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Aprovação de Trump despenca nos Estados Unidos

É preciso colocar a aprovação de Trump em perspectiva. Não se trata apenas de um presidente com prestígio despencando dramaticamente. Há muitos outros fatores que precisam ser levados em conta, e que inclusive devem ter repercussão na política brasileira. Bolsonaristas tem apelado para a estratégia desesperada de inventar uma “ameaça a democracia”, com alguns nomes […]

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O presidente Donald Trump faz uma saudação enquanto participa de um desfile militar em comemoração ao 250º aniversário do Exército, coincidindo com seu 79º aniversário, em 14 de junho de 2025, em Washington. AP Photo/Julia Demaree Nikhinson

É preciso colocar a aprovação de Trump em perspectiva. Não se trata apenas de um presidente com prestígio despencando dramaticamente.

Há muitos outros fatores que precisam ser levados em conta, e que inclusive devem ter repercussão na política brasileira.

Bolsonaristas tem apelado para a estratégia desesperada de inventar uma “ameaça a democracia”, com alguns nomes se autoexilando nos Estados Unidos e fazendo lobby junto a setores políticos americanos contra o Brasil.

Mas a maior parte da imprensa e da intelectualidade nos EUA trata o governo Trump como a pior ameaça à democracia já enfrentada ṕelo país nos últimos anos. É evidente que essa contradição bolsonarista, de usar o governo Trump como fiador da nossa democracia, ignorando que é um governo acusado, em grande parte da sociedade, de estar minando os pilares da democracia americana, irá dificultar a narrativa da extrema direita brasileira.

Com pouco mais de 140 dias de seu segundo mandato, o presidente Donald Trump enfrenta uma forte queda em sua aprovação popular. A nova pesquisa do NBC News Decision Desk revela números negativos para o governo republicano. Os americanos estão mais preocupados com a economia e as ameaças à democracia do que com a imigração, principal bandeira de Trump.

A pesquisa foi divulgada no mesmo momento em que os Estados Unidos testemunharam as maiores mobilizações populares dos últimos anos. Neste sábado, 14 de junho de 2025, os protestos “No Kings” (Sem Reis) ocorreram simultaneamente em mais de 2.000 localidades americanas. As manifestações contrastaram com o fracasso de público da parada militar organizada pelo presidente, que custou quase 50 milhões de dólares e foi amplamente criticada enquanto o governo Trump promete cortar milhões de americanos dos principais programas sociais como o Medicaid.

A pesquisa, realizada entre 30 de maio e 10 de junho com 19.410 adultos americanos, revela um cenário desafiador para Trump. Sua aprovação geral permanece em território negativo, com 55% dos americanos desaprovando sua gestão presidencial, enquanto apenas 45% a aprovam. Os números se mantiveram estáveis desde abril, mas apresentam sinais preocupantes de erosão do entusiasmo entre sua base republicana.

Peter Baker, correspondente-chefe da Casa Branca do New York Times e analista político da MSNBC, explica o foco persistente de Trump na imigração: “Ele sempre foi alguém que se concentrou principalmente em sua própria base e no que eles estavam interessados, em vez do público em geral. Ele perdeu metade do país que nunca vai recuperar”. Baker destaca que, embora a imigração seja apenas a quinta prioridade para os americanos em geral (9%), ela representa cerca de 20% das preocupações entre republicanos.

O declínio é particularmente notável entre os republicanos, que apresentaram cinco pontos percentuais a menos de aprovação “forte” comparado a abril. Grande parte desse movimento veio de republicanos que se identificam como parte do movimento MAGA, migrando para a categoria de aprovação “moderada”. Quando questionados sobre suas emoções em relação às ações do governo Trump, apenas 37% dos apoiadores MAGA disseram estar “entusiasmados”, uma queda significativa em relação aos 46% registrados em abril.

Susan Glasser, escritora da The New Yorker, observa que: “o problema para Trump é que ele só tem um manual de instruções e agora está enfrentando um grande dilema porque quer declarar vitória sobre essa enorme onda de imigração ilegal que ele afirma ser culpa de Joe Biden. Ao mesmo tempo, está justificando sua repressão extraordinária e possivelmente extralegal à imigração dizendo que estamos sob invasão”.

A contradição apontada por Glasser revela uma tensão fundamental na narrativa de Trump: “Você não pode estar sob invasão por hordas furiosas de alienígenas ilegais e, ao mesmo tempo, declarar vitória de que suas políticas de deportação em massa agora são um sucesso”. Ela conclui que “Trump é muito melhor como candidato externo destruindo aqueles cujo trabalho é governar o país do que como governante”.

A imigração continua sendo a questão mais forte de Trump, embora o público permaneça dividido mesmo nesta área de relativa força. Apenas 51% dos americanos aprovam sua gestão da segurança nas fronteiras e imigração, enquanto 49% desaprovam. Durante o período da pesquisa, Trump enviou tropas da Guarda Nacional e fuzileiros navais para a região de Los Angeles devido aos crescentes protestos contra a atuação do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE).

As avaliações de Trump em outras áreas são ainda mais negativas. Sobre tarifas comerciais, apenas 40% aprovam sua gestão, contra 60% que desaprovam. Baker observa que “a economia é uma área de vulnerabilidade para ele porque as pessoas estão se sentindo um pouco ansiosas sobre o que está acontecendo com as guerras tarifárias e o que pode estar por vir em termos de aumentos de preços”.

Em relação ao custo de vida e inflação, os números são similares: 39% de aprovação contra 61% de desaprovação. Questões relacionadas a faculdades e universidades também recebem avaliação negativa, com 43% de aprovação e 56% de desaprovação. O Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderado por Elon Musk, também perdeu apoio desde abril, com apenas 44% classificando a iniciativa como sucesso.

A pesquisa revela divisões significativas dentro do próprio Partido Republicano sobre as prioridades fiscais de Trump. Enquanto 40% dos republicanos se preocupam mais em garantir a redução da dívida nacional, uma parcela quase idêntica (39%) prioriza continuar e expandir os cortes de impostos de 2017. Apenas 21% dos republicanos consideram manter os gastos atuais em programas como Medicaid como prioridade máxima.

Paralelamente aos dados de aprovação em declínio, os Estados Unidos presenciaram as maiores mobilizações políticas dos últimos anos. Os protestos “No Kings”, organizados por uma coalizão de cerca de 200 organizações, ocorreram simultaneamente em mais de 2.000 localidades no dia 14 de junho, coincidindo com o 79º aniversário de Trump e contrastando drasticamente com o fracasso de público da custosa parada militar presidencial.

Baker confirma que a parada militar não atendeu às expectativas: “Obviamente, ele imaginou algo muito mais grandioso, muito mais extravagante, com muitas pessoas e aplausos, e particularmente aplaudindo ele. Os relatórios da parada indicaram uma frequência esparsa em alguns lugares e uma energia meio sem graça. Não acho que foi o que ele queria”.

O evento, que custou aproximadamente 45 milhões de dólares, foi ofuscado pelos protestos massivos. Baker destaca: “Foi ofuscado por protestos com centenas de milhares de pessoas anti-Trump nas ruas de cidades em todo o país, multidões enormes em Nova York, São Francisco, até mesmo no Texas”. A parada, que deveria celebrar o 250º aniversário do Exército americano, “se tornou uma reflexão tardia para muitas coisas importantes que estão acontecendo agora”.

A situação de Trump deve ser comparada ao que vemos por aqui. No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém uma aprovação de 46% segundo pesquisa Datafolha, um índice que a mídia brasileira trata como extremamente negativo, apesar de Lula estar com mais de dois anos e meio de governo. Essa comparação ressalta como Trump, com apenas 140 dias de governo, já enfrenta desafios significativos de aprovação popular.

Glasser oferece uma perspectiva histórica sobre o impacto de Trump na política americana: “Donald Trump vai ter seu nome carimbado nesta era. É também uma estrutura de permissão para muitos dos piores aspectos de nossa natureza”. Ela observa como “a mentira casual, a divisão, o ódio, a demagogia agora se tornaram fatos aceitos de nossa política, ativamente aplaudidos por uma grande parte da América”.

A análise dos especialistas revela que Trump transformou fundamentalmente a política americana. Baker nota: “O que é notável é o quanto ele moldou esta década, o quanto ele dominou, mesmo quando não era presidente. Ele dominou nosso discurso nacional agora por 10 anos. Tudo, mesmo quando Biden era presidente, era um reflexo de Trump de muitas maneiras”.

A diferença de intensidade emocional entre apoiadores e opositores de Trump pode desempenhar um papel importante em ciclos eleitorais não presidenciais. A maioria dos democratas (51%) afirma estar “furiosa” com as ações do governo Trump, enquanto os republicanos se distanciaram sete pontos percentuais de um sentimento de entusiasmo para uma postura mais neutra desde abril.

A maioria dos independentes afirmou estar insatisfeita, irritada ou furiosa com as ações do governo, refletindo-se no índice de aprovação do presidente entre esse grupo crucial, com 65% desaprovando seu desempenho. Esse dado é particularmente preocupante para Trump, considerando que os independentes frequentemente determinam o resultado de eleições competitivas.

As avaliações econômicas permanecem mornas, com 45% dos americanos dizendo que sua situação financeira pessoal é a mesma de um ano atrás e 34% afirmando que está pior. A pequena maioria (51%) acredita que as tarifas de Trump piorarão suas finanças pessoais no próximo ano, refletindo as preocupações econômicas destacadas pelos analistas da MSNBC.

Os eventos de 14 de junho – com protestos massivos em mais de 2.000 localidades contrastando com uma parada militar custosa e mal frequentada – simbolizam os desafios enfrentados por Trump em seu segundo mandato. A combinação de aprovação em declínio, mobilização da oposição e dificuldades para energizar sua própria base sugere um cenário político complexo para os próximos anos.

A pesquisa, com margem de erro de 2,1 pontos percentuais, oferece um retrato detalhado de um país politicamente dividido, onde a intensidade das emoções varia drasticamente entre diferentes grupos. Enquanto Trump mantém apoio sólido entre republicanos, a erosão do entusiasmo mesmo entre seus apoiadores mais fervorosos, combinada com a mobilização histórica da oposição, desenha um panorama desafiador para sua administração.

Como observa Glasser, “Joe Biden aspirava acabar com a era Trump. Em vez disso, ele se tornou o triste interregno que provou que Donald Trump era o dono deste momento político na história americana. E isso nos diz sobre Trump, mas também nos diz sobre a América”. Os ataques à democracia que estão ocorrendo nos Estados Unidos transcendem questões de aprovação popular, exigindo uma análise equilibrada dos desenvolvimentos políticos em curso.

A capacidade de Trump de reverter essas tendências e reconquistar o entusiasmo de sua base será crucial para determinar não apenas o sucesso de seu segundo mandato, mas também o futuro político do Partido Republicano e a estabilidade democrática americana. Com as eleições de meio de mandato de 2026 se aproximando, a dinâmica atual sugere um cenário eleitoral altamente competitivo e imprevisível.

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