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Alguns comentários e informações sobre derrota da esquerda britânica

Pelo que temos lido, mais do que uma vitória conservadora, o resultado das eleições gerais britânicas, encerradas ontem, é uma derrota do “Labour Party” (Partido Trabalhista). Antes, porém, de engolirmos acriticamente análises apressadas sobre as razões, é melhor aguardar as opiniões embasadas dos próprios especialistas britânicos e europeus. Ao longo dos próximos meses, muitos ensaios, […]

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Pelo que temos lido, mais do que uma vitória conservadora, o resultado das eleições gerais britânicas, encerradas ontem, é uma derrota do “Labour Party” (Partido Trabalhista).

Antes, porém, de engolirmos acriticamente análises apressadas sobre as razões, é melhor aguardar as opiniões embasadas dos próprios especialistas britânicos e europeus. Ao longo dos próximos meses, muitos ensaios, teses acadêmicas e livros serão lançados para explicar o ocorrido.

Mas podemos arriscar algumas especulações. Alguns, mais ao centro, atribuem a derrota a uma rejeição popular ao “radicalismo” de Jeremy Corbyn, o novo líder do trabalhismo inglês. Aqueles mais à esquerda torcem o nariz para essa explicação, dizendo que não é nada disso.

Outros falam em “nacionalismo”, explicação ligada ao Brexit (que é a decisão do Reino Unido de separar-se da União Europeia), ou ainda a uma rejeição ao “identitarismo” pós-moderno, uma das principais características da nova esquerda liberal ocidental.

Em geral, um resultado político mistura muitos fatores diferentes.

Eu acrescentaria um outro fator, que é um argumento que o saudoso Wanderley Guilherme dos Santos vinha defendendo há algum tempo. O professor dizia que a esquerda europeia vinha assumindo uma feição cada vez mais conservadora, mas não conservadora num sentido esquerdista convencional, e sim conservadora “de facto”, ou seja, buscando travar qualquer tipo de reformas no arcabouço jurídico e político do sistema.

Essa postura da esquerda reflete os receios, justificados, de uma mudança para pior, o que é uma definição clássica do conservadorismo.

Os fiadores dessa postura conservadora vem dos setores que hegemonizam a esquerda europeia, o sindicalismo tradicional, frequentemente hostil às novas relações de trabalho inauguradas pelos avanços tecnológicos; com isso, a esquerda, muitas vezes por um corporativismo pouco refletido, estaria se afastando da maneira de pensar dos novos agentes econômicos e sociais, sobretudo daqueles vinculados aos setores mais avançados da nova economia do conhecimento, os quais estariam formando uma nova vanguarda, ainda minoritária, mas com influência crescente, no campo das ideias políticas.

Mangabeira Unger também tem observado isso, e defende que a esquerda precisa estar aberta às mudanças nas relações de trabalho, propondo novos direitos políticos, econômicos, trabalhistas, no sentido de representar não apenas aqueles trabalhadores já organizados e proprietários de direitos, que formam um setor numericamente em declínio, mas a grande e crescente massa de desorganizados, cada vez mais sem direitos, que precisam de uma nova representação política.

Trecho de entrevista com Mangabeira Unger, publicada no Cafezinho há algumas semanas:

(…) Unger responde: não, não é razoável, porque aí nós criamos essa dualidade no mercado de trabalho, em que há uma minoria organizada, que trabalha ou no emprego público, que cada vez mais no mundo é onde está a força residual do movimento sindical, ou então na indústria convencional declinante, que é uma parte cada vez menor da economia.

A tentação desse discurso corporativista sindical é decretar a ilegalidade dessas novas relações de produção, dizendo que elas são simplesmente formas de fraudar ou evadir a legislação trabalhista. Nós não conseguiremos suprimir por decreto as novas realidades econômicas, mas não podemos permitir que elas resultem nessa insegurança econômica e jurídica radical. Nós temos que dominar essas novas realidades.

Na BBC Brasil

Eleições no Reino Unido: Com ampla vitória, Partido Conservador se firma no poder e lidera o país rumo ao Brexit

O texto foi atualizado às 7h02 desta sexta-feira (13).

Boris Johnson retornará ao cargo de primeiro-ministro com uma maioria esmagadora depois que os conservadores conseguiram derrotar o Partido Trabalhista em redutos tradicionais do principal rival.

Com a apuração dos votos em 649 dos 650 distritos, os conservadores obtiveram uma maioria em torno de 78 cadeiras no Parlamento na votação realizada nesta quinta-feira (12). Cada parlamentar representa um distrito.

A principal bandeira de Johnson era “fazer o Brexit acontecer” e tirar de vez o Reino Unido da União Europeia no mês que vem, após meses de impasse em torno da saída britânica do bloco europeu definida em referendo em 2016.

A ampla margem obtida pelos conservadores indica que o Brexit vai enfim sair do papel.

“Parece que este governo conservador de uma nação recebeu um novo e poderoso mandato para concluir o Brexit”, afirmou Johnson, ao longo da contagem dos votos.

O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, afirmou que a sigla teve uma “noite muito decepcionante” e que não liderará os trabalhistas numa próxima eleição. O partido focou sua campanha no fim da austeridade e no aumento dos gastos em serviços públicos, como o sistema de saúde.

Por ora, o placar está assim: conservadores com 364 cadeiras, seguidos dos trabalhistas com 203, do Partido Nacional Escocês (SNP) com 48 e dos liberais-democratas com 11. O Partido do Brexit, esvaziado na estratégia de apoiar Johnson, acabou sem vitória.

No saldo, o Partido Conservador elegeu 66 parlamentares a mais, e o Trabalhista, 42 a menos.

Maior vitória desde Thatcher

Neste cenário, os conservadores terão sua mais ampla maioria no Parlamento desde a vitória da primeira-ministra Margaret Thatcher em 1987.

Johnson se tornou primeiro-ministro em julho sem eleições gerais, ao ser eleito pelos correligionários para substituir Theresa May, líder que não conseguiu avançar com o Brexit no Parlamento.

Diante de um impasse em torno dos termos do Brexit, convocou eleições gerais em busca de uma maioria que apoiasse seu acordo negociado com o bloco europeu.

“Quero agradecer ao povo deste país por ter votado nas eleições de dezembro que não queríamos convocar, mas que acho que acabou sendo uma eleição histórica que nos dá agora, em este novo governo, a chance de respeitar a vontade democrática do povo britânico de mudar este país para melhor e de liberar o potencial de todo o povo deste país”, disse o conservador.

Por outro lado, o Partido Trabalhista, que perdeu assentos em lugares que apoiaram o Brexit em 2016, está enfrentando sua pior derrota desde 1935.

Para Corbyn, “o Brexit polarizou tanto o debate que anulou tanto o debate político normal”.

Sinais da Escócia

No computo geral, desconsiderando a distribuição distrital dos votos, os trabalhistas tiveram uma queda de 7,8% em relação ao pleito de 2017, e os conservadores, um aumento de 1,2%. O crescimento se deu entre siglas menores, o que sinaliza outros desdobramentos do Brexit.

O bom desempenho do Partido Nacional Escocês (ou SNP), com 14 cadeiras a mais, retrata como a Escócia e o restante do Reino Unido estão “indo para direções totalmente diferentes”, afirma Sarah Smith, editora voltada para a cobertura sobre a Escócia na BBC. O partido convocou votos dos escoceses prometendo um novo referendo sobre a independência.
Image caption Painéis e projeções com dados em tempo real da eleição na sede da BBC em Londres

A premiê escocesa e líder do SNP, Nicola Sturgeon, afirmou que seu partido teve uma “noite excepcional”, passando de 34 para 48 cadeiras.

Segundo ela, a Escócia mandou uma “mensagem bem clara” de que não queria um governo do conservador Boris Johnson e que ele não tem mandato para tirar a Escócia da União Europeia.

Foi também um “forte endosso” para a Escócia decidir sobre seu próprio futuro em outro referendo, afirmou Sturgeon.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Carlos Cardoso

13/12/2019 - 14h27

O comentário simples e direto sobre a surra na Grã-Bretanha é: LÁ, COMO CÁ, NINGUÉM SUPORTA MAIS A ESQUERDA MENTIROSA E POPULISTA.!

    Wellington

    13/12/2019 - 14h41

    Também é um dado de fato.

    Batista

    13/12/2019 - 14h53

    Cacilda!

    Os tais algoritmos que orientam o adestramento replicante no whatsapp são bons mesmo, convicto, o cara pula de raso no cabeça, sem medo de ser reconhecido.

    Por demais pro fundo, escancarar prova contra, aí tenho que confessar, desnecessário à minha compreensão.

    João San

    15/12/2019 - 22h26

    A afirmação de que a esquerda é mentirosa é uma contradição explícita porque quem controla os meios de comunicação dominantes é sempre a direita.
    Ademais, numa análise rápida pelo gráfico dos distritos, vê-se que o interior inglês votou maciçamente na direita, onde certamente o setor agropecuário conservador exerceu forte influência no resultado. Certamente pressionando pela saída da UE.
    A área de Londres votou no progressismo trabalhista.

Alexandre Neres

13/12/2019 - 13h54

Morro de medo dos neoesqs, já que não se assumem de terceira via. Querem protestos sem atrapalhar o tráfego, que se perca todo o potencial criativo de 1968, por exemplo. Deveriam ler Um Guia Pussy Riot para o Ativismo pra perderem o mofo e deixarem de ser caretas. Dá pra sacar qual é a deles. Só não vê quem não quer.

Evandro Garcia

13/12/2019 - 12h09

Os ingleses, que não são idiotas, votaram para sair do fracasso da UE.


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