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André Figueiredo: O fechamento da Ford no Brasil reforça urgência de um projeto nacional de desenvolvimento

Por André Figueiredo, deputado federal (PDT-CE) No início de novembro de 2019, o presidente Bolsonaro, que não gosta de trabalhar, gastava seu tempo postando mentiras no twitter.  Daquela vez, a mentira era de que três grandes empresas, incluindo duas gigantes do setor automotivo, teriam anunciado o “fechamento de suas fábricas na Argentina e instalação no […]

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Por André Figueiredo, deputado federal (PDT-CE)

No início de novembro de 2019, o presidente Bolsonaro, que não gosta de trabalhar, gastava seu tempo postando mentiras no twitter. 

Daquela vez, a mentira era de que três grandes empresas, incluindo duas gigantes do setor automotivo, teriam anunciado o “fechamento de suas fábricas na Argentina e instalação no Brasil”.

Fonte: Reprodução / Twitter

A mentira foi desmascarada em poucos minutos, pelas próprias empresas. Executivos tiveram que interromper suas atividades para escrever e distribuir comunicados para a imprensa, desmentindo o presidente da república do Brasil. 

O presidente teve que apagar sua postagem e o porta-voz do governo pediu desculpas pela publicação da mentira. 

Horas depois, contudo, Arthur Weintraub, um dos assessores mais próximos do presidente, além de irmão do então ministro da Educação, repetia a mentira do presidente, apenas tomando o cuidado de não mencionar o nome de empresa alguma.

Ele dizia que havia “empresas grandes fechando fábricas na Argentina e se transferindo pro Brasil”. Não dizia quais empresas, nem apresentava nenhuma fonte. Era mais uma mentira. A postagem continua no ar até hoje. 

Fonte: Reprodução / Twitter

Um pouco mais de um ano depois, a realidade se impõe. A Ford, que inaugurou a primeira fábrica de automóveis em nosso país, em 1919, ou seja, há mais de cem anos, anunciou que estaria fechando suas fábricas no Brasil e transferindo sua produção para a… Argentina. 

A notícia caiu como uma bomba, porque o país vive um dos momentos econômicos mais dramáticos de sua história, e em especial em relação a seu mercado de trabalho. Segundo o IBGE, o ano de 2020 encerrou com 14,1 milhões de brasileiros desempregados, mais de 14% da força de trabalho. 

É claro que devemos atribuir uma parte desse desemprego à pandemia, que afetou o mercado de trabalho em todo o mundo. Mas o fato é que o mercado de trabalho, mesmo antes da pandemia, já estava ruim. O ano de 2019 havia terminado com quase 12 milhões de desempregados.

Entretanto, o fechamento das fábricas da Ford no Brasil reabriu uma discussão que ainda provoca muita polêmica, que é o problema da desindustrialização. 

Que o Brasil não apenas precisa reverter o processo de desindustrialização que vem sofrendo nos últimos anos, mas também se reindustrializar, até mesmo o ultra-super liberal ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, admite, pois ele tem usado a expressão.

Só que falar é fácil, e, na prática, o governo Bolsonaro não tem feito nada para reverter o movimento de primarização da economia brasileira. Ao contrário, esses dois primeiros anos da nova administração viram esse movimento de desindustrialização se acentuar e se consolidar ainda mais.

Se não é possível, porém, culpar apenas Bolsonaro pelo fechamento da Ford, também não se deve eximi-lo de culpa, exatamente porque o governo, até o momento, não apresentou nenhum tipo de estratégia consistente de reindustrialização do país. Não há investimento em inovação, não há definição de setores estratégicos, não há, sobretudo, um projeto nacional de desenvolvimento.

Os governos progressistas dos últimos anos também tem sua parcela de culpa. A tese do economista Felipe Augusto Machado, de 2019 (1), e outras fontes, mostram que houve um esforço, por parte do governo federal, de dar início a um novo ciclo de industrialização. 

Havia boas ideias, e criou-se um arcabouço institucional razoável, sobretudo com a entrada do BNDES. Mas, na hora de se pôr em prática, vimos poucos recursos serem destinados, efetivamente, para setores e produtos de maior complexidade econômica. Houve um processo de captura corporativa de todas essas políticas, e, ao final, os resultados foram pífios.

Além disso, houve uma divisão fatal entre setores do governo realmente preocupados com os esforços de reindustrialização, e a política macroeconômica definida pelo ministério da Fazenda e pelo presidente da república, que se manteve ortodoxa e conservadora durante quase todo o tempo, e esta última acabou por neutralizar todo avanço eventual das políticas industriais. 

Em resumo, erros foram cometidos, mas erros servem para nos ensinar como fazer melhor. O Brasil precisa de políticas industriais bem feitas, em todos os sentidos: os projetos precisam ser mais bem estruturados; é preciso se precaver melhor contra a captura de interesses corporativos por parte de setores produtivos tradicionais; por fim, é necessário uma governança muito sofisticada, com metas, prêmios, punições, prazos, transparência, além de, naturalmente, um combate permanente à corrupção e ao fisiologismo. 

Sei que sou suspeito para falar, mas o nosso candidato, Ciro Gomes, representante do PDT, tem um projeto assim. Em 2018, nós o apresentamos ao Brasil. Infelizmente aquela eleição foi prejudicada por uma polarização excessiva, baseada em ódios mútuos, e a discussão de projetos ficou em segundo plano.

Esperamos que em 2022 a população esteja vacinada contra esse tipo de paixão, e nos ajude a construir um debate fundamentado em projetos e ideias.

Se isso acontecer, temos a certeza de que poderemos convencer o Brasil da necessidade de elegermos não um novo salvador da pátria, e sim o representante de um Projeto Nacional de Desenvolvimento, do qual um dos pilares será um esforço coordenado, inteligente, moderno, de reindustrialização do país!

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