Em entrevista concedida à GloboNews em 12 de maio, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a China pode desempenhar papel relevante na cooperação internacional por equilíbrio climático, mesmo sendo atualmente o maior emissor de gases de efeito estufa. A declaração foi destacada pelo jornal Valor Econômico no sábado, 17.
Segundo Haddad, o protagonismo chinês em tecnologias de energia limpa e mobilidade elétrica deve ser considerado ao analisar sua participação na agenda ambiental.
“A China é o maior produtor de painéis solares, está fazendo sua transição automotiva na maior velocidade possível e já produz os carros elétricos mais baratos. É um grande emissor. Mas uma coisa é a pessoa emitir, outra é não fazer nada. A China pode ser um grande parceiro global em busca de um equilíbrio climático para o planeta. E eles têm tecnologia. Não é só dinheiro”, afirmou.
Durante a entrevista, o ministro também apresentou detalhes sobre uma das propostas que o governo brasileiro levará à 30ª Conferência das Partes sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em novembro na cidade de Belém (PA).
Trata-se do Tropical Forests Forever Fund (TFFF), um fundo internacional voltado ao financiamento da preservação de florestas tropicais. Segundo Haddad, o projeto está em fase avançada de formulação e já recebeu manifestações favoráveis de países europeus. No entanto, Estados Unidos e China ainda não sinalizaram adesão.
“As duas grandes potências ainda não deram sinal verde, mas tem um conjunto de países europeus querendo aportar recursos”, declarou.
Haddad também afirmou que o fundo teria estrutura de crédito, oferecendo remuneração mínima a investidores. Os recursos arrecadados seriam utilizados em projetos de preservação e transformação ecológica, com os lucros sendo distribuídos proporcionalmente aos países que mantiverem florestas em pé. “Como não é doação e o investidor vai estar sendo remunerado, todos os interlocutores do Brasil até aqui dizem que pode se tornar viável”, acrescentou.
O ministro explicou que o funcionamento do fundo dependeria de regras claras para aplicação de recursos e distribuição de lucros, com o objetivo de garantir segurança jurídica e institucional. Para Haddad, essa estrutura pode gerar efeito moral positivo no cenário internacional.
“A política funciona também por constrangimento moral: se você criar um ambiente institucional, uma segurança jurídica de que o dinheiro será bem aplicado, uma regra de distribuição do lucro bem feita, você vai criando na comunidade global um constrangimento”, disse.
Sobre as expectativas para a COP30, Haddad reconheceu que o principal desafio continuará sendo o financiamento climático, especialmente em países em desenvolvimento. Segundo ele, a dificuldade é agravada pela presença de governos que não priorizam pautas ambientais.
“Os países governados por forças mais negacionistas são mais refratários a políticas ambientais, mas o papel da política é criar interlocução, sociabilidade, diálogo para constranger a fazer o certo”, afirmou.
Entre as propostas brasileiras para o evento, o ministro citou estímulos à produção de biocombustíveis e a criação de uma nova linha de crédito para recuperação de pastagens degradadas. O programa, iniciado com um projeto piloto em 1 milhão de hectares, poderá atingir até 40 milhões de hectares mapeados pelo governo federal. “Acredito que vamos esgotar rapidamente a linha de crédito”, avaliou.
Durante a entrevista, Haddad também abordou a exploração de petróleo na Margem Equatorial. Ele defendeu a realização de pesquisas sobre o potencial da região, mas alertou para a necessidade de manter o foco na transição energética.
“Temos que, o quanto antes, prescindir do petróleo. A humanidade. Saber o que há na Margem Equatorial é importante e sou a favor da pesquisa. Mas o petróleo que eventualmente possa estar lá não pode ser pretexto para atrasarmos nossa transição”, disse.
Haddad reafirmou o compromisso ambiental do governo federal, destacando a atuação da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. “Está na agenda do Lula. Não tem nada na nossa agenda sem respaldo do presidente Lula”, declarou.
Ao final da entrevista, o ministro afirmou que a pauta ambiental deverá ganhar maior relevância no cenário econômico internacional, inclusive entre autoridades financeiras. “Os ministros de finanças vão estar atentos a esse problema em virtude inclusive dos custos que a crise climática acaba acarretando. Não vejo no futuro próximo uma pessoa alheia ao tema estar em um cargo importante”, concluiu.
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