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À medida que tarifas de Trump abalam mercados globais, nova ordem comercial pode driblar o dólar americano

Não bastasse o caráter punitivo e caótico das tarifas impostas por Donald Trump, que transformaram as relações comerciais em terreno minado, líderes globais agora consideram alternativas à hegemonia do dólar como moeda de reserva. A medida surge em meio a temores de uma guerra comercial generalizada e ao colapso da globalização baseada em regras. Em […]

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Ilustração das tarifas americanas atingindo a economia mundial e o livre comércio
'Culpar a China' pode desviar os danos das tarifas de aço e alumínio dos EUA para os aliados? / Ilustração: Liu Rui/GT

Não bastasse o caráter punitivo e caótico das tarifas impostas por Donald Trump, que transformaram as relações comerciais em terreno minado, líderes globais agora consideram alternativas à hegemonia do dólar como moeda de reserva. A medida surge em meio a temores de uma guerra comercial generalizada e ao colapso da globalização baseada em regras.

Em um vídeo raro publicado nas redes sociais na última sexta-feira, o primeiro-ministro de Singapura, Lawrence Wong, alertou que o mundo entrou em uma era “mais arbitrária, protecionista e perigosa”, impulsionada pela mudança sísmica provocada pelas tarifas de Trump.

A fala veio dois dias após o anúncio de tarifas amplas sobre todos os parceiros comerciais dos EUA, variando entre 10% e 50%. A medida causou pânico nos mercados, com uma venda generalizada de ações e receios de uma guerra comercial total.

Wong afirmou que a era da globalização com regras claras acabou, e que países pequenos, como Singapura, podem ser duramente atingidos se outras nações também abandonarem a Organização Mundial do Comércio (OMC) e passarem a negociar com base em interesses próprios, país por país.

No sábado, a China publicou um posicionamento oficial declarando que retaliaria com tarifas de 34% sobre importações americanas e novas restrições à exportação de terras raras para os EUA, em um recado claro de que não pretende recuar.

Pequim também conclamou outros países a “se oporem conjuntamente a todas as formas de unilateralismo e protecionismo” e a “protegerem o sistema internacional com a ONU como núcleo”.

O documento reforça a tentativa da China de se posicionar como defensora do sistema de livre comércio e como resistência frente à coerção econômica de Trump.

Segundo Wong, a mudança já é irreversível. Ainda que a OMC permaneça formalmente ativa, é possível que mais países passem a impor tarifas arbitrárias uns aos outros.

Nesse cenário, o comércio global pode mergulhar em um caos ainda maior.

O apelo da China para aprofundar a cooperação e abrir mercados não encontra eco em muitos países, especialmente na Europa, onde a desconfiança em relação ao superávit comercial chinês impede a remoção de tarifas e restrições já aplicadas a Pequim.

Cada país precisará encontrar sua própria forma de lidar com as tarifas de Trump. Europa e Canadá prometeram retaliar, enquanto muitos países médios e pequenos devem buscar acordos bilaterais com os EUA.

A Austrália, por sua vez, sinalizou que não retaliaria, temendo agravar ainda mais o conflito comercial global.

As tarifas definitivas ainda não foram fixadas, já que Trump deixou claro que quer negociar. Alguns investidores buscam alternativas produtivas em países com tarifas menores, mas mesmo bases de exportação como Vietnã e Camboja foram atingidas com tarifas de 46% e 49%, respectivamente.

Analistas questionam quanto tempo essas tarifas poderão ser mantidas, caso a economia americana não resista ao choque antes que o prometido renascimento industrial se concretize.

Seja como for, o mundo não será mais o mesmo após o chamado “Dia da Libertação” proclamado por Trump. Governos de todo o planeta agora enfrentam consequências indesejadas — inclusive uma possível fragilização do dólar.

Em teoria, tarifas deveriam fortalecer o dólar, já que países venderiam menos aos EUA e, com isso, reduziriam sua demanda por dólares. Mas, contrariando essa lógica, a moeda americana enfraqueceu desde o anúncio, diante do temor de recessão e do aumento do risco econômico nos EUA.

Apesar de alguma recuperação na segunda-feira, com investidores buscando moedas de refúgio, cresce a preocupação de que o status do dólar como moeda de reserva global esteja ameaçado se a economia americana não sustentar os impactos das políticas de Trump.

Esse cenário incentivou países a considerar moedas alternativas de reserva, como criptomoedas, metais preciosos e até a proposta de uma moeda comum dos Brics.

Trump já ameaçou impor tarifas de 100% para impedir o avanço de uma alternativa ao dólar. Mas, com muitos países dos Brics já enfrentando tarifas altas, a ameaça pode ter perdido força.

Pequim e Moscou, em especial, manifestam há tempos frustração com a dominância do dólar, que permite aos EUA impor sanções pesadas. Diante das novas realidades do mercado, alternativas ao dólar podem ganhar apoio como nunca antes.

Por Josephine Ma
Josephine Ma é editora de notícias da China no South China Morning Post e cobre o país há mais de 20 anos. Foi correspondente em Pequim, cobrindo eventos como o surto de Sars em 2003, os protestos em Lhasa e os Jogos Olímpicos de 2008. Está baseada em Hong Kong desde 2009. É mestre em estudos do desenvolvimento pela London School of Economics e bacharel em língua inglesa pela Universidade Chinesa de Hong Kong.
Publicado em 08/04/2025
Fonte: South China Morning Post (scmp.com)

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