Um dos maiores enigmas da cosmologia é o chamado “problema dos três corpos”, onde três planetas ou três estrelas sofrem influências gravitacionais mútuas. Entender as equações que governam a relação entre esses três astros é considerado um dos cálculos mais complicados do universo.
O escritor chinês de ficção científica Liu Cixin usou esse mistério para escrever o livro intitulado O problema dos três corpos, que se tornou um dos maiores sucessos literários do gênero, inspirando séries e filmes.
Em São Paulo, temos um problema de três corpos que parece tão ou mais complexo que o problema cosmológico original.
Os três principais candidatos, Boulos, Nunes e Marçal, apresentam impressionante solidez eleitoral e política, cada um por diferentes motivos.
Boulos é o candidato dos jovens, da classe média esclarecida, dos universitários, da esquerda e de Lula. É sólido o suficiente para manter, em todas as pesquisas, um percentual entre 20% e 30%, ocupando sempre o primeiro ou segundo lugar.
Já o atual prefeito conseguiu montar uma ampla coligação de forças de direita e centro, tornando-se o candidato da máquina, dos mais velhos e dos conservadores moderados.
O “problema dos dois corpos”, na cosmologia, também é um desafio matemático complexo, mas nada se iguala às dificuldades criadas por três grandes massas girando entre si. E aí entra o terceiro corpo da cosmologia eleitoral de São Paulo: Pablo Marçal, o candidato da “extrema direita raiz”, cuja personalidade remete ao fenômeno Milei, na Argentina. Marçal bagunçou o cenário paulistano ao identificar um vazio ideológico importante no pleito da capital. Com Boulos optando por moderar seu discurso, para não dar a oportunidade de Nunes polarizar com ele na base da dicotomia “moderado versus radical”, o que, em tese, daria vantagem ao prefeito, e com Nunes igualmente procurando manter distância dos aspectos mais extremistas do bolsonarismo (para não perder votos moderados para Boulos), abriu-se um enorme campo para Marçal. O ex-coach pode explorar a imagem de “antissistema”, obtendo o voto tanto do jovem ansioso por um discurso disruptivo quanto do bolsonarista disposto a transformar seu voto numa mensagem raivosa anti-Lula e anti-esquerda.
Para complicar ainda mais a vida dos analistas, há um “quarto corpo” na cosmologia eleitoral paulistana: a deputada federal Tábata Amaral, que vem conseguindo segurar, com muito talento e firmeza, um percentual de 8% a 11%, dependendo da pesquisa, e cuja presença já foi incorporada, de maneira expressiva, ao imaginário político da cidade. Muito provavelmente, Tábata Amaral será um ativo determinante no segundo turno!
Hoje será divulgada mais uma pesquisa Datafolha, a partir das 16h, pelos jornais Folha e Globo. Na última pesquisa, divulgada semana passada (dia 26), havia um empate entre os dois primeiros colocados, com Nunes pontuando 27% e Boulos 25%. Marçal seguia logo atrás, com 21%.
Que outras pesquisas virão? Confira depois do gráfico.
Ainda serão divulgadas diversas pesquisas para a capital mais importante do país. Ainda teremos outro Datafolha, com entrevistas realizadas no dia 04 de outubro, e que será divulgada no mesmo dia, uma sexta-feira.
A eleição acontece no domingo, 06 de outubro.
Esse último Datafolha custou R$ 159 mil, pagos pelos grupos Folha e Globo.
Teremos ainda uma pesquisa Quaest, a ser divulgada no dia seguinte, sábado, embora feito com entrevistas iniciadas no dia 04. Essa pesquisa custou R$ 238.200, pagos pelo Globo.
Por fim, também na véspera das eleições, ou seja, no dia 05 de outubro, sábado, será divulgada uma pesquisa Atlas Intel, paga pelo próprio instituto, ao preço de R$ 35 mil.
Algumas observações sobre o último Datafolha.
Nota-se o início de uma tendência de descolamento do voto jovem em favor de Boulos, que pode ser promissor para o candidato.
Segundo o último Datafolha, divulgado dia 26/09, Boulos liderava isolado entre o voto de eleitores com idade entre 16 e 24 anos, com 27%, tendo oscilado dois pontos para cima.
Já Nunes havia oscilado dois pontos para baixo, de 23% para 21%, empatando com Marçal, que apresentava a mesma pontuação.
Tábata registrou um bom desempenho nesse segmento, subindo de 8% para 13%, aparentemente tirando muitos votos de Datena, que despencou de 10% para 5%.
Entretanto, em outras faixas etárias do eleitorado, Boulos ainda enfrenta desafios. Na faixa etária logo acima da anterior, com eleitores entre 25 e 34 anos, a liderança é de Marçal, com 29%, cinco pontos à frente de Boulos, com 24%. Nunes tem 17% nesse estrato.
Tábata chegou a 10% nesse segmento.
Marçal também cresceu de maneira importante junto ao eleitorado com idade entre 35 e 44 anos, onde liderava com 28%, seguido de Nunes, com 24% e Boulos com 22%.
O ponto mais forte de Nunes segue sendo o eleitorado com mais de 60 anos, onde ele oscilou para cima, e hoje tem 33%. Boulos, por sua vez, oscilou para baixo nesse estrato e hoje pontua 28%. Pablo Marçal tem dificulades de conquistar o eleitor mais velho, e pontuou apenas 13% nesse estrato.
Conclusão
Uma análise dos estratos etários explica a preocupação de todas as campanhas, mas sobretudo a de Nunes e Boulos, que vêem, ambos, a possibilidade de serem ultrapassados por Marçal e ficarem de fora do segundo turno.
A possibilidade de um segundo turno apenas com candidatos da direita, ou seja, entre Nunes e Marçal, já é uma possibilidade, assim como também é possível qualquer outro cenário envolvendo os três primeiros colocados.
Ugo
03/10/2024 - 09h23
Miguel do Rosario…vc esqueçeu de fazer a analise da pesqusia de ontem a respeito de Lula/Governo.
Mandrake
03/10/2024 - 09h15
A unica certeza é que a esquerda tem minoria esmagadora em Sao Paulo.
Zulu
03/10/2024 - 09h14
Por curiosidade…o que seria a “classe media esclarecida” ‘?