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O choro da seleção está muito além do Cidadão Kane

Que crônica bonita do Paulo, que reproduzo abaixo! É exatamente disso que eu sinto falta no jornalismo, de uma análise mais humana. Eu acho que ela combina muito com aquele poema do John Donne, no qual o poeta nos adverte para não perguntar por quem os sinos dobram. “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada […]

17 comentários
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Que crônica bonita do Paulo, que reproduzo abaixo! É exatamente disso que eu sinto falta no jornalismo, de uma análise mais humana.

Eu acho que ela combina muito com aquele poema do John Donne, no qual o poeta nos adverte para não perguntar por quem os sinos dobram.

“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”. John Donne

Os jogadores se ressentem desse muro de rancor construído pela mídia, esse ódio violentíssimo contra o próprio país, e do qual eles – jogadores e torcedores – também acabam sendo vítimas.

A maneira obsessiva com que a torcida canta “sou brasileiro, com muito orgulho” me parece um esforço desesperado para se livrar desse ódio. Um esforço, como diz a canção, para amar a si mesmo e ao Brasil.

Muitos estão criticando e ridicularizando a canção, mas tenho visto que ela tem sido vocalizada com entusiasmo pelas crianças.

No dia do jogo, olhei pela janela e vi uma criança, vestindo camisa do Brasil, e falando com outra: “sou brasileiro!”. Batia no peito com orgulho.

A emoção com que cantam o hino nacional, jogadores e torcida, tem o mesmo motivo: um esforço para fugir da armadilha psicológica que as “forças ocultas”, as mesmas que levaram Vargas ao suicídio e a classe média às ruas para apoiar o golpe em 64, montaram novamente dentro de suas cabeças.

Uma armadilha para nos manipular e nos fazer votar em quem eles querem.

Uma armadilha que pretende nos fazer ter “vergonha” de nós mesmos e do nosso país.

Não era isso que a a mídia estampava, às vésperas da Copa?

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Exemplo: o técnico da seleção, Luiz Felipe Scolari, reuniu alguns jornalistas e admitiu que os jogadores estão, de fato, emocionalmente desequilibrados e pediu humildemente o auxílio da imprensa.

Ora, Felipão não pede nada demais. Apenas um pouco de delicadeza no trato com os jogadores, que são, afinal de contas, garotos hipersensíveis, como todo gênio, como todo artista.

A resposta da Globo veio na coluna de Artur Xexéo, na edição de hoje: “Tô fora. Continuo na torcida, mas não conte com minha ajuda”.

Não precisa dizer mais nada, né.

*

O AMOR PELA SELEÇÃO

Choro dos craques vem do abismo entre os craques e o país, aberto pelo anti-Copa e pelo VTNC. É preciso fechá-lo

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog.

A conversa do dia é o choro dos meninos da seleção.

Nossa seleção chora de medo, um pavor profundo, um abismo, um buraco escuro na terra. Felipão, o verdadeiro, perdeu a energia e ficou desorientado. O capitão Tiago Silva sentiu medo de cobrar pênalti. Não conseguia nem olhar o chute dos outros. Chorou tanto que ninguém entendeu.

Julio Cesar também chorou e todo mundo entendeu.

Neymar seria o primeiro a bater o pênalti. Preferiu ficar por último. Vencemos, apesar de tudo. Mas não sabemos até onde vamos caminhar. Que importância tem isso?

Nada, quem sabe.

Hoje, tudo.

Eu tinha 5 anos quando o Brasil ganhou a primeira Copa. Estava no terraço – na época não se dizia varanda – do apartamento onde morava, ali na rua Cincinato Braga, no bairro paulistano do Paraíso. Lembro do barulho do alto falante de um caminhão que passava pela rua, no volume máximo, antes de desaparecer no paralalepípedo:

–A Copa do mundo é nossa
Com o brasileiro não há quem possa…
Eeeeeeta esquadrão de ouro
É bom no samba, é bom, no couro

Nem meus pais nem meus irmãos conheciam a música da seleção. Quem cantava era Lola, a babá, uma quase adolescente levada para trabalhar em nossa casa por Alaíde, a irmã mais velha, mais durona. Lola, que era muito mais bonita, sambava e cantarolava no terraço – quando os patrões estavam longe – com sua voz suave, o sorriso sempre nos lábios, os cabelos grandes e crespos, de um jeito que só ficaria na moda dez anos depois.

Fui bicampeão quando estava de cama, em 1962.

Doente, ouvi a final contra a Checoslováquia no quarto de casal dos meus pais. Lembro da voz de Fiori Gigliotti narrando cada gol pelo rádio, um Emerson num estojo de couro marron. O locutor mobilizava o país inteiro numa vibração emocionada, em que os objetos inanimados daquele quarto – o criado mudo, o abajur, as roupas dentro do armário, os cabides, os ternos do meu pai, o sapato de couro e sola de borracha do meu pai, aquelas gravatas bonitas como nunca vi igual, as bolsas que minha mãe guardava em caixas de papelão, e até o revolver 32 que meu pai manteve guardou até descobrir que os filhos estavam brincando com ele – pareciam fazer parte da torcida.

Quando a partida foi chegando ao final, eu estava tão emocionado que tive um delírio, coisa de Jorge Luís Borges. Imaginei que do outro lado do mundo, numa pequena casa na Checoslováquia, um menino ouvia o mesmo jogo ao lado do pai. Mas, na partida transmitida de rádio para aquele país, os checos é que venciam os brasileiros, também por 3 a 1. Os gols haviam sido feitos na mesma sequencia, no mesmo minuto – e lá, como na minha casa, todos estavam em festa, participando da mesma alegria única, inocente, que só o futebol permite.

Esta era minha final imaginária. Eu pulava e abraçava meu pai em São Paulo, e, no mesmo minuto, na Checoslováquia, em movimentos sincronizados e simétricos, aquele menino e seu pai também se abraçavam. Eu dava socos no ar, gritava o nome dos nossos jogadores, o menino gritava o nome dos jogadores da seleção deles, com aqueles nomes esquisitos. Aos poucos, eu via que as ruas de São Paulo e da Checoslováquia estavam ficando cheias, eram duas multidões comemorando a Copa do Mundo, sem perceber que, no país do time adversário, também havia uma grande festa, que as pessoas que falavam outra língua e usavam roupas diferentes – além de tudo, os checos eram comunistas — também eram campeãs mundiais, porque tudo não havia passado de uma magia, de um sonho, embalado pelos locutores de rádio, onde ninguém era derrotado, e só haviam vencedores e todos podiam ficar alegres.

Antes que alguém pergunte, cinco décadas depois, eu respondo.

Não. Não havia mensagem nessa fantasia. Nem utopia. Era pura maravilha, dos bons contos de fada, que são belos porque não querem nos levar a lugar algum, apenas a mundos que não existem, onde vigoram ideias que nunca pensamos, sonhos que nunca tivemos.

Um pouco como acontece com o futebol, vamos reconhecer.

Em 1970, repórter esportivo, cheguei a ouvir num vestiário do time que ia para o México, de onde voltou com o tri, um comentário pavoroso: “Por que o Médici não manda dar porrada nos jornalistas que só falam mal da seleção?”
A natureza humana é crítica, os motivos para queixas existem.

Sempre houve torcida mau humorada e até contra. Até quando isso era arriscado porque vivíamos numa ditadura. Esse direito é inegociável e deve ser respeitado.

Meio século depois, estamos em julho de 2014.

Mas, pela primeira vez na história do conto de fadas do futebol, é proibido torcer a favor. É suspeito. Quem sabe, corrupto. Em alguns ambientes até provoca risadinhas de malícia.

Agora há uma raiva grande contra as alegrias do povo. Há o cinismo.

Isso arranca lágrimas dos meninos. No time de 2014, não há nenhum adulto. Ninguém com autoridade para gritar, levantar a cabeça e reagir.

É um problema real, do time, mas não é só.

No começo, era chique pensar que o concreto dos estádios não era concreto. Também valia questionar estatísticas sem estatísticas. Foi daí que veio o VTNC.

Depois, vieram os estrangeiros, que nunca tiveram dificuldade para se impor sobre a multidão de vira-latas que perambulam pelo país, buscando oportunidades para o bolso em várias formas de lixo humano.

Eles projetaram detalhadamente um apocalipse final, que deixasse a todos com culpa, a todos irmanados naquele que é o sentimento mais profundo e necessário a sua visão de mundo – a vergonha de ser brasileiro. É este sentimento que leva a oferecer tudo, até nossas moças, a estrangeiros, sem o menor respeito, sem perceber que mesmo as mais humildes podem nos dar lições preciosas, ingênuas só na aparência, como fez a babá Lola naquele terraço de 1958.

Não basta ganhar. É preciso merecer. Holandês pode cavar pênalti. Brasileiro não pode.

Vamos pressionar os juízes para que, na dúvida, fiquem contra o Brasil.

É por isso que os meninos choram. Craques têm o temperamento delicado, são verdadeiros animais de raça, fáceis de assustar, a tal ponto que alguns cavalos de raça correm com viseira. Têm a sensibilidade absoluta, como grandes artistas. Sentem-se abandonados pela falta de um sonho que ninguém sonhou, pela ausência de palavras que ninguém disse. O nome disso é angustia.

E é ela que ameaça nossos craques.

O país já venceu o primeiro combate, de fazer a Copa. Não foram só os aeroportos, os estádios, as melhorias que, mesmo entregues pela metade, ou três quartos, ou 100%, ou 0%.

Quem garantiu uma grande Copa foi o povo brasileiro, com sua hospitalidade, seu humor, seu amor pelo futebol. Imagine se fosse um campeonato de críquete.

A auto crítica universal de tantos medalhões confirma que a partir de 2013 se produziu uma Escola Base. Na versão original, ocorreu uma denúncia a partir de um engano, do serviço mal feito, do exibicionismo, do sensacionalismo.

Desta vez, criou-se um ambiente negativo contra um país inteiro, que não se baseava num erro nem em vários erros – mas no oportunismo político. No quanto pior, melhor.

Até hoje o anti Copa não desistiu de ver a derrota de brasileiros em sua própria casa. Espera colher frutos em outubro. Quer o povo de cabeça baixa.

Isso abriu um abismo entre a seleção e o país. Por essa razão os craques choram, não se equilibram, sentem medo com facilidade.

Essa distância precisa ser vencida. Quem diz é o craque Tostão:

“O que salva a seleção é o envolvimento emocional dos jogadores, empurrados pela torcida e pela pressão de jogar em casa.”

mafalda

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Daniel Resende

03/07/2014 - 04h16

Este assunto, ou falta de, já encheu linhas demais.

Liliane Rodrigues Perucchi

03/07/2014 - 01h59

“Até hoje o anti Copa não desistiu de ver a derrota de brasileiros em sua própria casa. Espera colher frutos em outubro. Quer o povo de cabeça baixa. (…)” Rafael Mazzucco

Ivan da Costa

03/07/2014 - 01h51

Que pergunta infeliz! kkkkkkkkk

Hugo Sobreira

03/07/2014 - 00h08

muito obrigado. texto definitivo. esperava por esse texto há tempos.

jose bernardes neto

02/07/2014 - 15h54

ESSA É UMA DAS CONSEQUÊNCIAS DE UMA MÍDIA IRRESPONSÁVEL, SAFADA E MANIPULADORA…..MATEI A PAU…NADA MAIS A DECLARAR…

Leonardo Fuso

02/07/2014 - 18h39

Tem que passar a braçadeira pro David Luis ! Com dir nas costas , chorou mss foi pro pau!

Leonardo Fuso

02/07/2014 - 18h38

Chorar todos podem chorar, mas o capitao nao pode se esconder , sentsr na bola e nem olhar as cobranças! Ele nao precisava nem bater pois poderia ter outros jogadores melhor treinado pra isso mas no mínimo deveria dar firca oros batedires ,. Vc lembra do zagalo em 98 na semi final. Indo de jogador em jogador apoiando, dando força! !! Ou como o Dunga em 1994 .

    Vitor

    02/07/2014 - 17h35

    Concordo! Paulinho foi muito mais capitão ali!

Pedro

02/07/2014 - 13h50

Segundo a minha religião, budista, o amor-próprio está em primeiro lugar. Não podemos amar um país, uma seleção ou ao próximo antes disso pois nem sabemos o que é o amor, se não o praticarmos de dentro pra fora. Na minha opinião o que está acontecendo no Brasil, desencadeado pela mídia é pura falta de auto-estima, de amor à sí mesmo.

Luís CPPrudente

02/07/2014 - 13h47

Pena que muitos dos coxinhas que compraram os ingressos para os jogos do Brasil não sabem gritar o nome do país e ser o décimo segundo jogador. Tá faltando o torcedor comum do Flamengo, do Corinthians, do Atlético e de outros grandes clubes.

    Vitor

    02/07/2014 - 17h34

    Claro, coloca lá a Gaviões, a Raça Rubro Negra, a Galoucura, a Mafia Azul, a Mancha Verde, a Independente, a Torcida Jovem, etc… Vão gritar o jogo inteiro! Mas tirem as crianças e idosos do estádio, pq vai virar uma bomba relógio e a qualquer gol pode sair pancada pra tudo que é lado!

Edu Franco

02/07/2014 - 16h36

A Mídia Brasileira é Homem Que Não Chora (Edu Franco)
Todos os campeões do mundo de todas as modalidades esportivas choram, só nossa imprensa não sabia ou arrumou enfim algo para continuar a zica?
Com a inteligência e o faro jornalístico (pausa pra risos) que nossa grande imprensa vem demonstrando não me surpreenderia que esta desconhecesse o fato de que todos os atletas de todas as mobilidades choram após grandes conquistas e mesmo antes, os campeões, pelo empenho e alma que põe, são os mais emotivos, e daí?
Como nosso jornalismo é grosseiro e de baixo nível, viver de zicar o time que faz o seu ganha pão, bando de urubus procurando carniça o tempo todo, em vez de fazerem críticas objetivas tentam criar instabilidade, que atleta que não chora? São situações de emoção extrema, lutador de UFC chora e nem por isso amarela na luta, Minotauro chora, Anderson chora, Aldo chora, Lioto chorou como um bebe quando ganhou o título, Sena chorava em todas as temporadas, Guga chorava, Popó vivia chorando, Hortência e Paula choravam, Celo chorava.
Agora fica esse mimimi insuportável de manhã à noite na mídia, o exército de zicadores, zicaram a Copa até, agora estão todos com cara de bobos faturando horrores com o sucesso de audiência e publicidade do evento, não tem mais a Copa, vamos zicar o time, cospem no prato que comem, mas o time suportou o primeiro gol na primeira partida e virou o jogo, suportou o México quando cresceu na partida e deu a volta por cima, terminou dominando o jogo, suportou aquela pressão absurda da decisão por pênaltis e ganhou, quase todos cobraram os pênaltis muito bem, um time de fibra e coragem, mesmo mal treinado vem ganhando, então o que vamos falar, eles choraram.Pode-se não acreditar nesse time, dizer que não está bem treinado, não está mesmo, mas suor e coragem é o que sobra nesses garotos.O que uma lágrima tira disso, qual o argumento, homem não chora?
Que amiga da onça é essa imprensa de baixíssimo nível que temos no Brasil, ela descobriu só agora que todos os grandes e excepcionais atletas do mundo choram por que tem muita entrega e emoção no trabalho deles, e anos de trabalho podem ser perdidos em segundos de um passo errado, tem muita tragédia grega em uma competição esportiva, é uma coisa que oscila da desgraça às luzes do paraíso, todo atleta sabe disso porque vivi isso todos os dias de sua vida, é muita entrega e emoção a hora em que se está o fim do treinamento todo, a competição, e todo o formato dela é circense, é um espetáculo, você não vai ali e atende uns pacientes no consultório, ou faz sistemas, contas, projetos na solidão da sua sala, não é algo assim, é algo que envolve muita emoção, Carlos Alberto Torres falou do esporte como se fosse ir bater cartão na repartição.
Tem muita emoção na vida do atleta e entrega, sacrifício, devoção, coisa estranha para uma imprensa que não tem compromisso com nada além de grana, de obedecer patrão para ganhar dinheiro, normalmente baixos salários, os altos são para pouquíssimos, mesmo que seja para zicar a seleção do seu país no evento que paga o seu salário e valoriza a sua profissão.
Isso que é a inteligência, a ética e a credibilidade que se tira dessa imprensa, um exemplo de sabotagem e anti-patriotismo, mas a Copa mostrou isso para o mundo todo, que lição essa desse destino:
– a Copa revelou ao mundo a competência do governo que a mídia nativa critica e quer derrubar e a desonestidade dessa mesma mídia que há anos anuncia as catástrofes na Copa, uma lição e tanto que a grande imprensa brasileira tomou, uma desmoralização e perda de credibilidade internacional, credibilidade é a coisa mais importante com que deveria se preocupar uma empresa que vende notícia, mas no Brasil não é assim, é fazer política fingindo que vende notícia, a Copa foi sem dúvida o maior tiro no pé da história da imprensa brasileira..(EF)

Bel Barretto

02/07/2014 - 16h34

Justina Chacon

02/07/2014 - 16h29

Muito bom!

Gislaine Gika

02/07/2014 - 16h17

Karley Almeida


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