Menu

Rainha do rock, Tina Turner morre aos 83 anos

Nascida nos Estados Unidos e naturalizada suíça, cantora morreu em sua casa, em Zurique, “após uma longa doença”, disse o assessor. Ao longo de décadas, ela ganhou 12 prêmios Grammy e vendeu 200 milhões de discos. Publicado em 24/05/2023 Por Suzanne Cords DW — A cantora Tina Turner, amplamente conhecida como a “rainha do rock […]

1 comentário
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News
Sven Simon/dpa/picture alliance

Nascida nos Estados Unidos e naturalizada suíça, cantora morreu em sua casa, em Zurique, “após uma longa doença”, disse o assessor. Ao longo de décadas, ela ganhou 12 prêmios Grammy e vendeu 200 milhões de discos.

Publicado em 24/05/2023

Por Suzanne Cords

DW — A cantora Tina Turner, amplamente conhecida como a “rainha do rock ‘n’ roll” mundial, morreu nesta quarta-feira (24/05) aos 83 anos, informou um de seus representantes.

Nascida nos Estados Unidos e naturalizada suíça, ela morreu em sua casa, em Zurique, “após uma longa doença”, disse o assessor. A causa da morte não foi divulgada.

“Com sua música e sua paixão sem limites pela vida, ela encantou milhões de fãs ao redor do mundo e inspirou as estrelas de amanhã”, diz uma postagem em sua conta oficial no Facebook.

Tina Turner está entre as maiores artistas de todos os tempos. Seus grandes sucessos incluem What’s love got to do with it e (Simply) The best. Ao longo de décadas de carreira, ela ganhou 12 prêmios Grammy e vendeu mais de 200 milhões de discos mundo afora.

Com energia pura e uma voz profunda, Tina Turner escreveu seu nome na história da música e garantiu um lugar no Olimpo dos melhores roqueiros de todos os tempos. Em 2009 ela fez uma turnê mundial com mais de um milhão de espectadores – e isso aos 69 anos.

Adeus ao show business

Tina Turner deu seu último show em 5 de maio de 2009 em Sheffield, na Inglaterra – com casa cheia, é claro. Era o fim de uma longa e bem-sucedida carreira.

“Foi um grande show, realmente maravilhoso”, disse ela anos depois à BBC, em uma de suas raras entrevistas.

No dia seguinte, respirou fundo e decidiu: “É isso. Não vou voltar de jeito nenhum.”

Por mais de 50 anos, Tina Turner passou quase todas as noites em um ônibus, avião, carro ou hotel. “Só havia essa vida para mim. E em algum momento eu não queria mais dançar e cantar. Eu queria estar em casa e ser normal.”

A casa era uma vila perto de Küsnacht, no lago de Zurique, onde vivia desde os anos 1990. Na propriedade de aproximadamente 5.000 metros quadrados na Suíça, que ela chamou de “Algonquin” em homenagem a sua avó indiana, Tina aproveitou o retiro do show business ao lado do marido, o alemão Erwin Bach.

Nos últimos anos, o real estado de saúde da cantora foi uma incógnita. Ela sobreviveu a um AVC, sofria de câncer de cólon e recebeu um transplante de rim. Seu marido, Erwin Bach, doou o órgão em 2017 – antes disso ela dependia de diálise há muitos anos.

No entanto, Tina manteve-se confiante. Budista declarada, nunca teve medo da morte.

“Eu não acredito em Deus e no diabo, não no fato de que existe alguém para te dizer o que você fez certo e o que você fez de errado”, disse em uma entrevista ao jornal alemão Die Zeit, em 2018.

Tina Turner estava convencida de que toda pessoa, ao morrer, começa uma nova vida em algum momento.

“Nós vamos e fazemos uma pausa. E então voltamos – e começamos de novo.”

Segregação racial

Se a roqueira estiver certa, merece um começo de vida mais fácil em sua reencarnação. Nascida em 26 de novembro de 1939, Anna Mae Bullock cresceu em uma fazenda na pequena cidade de Nutbush, no estado americano do Tennessee. Sua família colhia algodão e, naquela época, ainda vigorava a segregação racial nos Estados Unidos.

Quando criança, ela tinha que abaixar a cabeça ao falar com um homem branco: “Sim senhor, não senhor”. Aos domingos, Anna Mae cantava no coro gospel da igreja.

Em 1955, se mudou para St. Louis, onde sua vida mudaria ao se encontrar com Ike Turner, um pioneiro do soul. Os dois se conheceram em um clube onde o então popular Ike tocava com sua banda Kings of Rhythm. Anna Mae, com 17 anos, pegou o microfone espontaneamente e cantou B.B. King. Foi o início de uma carreira sem precedentes. Ike a contratou na hora como backing vocal para sua trupe.

Começo da carreira de cantora foi ao lado do primeiro marido, Ike Turner – Foto: Bert Reisfeld/dpa/picture alliance

Anna Mae Bullock se torna Tina Turner

A grande chance de Anna Mae veio em 1960. Art Lassiter, o vocalista da banda de Ike Turner, deveria gravar a música A fool in love. Mas como ele não apareceu, Ike pediu que a jovem Anna assumisse os vocais. Foi seu primeiro sucesso, chegando ao número 27 nas paradas americanas.

Por motivos promocionais, Ike rapidamente passou a chamar a jovem cantora de Tina e a colocou no centro das atenções. A partir de então, percorreram o país juntos como Ike & Tina Turner.

Em 1962, os dois músicos se casaram no México. Juntos, tiveram dois filhos. Profissionalmente, as coisas iam bem. A voz impressionante de Tina Turner também atraiu a atenção na Europa quando ela deu sua voz à sinfonia pop de Phil Spector , em 1966 – por um cachê de 25.000 dólares.

O basta em um casamento abusivo

Uma turnê conjunta com os Rolling Stones, shows regulares em Las Vegas, um novo contrato de gravação lucrativo e cachês cada vez mais altos para apresentações ao vivo moldaram os anos de sucesso de Ike & Tina Turner, que faziam cerca de 270 shows por ano.

Com a música Proud Mary, eles se catapultaram para o top 10 das paradas americanas pela primeira vez em 1970. O single vendeu milhões, e Tina recebeu seu primeiro prêmio Grammy de Melhor Cantora de Rhythm & Blues.

Como um casal de artistas, Ike e Tina Turner foram introduzidos ao “Rock and Roll Hall of Fame” em 1991, muito depois de terem se separado. A cantora descreveu seu casamento como o inferno na terra. Ike a espancou várias vezes.

Em 1976, ela deu um basta: depois de uma apresentação em Dallas, fugiu da suíte do hotel que dividiam com o rosto inchado e apenas 36 centavos no bolso para nunca mais voltar. Quando se divorciaram, ela renunciou a todos os direitos e propriedades compartilhadas. Da antiga parceria, levou apenas o nome artístico: Tina Turner.

Tina Turner e Lionel Richie no Grammy de 1985 – Foto: Lennox McLendon/AP Photo/picture alliance

De faxineira à estrela mundial

Mas inicialmente, Tina lutou para se manter em pé. Estava endividada por causa do cancelamento da turnê com Ike, que embolsou todos os royalties. Para sobreviver, cantava em bares e festas de empresas, além de trabalhar como faxineira.

“Ser livre… bem, isso era maravilhoso! Não me importava que não tivesse dinheiro, que tivesse que limpar a casa de outra pessoa para ganhar a vida”, lembrou a cantora uma vez sobre o período difícil.

As grandes gravadoras a descartaram na época como uma velha estrela que dificilmente teria apelo comercial. Mas Tina não desistiu e finalmente encontrou apoio no produtor musical e empresário Roger Davies, que acreditou na cantora.

Tina voltou aos holofotes em 1984, aos 45 anos, com o álbum Private Dancer. A faixa What’s Love Got To Do With It se tornou seu primeiro hit a alcançar o topo da lista das paradas.

Sucesso solo e amor verdadeiro

A partir daí as coisas só melhoraram para a Rainha do Rock. Ao longo de sua carreira de mais de 50 anos, Tina Turner vendeu cerca de 200 milhões de álbuns e recebeu doze Grammys. Em 1988, se apresentou no Estádio Maracanã, no Rio de Janeiro, para 180.000 pessoas, público lhe rendeu uma menção no Guinness Book of Records.

E finalmente também teve sorte no amor. Em 1985, conheceu na cidade alemã de Colônia o gerente musical Erwin Bach. Apesar de ter sido amor à primeira vista, os dois só se casaram – seguindo as cerimônias budistas – em 2013, ou seja, 51 anos após o primeiro casamento de Tina. Dizem que os convidados do casamento incluíram David Bowie, Eros Ramazotti e Giorgio Armani. No mesmo ano, Tina Turner também se tornou cidadã suíça.

Beyonce eTina Turner no Grammy em 2008 – Foto: Mike Blake/Reuters

Obrigado, Tina!

Depois de se aposentar dos palcos, gravou textos budistas para um projeto de música espiritual. Em 2018, assessorou os criadores do Tina Turner Musical.

Dois anos depois, processou o promotor do show Simply The Best – The Tina Turner Story porque os pôsteres publicitários do show poderiam fazer parecer que a verdadeira Tina Turner estava se apresentando – a cantora era muito parecida com ela. O processo passou por várias instâncias, e Turner acabou perdendo.

Mas a verdadeira perda de Tina foram as mortes de seus dois filhos. Craig cometeu suicídio em 2018, Ronnie morreu de câncer em 2022.

Sua biografia My Love Story mostra que Tina Turner não era apenas uma cantora maravilhosa, mas também uma lutadora incansável. A apresentadora Oprah Winfrey, amiga de longa data de Tina, resumiu:

“Tina, você não apenas canta e dança. Quando as pessoas te veem no palco, elas sabem que você lutou para sair do pior desespero. Isso significa que não importa o quão fundo uma mulher caia, ela pode se levantar, como você.”

Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

Paulo

26/05/2023 - 00h17

Desconheço em maiores detalhes sua vida – sou um ignorante, nesse mundo artístico. Mas, sabendo-a uma mulher negra americana, da geração a que pertenceu, posso intuir os males que sofreu. Vi hoje que viveu na Suíça os últimos 30 anos, numa localidade em que era muito querida. Mas me impressionaram vivamente as suas últimas palavras, já em final de jornada: “não foi uma vida boa”. Só uma pessoa muito honesta pode dizer isso, no final de sua jornada…Que Deus a tenha!


Leia mais

Recentes

Recentes