O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, classificou como “lamentável” a decisão da China de impor tarifas retaliatórias de 84% sobre produtos norte-americanos.
A declaração foi feita nesta quarta-feira, 9, em entrevista concedida à Fox Business Network, no contexto da escalada das tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo.
Bessent afirmou que a medida representa uma derrota estratégica para Pequim e criticou a ausência de diálogo direto entre os dois governos. “Acho lamentável que os chineses realmente não queiram vir e negociar, porque são os piores infratores no sistema de comércio internacional”, disse o secretário.
A nova rodada de tarifas foi anunciada pelo governo chinês no início da semana, em resposta ao aumento das taxas de importação imposto pelos Estados Unidos sobre produtos chineses. As tarifas de 84% atingem diversas categorias de bens exportados para a China, ampliando o atrito bilateral no comércio exterior.
Durante a entrevista, Bessent declarou que países aliados dos Estados Unidos manifestaram interesse em discutir com autoridades norte-americanas formas de reequilibrar a política comercial chinesa. “Essa é a grande vitória aqui. Os EUA estão tentando se reequilibrar em direção a mais manufatura. A China precisa se reequilibrar em direção a mais consumo”, afirmou.
O secretário também emitiu um alerta sobre uma possível desvalorização cambial promovida por Pequim como mecanismo de reação às tarifas. Segundo Bessent, uma medida dessa natureza poderia ter repercussões negativas para o comércio global.
“Se a China começar a desvalorizar, isso será um imposto sobre o resto do mundo e todos terão que continuar aumentando suas tarifas para compensar a desvalorização. Portanto, eu faço um apelo para que não façam isso e se sentem à mesa”, declarou.
Questionado sobre medidas adicionais que os Estados Unidos poderiam adotar em relação a empresas chinesas, Bessent não descartou a possibilidade de ações mais restritivas, incluindo a retirada de companhias chinesas das bolsas de valores dos Estados Unidos. “Todas as opções estão em pauta”, disse.
As declarações ocorrem em um momento de crescente tensão nas relações econômicas entre Washington e Pequim. Após a imposição de novas tarifas por parte dos Estados Unidos no mês passado, a China respondeu com a elevação das taxas de importação sobre bens norte-americanos. A decisão foi formalizada pelo Comitê de Tarifas Aduaneiras do Conselho de Estado chinês e entrou em vigor na quinta-feira (10).
O embate comercial tem causado incerteza entre investidores e impactado os mercados globais. Analistas observam que a ausência de uma negociação formal entre os dois países dificulta a previsibilidade no fluxo internacional de mercadorias e investimentos.
A política de elevação tarifária adotada pelos Estados Unidos faz parte de uma estratégia mais ampla do segundo governo de Donald Trump, que tem buscado reduzir o déficit comercial com a China e incentivar o retorno da produção industrial ao território norte-americano. Ao mesmo tempo, o governo chinês tem adotado medidas para proteger seus setores estratégicos e garantir a estabilidade de suas exportações.
Autoridades norte-americanas têm reiterado que o objetivo das medidas não é interromper o comércio com a China, mas forçar mudanças estruturais na política econômica do país asiático.
A Casa Branca ainda não se pronunciou oficialmente sobre as últimas declarações de Bessent, mas fontes do Departamento de Comércio indicam que novas medidas poderão ser anunciadas nas próximas semanas, dependendo da evolução do conflito tarifário.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) acompanha os desdobramentos e já recebeu consultas formais de países terceiros sobre os impactos potenciais das tarifas cruzadas. Até o momento, não há previsão de reuniões multilaterais entre representantes dos dois países dentro do escopo da OMC.
Empresas multinacionais com operações nos Estados Unidos e na China seguem avaliando cenários e ajustando estratégias. Há relatos de redirecionamento de cadeias produtivas e suspensão de novos investimentos diante do risco regulatório.
O governo norte-americano não confirmou a existência de negociações em andamento com autoridades chinesas. A expectativa entre analistas de mercado é de que eventuais diálogos ocorram por meio de canais diplomáticos reservados, enquanto medidas unilaterais continuam sendo adotadas publicamente.
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