobrenome “eslavo”, muito bom! Isso dá credibilidade ao comentário). Basicamente, Gielow diz que a crise na Ucrânia é “reflexo da estratégia de Putin para a região”. Ele não está errado. Pena que esqueça de contar uma parte da história. “O importante não é o que eu publico, mas o que deixo de publicar”, dizia Roberto Marinho.

Gielow e a “Folha” ensinam: Putin é um líder malvado, que pretende manter na Ucrânia “a esfera de poder dos tempos imperiais e soviéticos”. Aprendam: só a Rússia tem interesses imperiais na Ucrânia. Do outro lado, há cidadãos sem afiliação partidária, lutando contra um insano governo pró-Moscou. Os EUA e a Europa não têm interesses na Ucrânia. Só Putin. A culpa é dos russos.

Na “Folha” luta-se com as palavras muito antes da manhã começar. Luta-se com as palavras em Kiev, em São Paulo, Moscou. Washington fica invisível. E toda a estratégia passa por aí. O poder imperial só existe por parte da Rússia. Washington não tem qualquer projeto imperial: nem na Ucrânia, nem na Síria, nem tampouco na América Latina…

Falando nisso, a cobertura sobre a Venezuela é também grandiosa no diário da família Frias. Declarações de Maduro aparecem entre aspas. Velho truque jornalistico para desqualificar, colocar no gueto da suspeição, qualquer fala dos chavistas. Segundo a Folha, o governo de Maduro afirma que o movimento (golpista? Isso a Folha não diz) é uma armação de “forças de ultradireita da Venezuela e de Miami”. No texto original a expressão está assim, entre aspas. Por que? Para dar a impressão de que Maduro é um lunático, e que não há forças de ultradireita lutando nas ruas. Não. Há só “estudantes” e “manifestantes” (e agora sou eu que coloco entre aspas).

A legenda da foto ao lado (também publicada pelo jornal conservador paulistano) diz: “Estudantes queimam lixo em atos contra Nicolás Maduro”. Primeiro, como se sabe que o sujeito é um “estudante”? Depois, reparem que queimar lixo na Venezuela é “ato contra Maduro“. Queimar prédios em desapropriação, em São Paulo, vira “vandalismo”.

Em Caracas não há “vândalos”.

Ao lado da foto, um texto assinado por repórter (que está em São Paulo!!!!!) narra roubo de equipamento da CNN em Caracas: “o ataque à CNN se assemelha a inúmeros relatos de motociclistas intimidando manifestantes, com tolerância e até respaldo das forças de segurança do governo”. O roubo ocorreu em manifestação da oposição. Mas o roubo certamente é coisa dos chavistas. Claro. Nem é preciso ir até Caracas pra saber (registro a bem da verdade factual que o repórter – a quem conheço, ótima pessoa – foi correspondente em Caracas).

No mesmo texto (assinado, de São Paulo) os grupos que defendem o governo são chamados de “milícias”. Ok. Já estive em Caracas cinco ou seis vezes. E há grupos chavistas que se assemelham mesmo a milícias. Mas do lado da oposição há o que? Não há milícias? A turma de Leopoldo, que deu golpe em 2002, é formada por cidadãos inocentes. E só.

Quem lê a “Folha” aprende que, em Caracas, há de um lado “milícias chavistas”. De outro, só “estudantes” e “manifestantes”.

Não há neutralidade no uso das palavras. Nunca houve. Nunca haverá. E quanto mais agudas as crises, mais isso fica claro. Há escolhas. A “Folha” faz as suas. A CNN, a Telesur, a VTV – ou esse blogueiro. A diferença é que uns assumem que têm lado. Outros fingem que estão “a serviço do Brasil”.

Lutemos, com as palavras. Não há saída. O outro lado luta todos os dias, todas horas.

“Palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate”

(Drummond).

 

UKRAINE+Pro__9

 

 

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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José Amaral de Brito

22/02/2014 - 05h01

“Não há neutralidade no uso das palavras. Nunca houve. Nunca haverá. E quanto mais agudas as crises, mais isso fica claro. Há escolhas. A “Folha” faz as suas. A CNN, a Telesur, a VTV – ou esse blogueiro. A diferença é que uns assumem que têm lado. Outros fingem que estão “a serviço do Brasil”.
Lutemos, com as palavras. Não há saída. O outro lado luta todos os dias, todas horas.
por Rodrigo Vianna, em seu blog

Luciano

21/02/2014 - 16h22

Olha só gente, a estratégia já é manjada. Os norte-americanos financiam golpes pelo mundo contra governos de países contrários aos seus interesses. Usam a impressora de dólares para comprar a mídia local e incitar revoltas através de jornais, TV e internet. O comunismo, o terrorismo ou armas de destruição em massa, são apenas desculpas para expandir o imperialismo através de mercados de consumidores escravos. Já fizeram no Brasil. E se o golpe vier em 2014, será por suas mãos. Só temos uma saída: Pedir ajuda á China.

C.Paoliello

21/02/2014 - 16h20

Cada vez mais desesperados com a progressiva perda da suposta hegemonia dos EUA no mundo, o complexo industrial-militar estadunidense incrustado no Pentágono tenta criar guerras civis nos países que não lhe são submissos. É o caso da Venezuela e da Ucrânia, como já fez e mantém na Síria. O negócio deles é vender armas para todas as partes em falsos conflitos que se transformam em grandes negócios. Assim também foi no Iraque e no Afeganistão.

Ermindo Castro

21/02/2014 - 18h41

sim por que a mídia da UE esta toda ela a serviço dos baderneiros, e mercenários !!!!

Mutema

21/02/2014 - 14h17

Se eles puderam gastar bilhoes no Iraque, porque nao poderiam gastar milhoes para desestabilizar a Ucrania.


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