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Milei ataca esposa de primeiro ministro da Espanha em evento da ultra-direita

Espanha chama a consultas sua embaixadora em Buenos Aires em resposta ao ataque de Milei contra a esposa de Sánchez. O governo espanhol reagiu com toda contundência às palavras pronunciadas neste domingo em Madri pelo presidente argentino Javier Milei, que, em um conclave da ultradireita internacional organizado pelo Vox, atacou o presidente do governo, Pedro […]

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O presidente argentino, Javier Milei, neste domingo, na convenção da ultradireita internacional em Madri. Foto: ANA BELTRAN (REUTERS) | Vídeo: EPV

Espanha chama a consultas sua embaixadora em Buenos Aires em resposta ao ataque de Milei contra a esposa de Sánchez.

O governo espanhol reagiu com toda contundência às palavras pronunciadas neste domingo em Madri pelo presidente argentino Javier Milei, que, em um conclave da ultradireita internacional organizado pelo Vox, atacou o presidente do governo, Pedro Sánchez, e chamou sua esposa, Begoña Gómez, de “corrupta”. Para dar maior solenidade à resposta, o ministro das Relações Exteriores compareceu ao Palácio da Moncloa para ler uma dura declaração institucional, na qual anunciou que chamava a consultas indefinidamente a embaixadora espanhola em Buenos Aires, María Jesús Alonso Jiménez, e exigiu desculpas públicas do presidente argentino. Se isso não acontecer, o chefe da diplomacia fez um aviso: “Tomaremos todas as medidas oportunas em defesa da nossa soberania e dignidade”, disse.

A chamada a consultas do embaixador é uma das medidas mais fortes de protesto em termos diplomáticos. O governo espanhol tem sido, nos últimos anos, muito pouco partidário de recorrer a ela e não o fez, por exemplo, quando chamaram a consultas seus embaixadores em Madri tanto Marrocos, como Argélia ou Israel, por motivo de outras tantas crises diplomáticas.

O ministro das Relações Exteriores qualificou de “gravíssimas” as palavras do presidente argentino e sublinhou que “ultrapassam qualquer tipo de diferença política e ideológica” e “não têm precedentes” na história das relações entre os dois países. Recordou que a Espanha recebeu Milei “de boa fé” e, embora ele não tivesse pedido nenhum encontro institucional e viesse para participar de uma convenção da ultradireita, “foi tratado com todo o respeito e deferência devidos e foram colocados à sua disposição os recursos públicos do Estado espanhol”. De fato, o avião em que Milei chegou pousou na base aérea de Torrejón de Ardoz (Madri).

A essa hospitalidade, segundo Albares, Milei respondeu com “um ataque frontal” à democracia espanhola, às suas instituições e à Espanha. Após recordar que a não ingerência em assuntos internos é um princípio inquebrantável das relações internacionais, ele qualificou como “inaceitável que um presidente em exercício, em visita à Espanha, insulte a Espanha e o presidente do governo da Espanha.” “Um fato que rompe todos os usos diplomáticos e as mais elementares regras de convivência entre países”, acrescentou.

O ministro informou que, “diante da gravidade da situação”, entrou em contato com os porta-vozes de todos os partidos para obter seu apoio à declaração institucional e o recebeu de uma ampla maioria, embora, tenha reconhecido, “o Partido Popular e o Vox ainda não se pronunciaram”. Também falou, acrescentou, com o Alto Representante da Política Externa da UE, Josep Borrell, que lhe disse, segundo Albares, que “um ataque desta envergadura contra um Estado membro é um ataque contra toda a UE” e prometeu se pronunciar publicamente nesse sentido.

O chefe da diplomacia espanhola culpou Milei por ter levado as relações entre a Espanha e a Argentina “ao seu momento mais grave na história recente” e anunciou a chamada a consultas sine die da embaixadora espanhola em Buenos Aires. “A Espanha exige ao senhor Milei desculpas públicas. Caso não ocorra, tomaremos todas as medidas que julgarmos oportunas para defender nossa soberania e dignidade”, advertiu. Após reiterar “o sentimento fraternal” que os espanhóis sentem pelos argentinos, especialmente pelos que residem na Espanha, concluiu: “Ao senhor Milei exigimos o respeito às formas que devem prevalecer entre as nações, que excluem a ingerência em assuntos internos, e que esteja à altura do grande país que representa e do cargo que ocupa. Formas e respeito que jamais deveria ter abandonado, muito mais estando na capital da Espanha”.

No evento do Vox, Milei atacou pessoalmente Pedro Sánchez, sem citá-lo, e sua esposa, Begoña Gómez, a quem chamou de “corrupta”. A convenção internacional da ultradireita foi realizada no Palácio de Vistalegre, no bairro madrilenho de Carabanchel, e entre muitos outros, participaram a líder da Reunião Nacional francesa, Marine Le Pen, e a primeira-ministra italiana, Giulia Meloni, que interveio por videoconferência. “Não sabem que tipo de sociedade e país pode produzir o socialismo e que laia de gente atornilhada no poder e que níveis de abuso pode gerar. Mesmo que tenha a mulher corrupta, suja-se e leva cinco dias para pensar”, disse Milei, aludindo ao período de reflexão que o chefe do governo levou para decidir se continuava no cargo após as denúncias contra sua esposa. Santiago Abascal e os demais participantes do comício levantaram-se para ovacioná-lo.

Embora tenha improvisado o comentário, o presidente argentino estava consciente da gravidade de suas palavras e, em seguida, acrescentou: “Diante das coisas que costumo dizer, muitas vezes recebo críticas de diferentes atores do establishment. Dizem: ‘Mas você é um chefe de Estado, como faz esses comentários sobre seus adversários políticos? Como fala assim de outros mandatários internacionais?’ Eu digo a eles que a batalha cultural não é algo que se escolhe ou se deixa conforme convenha, mas um compromisso ineludível”.

Pouco depois de Albares ler sua declaração, Borrell divulgou uma mensagem nas redes sociais em que, após lembrar que “o respeito no debate público é um dos pilares da UE”, destaca: “Ataques contra familiares de líderes políticos não têm lugar em nossa cultura. Nós os condenamos e rejeitamos, especialmente quando vêm de nossos parceiros”.

O PP evitou apoiar a chamada a consultas da embaixadora em Buenos Aires alegando que sua tarefa é “fazer oposição ao governo da Espanha, não ao da Argentina” e acusando o governo de pretender “que Milei mobilize o eleitorado que já não convence o governo”. “Da estratégia do PSOE não participamos”, disseram fontes do PP citadas pela Europa Press. “O ministro das Relações Exteriores, que não nos chamou para nos informar sobre a posição no Saara, Ucrânia, Israel ou Gibraltar, chama hoje [domingo] para que o PP defenda Pedro Sánchez de declarações do presidente argentino que o governo acusou de se drogar”, acrescentaram as mesmas fontes. Longe de apoiá-lo, o PP culpou implicitamente o chefe do governo. “Há semanas que Sánchez deveria ter dado explicações sobre os casos de suposta corrupção que afetam seu governo, seu partido e seu entorno pessoal.” “Seu silêncio gera dúvidas internas, mas também desconfiança no exterior e fragilidade em nossas posições no exterior”, opinaram.

Por sua vez, a secretária-geral do Podemos, Ione Belarra, respondeu ao ministro das Relações Exteriores quando ele pediu seu apoio para que chamasse também a consultas a embaixadora da Espanha em Israel. “A direita se combate com direitos e avanços concretos e ninguém vai entender que façam isso sem antes chamar a consultas a embaixadora em Israel”, escreveu Belarra na rede social X. Fontes do PNV confirmaram que Albares ligou para seu porta-voz no Congresso, Aitor Esteban, que lhe deu seu apoio.

Este não é o primeiro choque diplomático entre a Espanha e a Argentina desde que Milei assumiu o poder. No início de maio, o ministro dos Transportes, Óscar Puente, insinuou que o novo presidente argentino consome entorpecentes, ao que a Casa Rosada respondeu com um duríssimo comunicado em que desqualificava o governo de Pedro Sánchez. Naquela ocasião, entretanto, Puente fez um arrependimento tímido e a chancelaria argentina deu o incidente por encerrado.

Nos cinco meses em que está na Casa Rosada, Milei teve confrontos diplomáticos com Chile, Venezuela e México. No entanto, o mais grave ocorreu em março passado com a Colômbia, cujo homólogo, Gustavo Petro, o presidente argentino chegou a qualificar de “assassino terrorista”, o que levou Bogotá a anunciar a expulsão de três diplomatas argentinos, embora não tenha sido consumada.

Publicado originalmente no El País.

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