Menu

Wanderley Guilherme: onde estão as propostas de mudança estrutural?

No blog Segunda Opinião FACE A FACE COM O ELEITOR Por Wanderley Guilherme dos Santos 3 de setembro de 2018 O golpe de 2016 impediu Dilma Rousseff e expulsou as forças populares do circuito do poder. Fiz esse diagnóstico em Democracia Impedida, publicado em 2017. Desde então o tabuleiro foi sacudido e nenhuma das pedras […]

6 comentários
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

No blog Segunda Opinião

FACE A FACE COM O ELEITOR
Por Wanderley Guilherme dos Santos
3 de setembro de 2018

O golpe de 2016 impediu Dilma Rousseff e expulsou as forças populares do circuito do poder. Fiz esse diagnóstico em Democracia Impedida, publicado em 2017. Desde então o tabuleiro foi sacudido e nenhuma das pedras conquistou posição invulnerável.

A fórmula conservadora sustenta que é preciso mudar alguma coisa para que tudo permaneça como está. Minha fórmula para identificar os progressistas liberais é a de que, para eles, “tudo precisa continuar como está para algo mudar”. Parece a mesma, mas na fórmula dos conservadores são eles que dizem o quê e como mudar; na dos liberais progressistas, são estes que decidem o que continuará como está. Raramente uma peça coadjuvante interfere no conchavo entre conservadores e liberais progressistas. Quando surge, é ela a peça de efetiva oposição às regras estruturais, mais do que à simples competição na margem.

Os conservadores contam com três participantes no jogo: Jair Bolsonaro, Marina Silva e Geraldo Alkmin. O destemperado Bolsonaro foi contido pela didática de Paulo Guedes e só os rudes acreditam que vá distribuir armamentos ou castrar homossexuais. O conservadorismo de Guedes é extremista de outro modo: propõe substituir o que está aí em sentido ainda mais devastador para a economia e soberania populares, mantendo a essência imutável.

Marina Silva dispõe-se a defender o status quo promovendo reformas selecionadas, desde que a preservação e as reformas incluam o critério da sustentabilidade. A arbitrariedade do critério só é inferior à da graça da intimidade com a vontade divina, monopólio dos pós-graduandos em teologia. À parte a indignação contra escandalosas iniquidades da ordem, Marina investe na permanência dela.

Geraldo Alkmin é o conservador clássico. Polido com os grupos de interesse, não hesita em tornar-se bolsonariano se a exacerbação das demandas populares lhe parecerem ameaçadoras. Basta lembrar o início do vandalismo policial em junho de 2013. Talvez seja desafiado por um Collor retardatário, João Amoedo, do Partido Novo.

O liberalismo progressista – deixar tudo como está e alterar o possível – resultou da metamorfose do Partido dos Trabalhadores ao chegar ao poder e topar com a dura oposição dos conservadores. Os defensores da ordem não seguem regras contratuais, como ocorre nos acordos coletivos de trabalho e acertos de convivência são inevitáveis. Acertos cujos termos dependem mais da força social do que dos números eleitorais.

Lula obteve mudanças nas margens do sistema, embora vitais para os beneficiados, mantendo intacta a estrutura de extração de mais valor nas indústrias e nas transações bancárias. Foi o melhor acordo fechado, suficiente para transformá-lo no mais amado governante brasileiro. Ainda assim, escapou por pouco de um golpe em 2005.

Dilma não escapou. Depois da crise internacional de 2008, e apesar de drástica redução de recursos, Dilma expandiu os programas sociais. O lance foi inaceitável pelo conservadorismo, temeroso de uma efetiva redistribuição de renda. Caiu e cairia, mesmo se mais competente na administração da crise, ao contrário das fantasias dos críticos de massa falida. Dilma caiu por romper o pacto firmado pelo hábil metalúrgico. Haddad é tentativa de reingresso na ordem, solidário à estrutura vigente, mas aliviando as populações marginais da ordem.

Onde se encontram as propostas de mudanças estruturais afetando as posições dos predadores da economia e da soberania nacionais? – Assistam aos debates.

Apoie o Cafezinho

Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

Mais matérias deste colunista
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

NeoTupi

03/09/2018 - 19h10

O prof. está precisando ler o livro do Jessé de Souza, “A elite do atraso”, para entender que a maior mudança estrutural do PT é a reforma na pirâmide social brasileira.

Nunes

03/09/2018 - 18h10

O Wanderley cria duas categorias de análise, a dos liberais conservadores e a dos liberais progressistas. No primeiro grupo, enquadra Bolsonaro, Marina, Alkmin (sic) e Amoedo; no segundo, Lula, Dilma e Haddad.
Como todos sabemos, os liberais progressistas, mesmo com sua politica de deixar tudo como está, foram defenestrados do poder pelos ditos liberais conservadores e seus aliados, internos e externos.
Ao final de seu texto, o professor cobra mudanças estruturais, que implicariam afetar interesses de poderosos “predadores da economia e da soberania nacional”, ou seja, os que patrocinaram o golpe. Aborda assim, sem nomear, uma terceira categoria, a dos revolucionários, capazes de alterar as estruturas vigentes. Diz mais, que o candidato com tais propostas existe, basta assistirmos aos debates que saberemos quem é. Como não mencionou seu nome, só posso crer que se trata da companheira Vera Lucia, do PSTU.
P.S. Ao relacionar os nomes dos liberais conservadores, o nosso professor Wanderley, em um lapso de memória ,esquece de citar o de Ciro Gomes.

hocuspocus

03/09/2018 - 16h49

“Onde se encontram as propostas de mudanças estruturais afetando as posições dos predadores da economia e da soberania nacionais? ”
“Sr profeçor” ,acho que vc procura que a gente pense que o ÚNICO candidato que propõe reformas estruturais ,é o…CIRO !!!!!!acertei? ( confesso que cheguei a essa conclusão só pelo descarte que o sr fez)

    André Romero

    03/09/2018 - 23h33

    Seu comentário é de uma tristeza argumentativa de amargar, compadre.
    O PT, como sempre, propõe a saída-Lula: a de manter tudo como está, porém botando Band Aids em algumas das enormes mazelas geradas pelo sistema. Foi assim com Lula no período 2003-10, quando ampliou a rede de proteção social aos mais necessitados enquanto governava para os banqueiros e para o sistema financeiro.
    Seja honesto: a quanto tempo você me vê falando isso aqui, antes do articulista a quem você manifesta desprezo, chamando-o de “profeçor”?
    Essa é a verdade que petista se recusa a admitir, ainda que os fatos lhes sejam esfregados na cara. Sai dessa miopia, compadre.
    E parabéns pela perspicácia, ainda que tardia: o único candidato que propõe uma real questionamento dos fundamentos da miséria é o Ciro e ponto final. O resto é conversinha e proselitismo político.

      hocuspocus

      04/09/2018 - 17h04

      Repetes a arrogância de teu candidato,não é estranho,é obvio.A ironia não é para todo o mundo se precisa algo de inteligência ,,isso não se compra ,lamento por ti.Não lembro de vc,andré ,considera seus comentários “inesquecíveis” ? ,mais uma vez ,a arrogância.
      Não sou petista meu caro,nem todos que não rezam o dogma cirista são petistas,o mundo é maior que isso. A discusão do porque Lula fez concessões aos donos do poder ela é interminável e envolve inúmeras variáveis ,dentre as quais ,a falta de consciência política dos eleitores.
      Tem mais uma coisa garoto,a vida já me ensinou que canudo não é sabedoria ,apenas conhecimento.
      Não perderei meu tempo discutindo as propostas “revolucionárias” do ciro com vc,não costumo discutir com fanáticos.

Renato

03/09/2018 - 16h48

Onde estão as propostas estruturais ? Estão com Lula na cadeia !


Leia mais

Recentes

Recentes