O consumo popular na Argentina segue com desempenho negativo, mesmo diante de uma base de comparação reduzida por conta das quedas de 2024 e de uma leve recuperação da atividade econômica. Em março, o setor registrou uma contração de 5,4% na comparação anual e uma queda acumulada de 8,6% no primeiro trimestre, conforme levantamento da consultora privada Scentia, amplamente acompanhada pelo mercado.
Segundo os dados, supermercados e autosserviços, que juntos representam cerca de 70% do setor, mostraram retrações menores que no mês anterior. Em março, os supermercados caíram 7,1% e os autosserviços, 3,7%, frente a uma queda de 9,8% em fevereiro. A comparação também é afetada pelo fato de a Páscoa ter ocorrido em março de 2024, enquanto neste ano caiu em abril.
Embora o cenário geral ainda seja de retração, algumas categorias de produtos começaram a dar sinais de recuperação. A categoria Alimentação cresceu 0,5% e Perecíveis, 1,2%. Já Bebidas com álcool caíram 18%, sem álcool, 16%; produtos Impulsivos, 15,6%; Higiene e Cosmética, 3,3%; Limpeza de Roupas e do Lar, 2%; e Café da manhã e Lanche, 1,5%.
Esses dados surgem mesmo diante de uma inflação em aceleração. Em março, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 3,7%, acumulando 55,9% nos últimos 12 meses. O grupo de Alimentos teve o maior peso, com alta de 5,9%, puxada por verduras, tubérculos, leguminosas e carnes.
A Educação liderou os aumentos mensais, com 21,6%, impulsionada pelo início do ano letivo. Já os serviços públicos registraram reajustes mais moderados: habitação, água, eletricidade, gás e combustíveis subiram 2,9%, enquanto o transporte aumentou 1,7%.
Analistas atribuem a queda no consumo massivo à mudança na composição dos gastos das famílias, com maior peso dos serviços públicos. Por outro lado, as vendas de bens duráveis vêm crescendo, puxadas pela expansão do crédito.
Ainda assim, a tendência observada em março pode ser revertida caso o IPC volte a acelerar. A recente retirada do controle cambial liberou o dólar oficial para flutuar entre 1.000 e 1.400 pesos, gerando pressão nos preços. Supermercados e armazéns já estão recebendo listas com reajustes de até 9% em alguns produtos.
A consultora 1816 alerta que o processo de desinflação previsto para o início do ano pode ser comprometido pelo impacto cambial. O grupo Romano estima que abril feche com inflação de 5% a 5,5%, enquanto a Analytica prevê índices iguais ou superiores aos de março. Bancos como JP Morgan, BNP Paribas e Morgan Stanley também alertaram para pressões inflacionárias de curto prazo com o novo regime cambial, parte de um acordo com o FMI, que prevê um desembolso de USD 20 bilhões.
Segundo Damián Di Pace, da Focus Market, os reajustes de preços já refletem os choques cambiais e a resposta do mercado nos próximos 15 dias será crucial para definir o novo ponto de equilíbrio do câmbio. Ele destacou que o consumo não acompanha o ritmo da recuperação econômica, pois o limite do preço é dado pelo piso dos salários e rendimentos.
Ele concluiu que, ao contrário de outros períodos de crise, não há estoque excessivo nem antecipação de compras diante da expectativa de desvalorização. Em vez disso, o comportamento de consumo é de reposição gradual, com foco na competição de preços entre varejo e atacado.
Ludmila Di Grande
Sem biografia disponível
16 de abril de 2025
Infobae
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