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A eleição de Maduro e a nova América

A vitória de Nicolás Maduro na Venezuela reacendeu a guerra ideológica nos meios de comunicação. E como em qualquer guerra, a primeira vítima é a verdade.

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A vitória de Nicolás Maduro na Venezuela reaacendeu a guerra ideológica nos meios de comunicação. E como em qualquer guerra, a primeira vítima é a verdade. O distinto público brasileiro recebe informações totalmente desencontradas sobre a Venezuela, e uma delas é a ladainha sobre o fim do “chavismo”, como analistas conservadores se apressam em decretar.

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O “fim do chavismo” já foi alardeado centenas de vezes, ao longo dos últimos anos. Quem não se lembra das pesquisas eleitorais que apontavam o declínio de Chávez, perda de popularidade e votos?

Entretanto, é importante atentar para o conjunto quando se analisa o quadro venezuelano:

  1. Maduro venceu as eleições. A oposição pode espernear, chorar, gritar, matar governistas. Isso só deporá contra ela. Numa democracia madura, é raro vitórias avassaladoras. Há muitas décadas que os presidentes norte-americanos, por exemplo, ganham com pequena margem sobre seus adversários.
  2. A esquerda chavista tem ampla maioria parlamentar, a maior parte de governadores e prefeitos no país. Ou seja, se analisarmos a evolução do chavismo na Venezuela, vemos que ele está no auge, e não em declínio.
  3. Houve uma mudança cultural profunda no país. Militares, juízes e promotores públicos, antes sempre ligados à direita, hoje também se ligam simpaticamente ao chavismo.
  4. A mídia hoje na Venezuela se tornou mais plural. O governo tem voz, através de canais públicos que gozam de ampla audiência. Não está mais fragilizado politicamente pelos ataques pesados da mídia privada.
  5. O povo venezuelano está mais politizado, mais altivo, mais atento a seus direitos. Mesmo que a direita ganhe, eventualmente, uma eleição presidencial, o povo e seus parlamentares não deixarão que o Estado seja entregue, novamente, ao imperialismo.

De maneira geral, a vitória de Maduro, e inclusive a maneira como ela se deu, numa eleição competitiva, reflete a nova América Latina. Os distúrbios provocados pela irresponsabilidade de Capriles são simplesmente ridículos e apenas o debilitarão politicamente, mas não mudam um quadro de relativa estabilidade política – ao menos para os nossos parâmetros. Ainda temos o perigo de golpes brancos, parlamentares, midiáticos, judiciários, mas são riscos inerentes a qulaquer democracia, e que devem ser sanados através de ferramentas democráticas, aprimorando-se o sistema e blindando-o contra esse tipo de manipulação.

No Brasil, a ascendência de Eduardo Campos como eventual líder de oposição preenche um vazio de poder. Nada mais natural, e saudável do ponto-de-vista democrático, porque fomenta o debate político e obriga o governo a se posicionar com mais clareza e aprestar-se a mostrar resultados concretos de seu desempenho.

Entretanto, Campos parece ter escolhido um caminho no mínimo questionável para se projetar politicamente. Suas posições tem convergido, de uma maneira até constrangedora, para as opiniões do que nosso amigo PHA chama de “Big House”. Dói nos ouvidos ver Campos, que muitos consideravam (e ainda consideram) um promissor quadro da esquerda tupi, declarando que “não será um desastre se houver aumento de juros”.

É claro que o Brasil sobreviverá a um aumento de juros, e o Banco Central eventualmente poderá tomar alguma decisão neste sentido, mas é vergonhos que Campos se junte ao coro de mídia e elite rentista para aumentar os juros. Nas últimas semanas, temos visto uma campanha maciça pela alta dos juros. Todo tipo de manipulação foi usada. A alta sazonal de um produto agrícola, o tomate, foi tratada de maneira apocalíptica, sempre com intuito de produzir uma atmosfera de pressão pró-juros.

O Brasil não precisa de juros mais altos, porque os juros brasileiros ainda são extremamente elevados. E a inflação está caindo, não subindo. A inflação de março foi menor que a de fevereiro, e a previsão de todos os analistas, seja do governo, seja da iniciativa privada, é de uma taxa menor este ano do que em 2012, e menor ainda em 2014.

O crescimento do PIB para 2013 deve ficar em torno de 3%. É pouco, mas vem junto com desemprego baixo, melhor performance da indústria, inflação declinante. Economia de um país lembra um pouco uma planta. É importante irrigar, jogar adubo, mas não adianta forçar a barra. Ela cresce no seu tempo.

Evidentemente que se pode fazer muito mais. Eduardo Campos está certo. Mas esse “mais” nasce de um processo natural de aperfeiçoamento da máquina pública. As grandes obras sendo tocadas no Brasil produzem grandes levas de operários, engenheiros, técnicos e burocratas especializados, que serão mais ágeis quando trabalharem em outras obras.

O Brasil, assim como o resto da América morena, precisa de tempo, estabilidade política duradoura e saber encontrar o delicado equilíbrio entre a paciência e o espírito de luta. Sem paciência, enlouquecemos literalmente diante dos desafios monstruosos que ainda temos de superar. Sem espírito de luta, entregamo-nos a perigosa tendência de resignação e desânimo que, muitas vezes, alguns setores dominantes têm interesse em disseminar nas pessoas – para melhor manipulá-las e controlá-las.

Com todos os erros dos nossos governos, e com certeza são muitos, e apesar dos desvios conservadores, das covardias, o Brasil continua avançando de maneira esplêndida em termos de melhorar a qualidade de vida para seus cidadãos. Segundo Aristóteles, a razão de ser da política e das cidades é oferecer felicidade aos cidadãos. A luta continua, muito dura, e temos desafios, injustiças e perigos à nossa frente. Mas ao menos podemos sentir o alívio de que o debate político não é mais totalmente (ainda é, mas não totalmente) pautado pelos gigantes da mídia. Setores crescentes da sociedade, dia após dia, vem se dando conta de que devemos pensar com nossas próprias cabeças, e jamais terceirizar nossa opinião política para colunistas de jornal, e devemos nos manter sempre desconfiados, críticos e céticos sobre as análises políticas que lemos, em toda parte. O melhor conselheiro político de cada cidadão ainda é o velho bom senso. É com esta virtude, tão simples e democrática quanto a pedrinha de David, que derrotaremos os Golias que ainda infestam nossas plagas.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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