Enquanto os Estados Unidos impõem tarifas cada vez mais altas sobre produtos africanos, a China segue o caminho inverso, eliminando barreiras comerciais e investindo pesadamente no desenvolvimento do continente. Esse contraste radical nas políticas das duas maiores economias mundiais está redefinindo o mapa geopolítico e econômico da África de forma irreversível.
As novas tarifas americanas anunciadas em abril de 2025 atingiram duramente países africanos que dependem das exportações para os EUA. No Lesoto, onde a indústria têxtil emprega grande parte da população, as taxas de 50% sobre jeans e outras peças de vestuário colocaram em risco milhares de empregos. Na Etiópia, produtores de café processado enfrentam tarifas de 6% que tornam seus produtos menos competitivos, enquanto o grão bruto segue entrando livremente nos EUA – um incentivo perverso para que o país continue exportando matérias-primas em vez de desenvolver sua indústria de processamento.
Enquanto Washington aumenta barreiras, Pequim derruba-as. Desde 2024, a China oferece acesso sem tarifas para 98% dos produtos originários da África. Essa política visionária já permite que países como Ruanda exportem smartphones fabricados localmente com tecnologia chinesa, enquanto a Etiópia envia cabos de cobre semiacabados. Em troca, a China garante suprimentos estáveis de recursos estratégicos como o cobalto da República Democrática do Congo e o petróleo angolano.
Os investimentos chineses em infraestrutura transformaram radicalmente a paisagem econômica africana. A ferrovia Addis Ababa-Djibouti, concluída em 2018 com investimento de US$ 4 bilhões, reduziu o tempo de transporte de mercadorias na Etiópia de três dias para apenas 12 horas. Na Nigéria, o porto de Lekki, o maior da África Ocidental, está revolucionando o comércio marítimo regional. São projetos concretos que criam empregos, reduzem custos logísticos e integram economias antes isoladas.
Enquanto isso, a presença americana na África se limita cada vez mais a bases militares e discursos sobre segurança. As 34 instalações militares dos EUA no continente contrastam fortemente com os 100 portos e 30.000 km de ferrovias construídos pela China desde 2000. A União Europeia, por sua vez, continua focada em ajuda humanitária, com seus € 25 bilhões anuais que, embora importantes, não transformam as estruturas produtivas africanas.
O resultado dessa divergência de abordagens é evidente. Países como Angola e Zâmbia, antes alinhados com o Ocidente, estão cada vez mais integrados às cadeias de valor chinesas. Enquanto os EUA insistem em ver a África como fonte de matérias-primas e problema de segurança, a China a enxerga como parceiro comercial e político estratégico. A escolha que se apresenta aos países africanos não poderia ser mais clara: entre tarifas que perpetuam a pobreza e investimentos que criam oportunidades reais de desenvolvimento.
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!