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UFPE: as empresas “da Lava Jato” e os partidos

Eu não gosto desse conceito de “empresas relacionadas a Lava Jato”, porque estamos falando das principais e mais bem sucedidas empresas de engenharia e construção civil do país. Até a eclosão da operação comandada por Sergio Moro, não eram empresas “malditas”, e sim as locomotivas de uma estratégia de desenvolvimento que vinha sendo tocada desde […]

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Eu não gosto desse conceito de “empresas relacionadas a Lava Jato”, porque estamos falando das principais e mais bem sucedidas empresas de engenharia e construção civil do país. Até a eclosão da operação comandada por Sergio Moro, não eram empresas “malditas”, e sim as locomotivas de uma estratégia de desenvolvimento que vinha sendo tocada desde a ditadura militar. São empresas que cresceram junto com o país.

Com a ascensão do PT ao poder, essas empresas avançaram muito, porque houve, de fato, um grande aumento nos investimentos públicos em infra-estrutura, em obras que somente essas firmas tinham condição, pelo menos aqui no Brasil, de levar adiante.

Em qualquer outro país, os problemas de corrupção envolvendo essas empresas seriam resolvidos com a prisão dos executivos mas com amplos acordos de leniência, de maneira a proteger os empregos e o patrimônio tecnológico desses grupos, que conformam o que Keynes chamava de Sistema Tecno-Industrial Nacional.

Entretanto, a Lava Jato revelou que essas empresas também operavam monstruosos esquemas de corrupção. Confrontados pelas denúncias, nem as empresas nem os partidos envolvidos (especialmente o PT) conseguiram apresentar uma narrativa convincente à opinião pública. E perderam todas batalhas: da comunicação, primeiro, em seguida a batalha jurídica, e, por último, a batalha política.

A Lava Jato venceu em todas as frentes, e continuará vencendo, enquanto os setores mais esclarecidos e politizados, contrários a seus métodos, não convencerem a população que o seu desejo de combater a corrupção é maior e mais confiável.

Tanto o PT em 2002, como Lopez Obrador no México este ano, venceram as eleições porque, dentre outras razões, detinham a narrativa da luta contra a corrupção. O controle da narrativa ética é fundamental em qualquer processo democrático, desde Roma Antiga, pela simples razão que ninguém votará, ou pelo menos não com entusiasmo, em políticos contra os quais pesam (e aí não importa que sejam exageradas ou mesmo falsas) acusações de corrupção.

Os partidos políticos precisam lutar não apenas para manter seus membros distantes de processos de corrupção, mas também precisam trabalhar para que não sejam sequer acusados. Quem dizia isso era o próprio Lula. O ex-presidente, que gostava de se gabar de ser o homem “mais honesto” do país, também costumava dizer, um tanto injustamente (já que o Brasil já testemunhava uma série de abusos judiciais),  que para não se ter problema com a justiça brasileira bastava andar sempre na linha.

Dito isso, a informação dos gráficos abaixo, colhidas por um professor de computação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para o site Meu Congresso Nacional (clique no link para ver mais detalhes),  nos ajuda a entender o que houve nos últimos anos.

As empresas investigadas e penalizadas pela Lava Jato, de fato, eram as maiores financiadoras dos três principais partidos, PT, PSDB e PMDB, com destaque para o primeiro. Essas três legendas, alternando-se em governo e oposição, eram o fundamento do establishment político e do sistema de poder no país.

Os dados são oficiais, e referem-se apenas à doações registradas no ano de 2014. Hoje sabemos, após tantos depoimentos e confissões, que as doações não-registradas correspondiam a valores maiores.

Os números servem também como remédio de humildade para alguns partidos: para lhes rememorar que o seu sucesso não coube apenas aos belos olhos de suas ideias e programas; o big money presente em suas campanhas ajudou muito a construção de estratégias eleitorais vitoriosas.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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CAR-POA

29/11/2018 - 17h33

———-pela simples razão que ninguém votará, ou pelo menos não com entusiasmo, em políticos contra os quais pesam (e aí não importa que sejam exageradas ou mesmo falsas) acusações de corrupção.——-
QUER DIZER CONFORME SUA VISÃO ,QUE BASTA ACUSAR ALGUÉM QUE ELE SERÁ UM MORTO POLÍTICO????
QUE CLASSE DE CIDADÃO É VC????UM POBRE MANIPULADO,UM COITADO LEVADO POR QUEM FOR A ACREDITAR NO QUE ELE QUISER???
QUAL A SUA DIFERENÇA EM RELAÇÃO AOS ELEITORES DO BOLSOASNO???
CADÊ AS PROVAS CONTRA O LULA???
POR QUE VC “LEGALIZA” UMA OPERAÇÃO QUE PRA QUALQUER CIDADÃO MEDIANAMENTE ESCLARECIDO É UM BLEFE DESTINADO A ELIMINAR QUALQUER OPOSIÇÃO A DOMINAÇÃO ESTRANGEIRA????
POR QUE OS “DELATORES” EXCETO O DONO DA OAS ,ESTÃO EM CASA ???
SUA POSIÇÃO VA FICANDO A CADA VEZ MAIS CLARA MIGUEL ,E ELA NÃO É NADA BOA.

Horacio

28/11/2018 - 20h28

Pois é, ainda está faltando muita coisa. Porque não os bancos, ganharam muito bem neste período, aliás, não se compara com qualquer outro doador em ganhos. Porque não constam? E as teles? não contribuíram? Planos de saúde? Porque só as construtoras? E os diferentes cartéis de droga, cresceram muito mais do que os bancos, a quem pagam impostos?
A diferença entre os outros apoiadores é que existe um processo. Muito obscuro, não há um juiz, um delegado ou outro agente do estado, dos mais de 20 órgãos de fiscalização não tem ninguém envolvido. Não servem para nada? Não viram nada?

    Paulo

    28/11/2018 - 22h23

    Horácio, as construtoras são o alvo preferencial dos políticos, pois o toma-lá-dá-cá é natural: pagou caixinha, ganha a licitação; pagou, começa a obra; pagou, recebe o pagamento! São diversos momentos em que elas estão sob controle dos políticos. Claro que, aqui e ali, tem uns esquemas com prestadoras de serviço, também, ou empresas de outros ramos (vide JBS!). Mas, de ordinário, as obras custam mais, bem mais. É assim desde a década de 50, aproximadamente (Adhemar de Barros, o “rouba, mas faz”, um dos precursores da caixinha, estabelecia o percentual de 10%, depois, perderam-se os parâmetros). Banqueiros não pagam caixinha, pois as empresas não são familiares, nem têm contratos com o governo, mas sim, grandes conglomerados corporativos, com controles contábeis e gerenciais mais estritos. O controle que os financistas exercem sobre os políticos é mais indireto, embora não menos eficiente…

O Pai

28/11/2018 - 18h51

Não basta só deter a narrativa do combate a corrupção. É preciso tbm pôr em prática a contrariedade relacionada a corrupção.

Paulo

28/11/2018 - 18h30

Esses valores são o “pf”, “pd” ou ambos? Lembrando que os prejuízos causados ao Erário, por conta do acumpliciamento e superfaturamento, além de prejuízos qualitativos, nas obras, é bem maior…


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