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José Carlos de Assis: a rede de lavagem cerebral em favor do neoliberalismo radical

(Parte I) Por José Carlos de Assis Brasileiros da classe média com conhecimentos superficiais de história, portanto suscetíveis de doutrinação na forma de lavagem cerebral de estilo Goebbels, vem sendo submetidos a ataque de propaganda financiado pelo grande capital e coordenado de fora e de dentro por entidades que receitam para o Brasil o liberalismo […]

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O presidente Roosevelt saúda fazendeiros atingidos pela crise, em outubro de 1932

(Parte I)

Por José Carlos de Assis

Brasileiros da classe média com conhecimentos superficiais de história, portanto suscetíveis de doutrinação na forma de lavagem cerebral de estilo Goebbels, vem sendo submetidos a ataque de propaganda financiado pelo grande capital e coordenado de fora e de dentro por entidades que receitam para o Brasil o liberalismo radical baseado no extremo egoísmo. Um desses doutrinadores, Paulo Guedes, tornou-se conhecido como ministro. Falarei dele e da rede de entidades liberais que atua no Brasil oportunamente.

A indignação suscitada por esses vigaristas vendidos ao capital financeiro nada tem a ver com sua ideologia. Tem a ver, sim, com o uso da mentira deslavada como instrumento de persuasão de consciências. Tendo apenas argumentos toscos para defender o neoliberalismo radical, eles recorrem à falsificação aberta de fatos históricos para sustentar teses esdrúxulas. Há pouco deparei-me com um vídeo no youtube que me foi encaminhado por um amigo. O locutor afirma de forma absoluta que o New Deal dos Estados Unidos na época da Grande Depressão fracassou.

A prova do fracasso, na boca de um sujeito até jovem mas claramente identificado com as velhas-novas entidades ultra-liberais, é que a depressão começou em 1929, e o desemprego em 1938 era “ainda” de 17%. O manipulador não disse de quanto era em 1933, na posse do presidente Roosevelt, ou seja, 25%. Cair de 25% de desempregados para 17% foi um feito considerável, sobretudo se a principal agência constituída para enfrentar o desemprego, a Works Progress Administration, só tenha começado a funcionar para valer em 1935. Assim, em menos de três anos, houve queda de 8 pontos percentuais na taxa de desemprego.

Entretanto, mesmo essa numeralogia engana. As primeiras reações da economia às medidas iniciais do New Deal, notadamente nos campos industrial e agrícola, foram extremamente positivas. Desde 1930 até 1933 o PIB havia caído 20%. Em 1933, -2,1%. Já no ano seguinte ao lançamento do New Deal houve um crescimento da economia de espantosos 7,73%. Nos anos seguintes, até 1938, o crescimento foi de 7,65%, 14,21% e 4,28%. Então aconteceu o que os garotos do Von Mises e do Instituto Liberal consideram a prova definitiva do fracasso do New Deal: o PIB caiu 3,98% e o desemprego, antes caindo, subiu para 17%.

Ponto para eles? Absolutamente. Como são ignorantes em História, embora apelem a toda hora para historiografias mistificadas, desconhecem – ou fingem não saber – que os liberais do Congresso, com apoio de democratas conservadores, haviam imposto uma derrota a Roosevelt no campo fiscal em 1937. Exigiram que o orçamento fosse cortado pela metade naquele ano e outra metade em 1938. Não foi surpresa que o desemprego tenha subido e o PIB caído. Contudo, essa performance negativa teve seu saldo positivo: a parte progressista da equipe de Roosevelt ganhou moral e pôde meter o pé no acelerador orçamentário nos anos seguintes para a vitória definitiva do New Deal no momento crucial da preparação da guerra.

Mas vamos à questão mais estrutural do New Deal, que vai muito além da questão do emprego, embora fosse esse o programa prioritário junto com o aumento dos salários e regulação da jornada de trabalho para ativar a demanda. A principal agência encarregada das obras financiadas pelo Governo realizou um conjunto espantoso de empreendimentos geradores de emprego como rodovias, pontes, escolas, tribunais, hospitais, calçadas, obras hidráulicas e agências de correios, e também museus, piscinas, parques, centros comunitários, parques infantis, coliseus, mercados, feiras, campos de tênis, jardins zoológicos, jardins botânicos, auditórios, obras marítimas, prefeituras, academias de ginástica e organizações universitárias.

Só a principal agência construtora de infraestrutura, a citada Works Progress Administration, construiu 40 mil prédios novos e reformou 85 mil. Essas obras incluíram 5 900 novas escolas, novos auditórios, ginásios esportivos e prédios recreativos, 1 mil novas bibliotecas, 7 mil novos dormitórios e 900 arsenais. Além disso, os projetos de infra-estrutura incluíram 2 302 estádios, bancadas e arquibancadas; 52 recintos de feiras e arenas de rodeios, 1 686 parques cobrindo 75 152 hectares, 3 185 playgrounds, 3 025 campos esportivos; 805 piscinas, 1 817 quadras de handbol, 10 070 quadras de tênis, 1 101 ringues de patinação no gelo, 138 teatros ao ar livre, 254 campos de golfe e 65 rampas de esqui. Tudo que gerasse emprego e serviço público mereceu obra, inclusive no campo das artes e dos esportes. Uma outra agência cuidou de amparar com empregos até artistas de teatro e músicos de jazz. Não houve um município dos Estados Unidos que não tenha merecido uma obra do New Deal. Onde está o fracasso, se tudo está lá para ser usado ainda hoje?

É claro que não sei tudo isso de cor. Tirei da Wikipédia, de acesso fácil também para doutrinadores e doutrinados do Instituto Von Mises, do Instituto Liberal, da LBA e seu principal inspirador e financiador, a Fundação mundial Atlas. Todos fazem parte de uma rede de lavagem cerebral em atuação em várias partes do mundo, notadamente no Brasil, que em geral acompanham o ciclo econômico: toda vez que o grande capital financeiro ameaça afundar o mundo em crise, como em 29, em 2008 e agora, liberais e neoliberais se levantam para culpar o Estado do desastre, santificar o setor privado e desqualificar as iniciativas de intervenção estatal que, por uma dessas ironias da história, é o que salva os especuladores com a socialização das perdas. Note-se: o pequeno New Deal do Obama custou 7,5 trilhões de dólares e, que eu saiba, não deixou legado sequer de uma ponte! De qualquer modo, criou empregos.

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José Carlos Assis

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Zé Maconha

19/02/2019 - 10h25

O Liberalismo é uma doutrina tão mentirosa que nem seus defensores acreditam nela , pedem socorro ao Estado a cada crise.
Só um débil mental para acreditar que cada homem sendo egoísta e buscando apenas o lucro individual gerará o bem comum e beneficiará a sociedade.
Esse pensamento vai levar a extinção da humanidade com o aquecimento global.
Como diz o personagem do filme Interestelar:
Sete bilhões de pessoas , cada uma querendo tudo pra si , no que isso poderia dar?
Em duzentos anos a Amazônia será um deserto , não vai mais chover , os rios morrerão e nossos descendentes nos amaldiçoarão por nossa ganância e irresponsabilidade.
O homo-sapiens caçava em bandos e vivia em comunidades , o liberalismo vai contra nossa própria natureza , jamais chegaríamos aonde estamos sem a cooperaçáo.

Paulo

18/02/2019 - 21h50

Há argumentos pra todos os gostos, em economia. Eu pouco entendo da matéria, mas, pela experiência acumulada, digo que ambos os extremos – comunismo e liberalismo – terão seus pontos de vista e narrativas históricas de justificação. Mas, sendo a economia indissociável da política – que é quem a propõe e sustenta, ao contrário do que pensam nossos valorosos economistas, especialmente neo-liberais -, eu digo que a liberdade precede a economia, e, nesse ponto, a democracia liberal é o único caminho conhecido de progresso das nações conjugado com esperança, justiça social (ainda que mitigada e sob ressalvas) e paz.

    Zé Maconha

    19/02/2019 - 10h09

    Liberdade?
    Liberdade para acordar cedo , pegar um ônibus lotado e trabalhar feito um burro pra servir outro homem?
    Tenho uma novidade pra você:
    Você é um escravo Neo.

      Alencar

      19/02/2019 - 10h37

      Zé maconha, a comidinha que vem no teu prato todo dia vem daonde se vc nao acorda todo dia cedo para trabalhar?
      Se vc nao produz nada, vc é pior que um escravo, vc é o escravizador parasita que se aproveita do trabalho dos outros.
      Trabalhar dignifica o homem.
      Nao reclame depois que todos seus amigos enriquecem e vc continua nos rolinhos.

        Zé Maconha

        19/02/2019 - 11h12

        A verdade dói né Alencar.
        Trabalhei dez meses em toda minha vida , o pai da minha esposa morreu e nos deixou uma boa herança , tinha 22 anos na época , parei de trabalhar e vivo de renda desde então.
        Nimguém fica rico trabalhando , tenho 700 e poucos mil em LTNs que me rendem 48 mil a cada seis meses , em 2025 elas se encerram e o governo me comprará de volta por um milhão.
        Fora imóveis que ainda não vendemos.
        Quanto você ganha trabalhando?
        O trabalho não dignifica nimguém , você é apenas um trouxa , é assim que os ricos querem que você pense.
        E sim , sou um parasita que vive sem trabalhar e tenho muito mais que você.
        Isso se chama Capitalismo!!
        Minha esposa nunca trabalhou e meu sogro era rico porque herdou um loja e uma fábrica do pai dele.

          Alencar

          19/02/2019 - 12h11

          Entao vc é o que mais se beneficia do liberalismo aqui. Se vc odeia tanto o trabalho, saiba que em em um “socialismo”, vc teria que ser obrigado a entregar seus rendimentos ao governo e ser um “trouxa” como todos os outros trabalhando sem esperanca para o governo. Entao pense bem no que deseja, pois pode se realizar. Lembre-se que o salario médio é de 2600 reais no pais, todos que ganham mais sao os exploradores, quem ganha menos sao os explorados. Na igualdade absoluta é o que vc ganharia.

FINANCEIRIZAÇÃO

18/02/2019 - 20h16

Neste trecho do episódio “The Curse Finance” de Renegade Inc, Nicholas Shaxson explica como, através da financeirização, a riqueza é extraída das partes mais pobres da sociedade e transferida para os mais ricos.

https://www.youtube.com/watch?v=TDW1K0rG-zw


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