Soumaya Ghannoushi, escritora e especialista em política do Oriente Médio, rompeu o silêncio com um dos mais fortes e emocionantes depoimentos já feitos sobre o momento crítico que o mundo atravessa. Ela afirma, sem rodeios, que Israel não esconde mais seus crimes — nem em Gaza, nem em lugar algum.
“Israel promove um genocídio aberto, destrói hospitais, escolas, mesquitas, lares. Mais de 60 mil pessoas desapareceram”, denuncia. Ela descreve a Faixa de Gaza como um cenário apocalíptico, onde um cerco total sufoca a população. “Pelas ruínas, as pessoas caminham quilômetros, exaustas, famintas, apenas para alcançar um caminhão de ajuda. E quando conseguem, são metralhadas.”
Segundo Soumaya, alguns retornam para casa levando sacos de farinha. Outros, voltam carregando os corpos ensanguentados de seus entes queridos, baleados ou destroçados por bombas enquanto tentavam desesperadamente por alguns grãos.
Mas ela alerta: Gaza é apenas uma das frentes. “No Líbano, Israel bombardeia casas, cruza fronteiras para assassinar, ocupa vilarejos dos quais nunca saiu. Na Síria, mantém os Montes Golã e avança, lançando mísseis até a periferia de Damasco. Fronteiras não significam nada. As leis, menos ainda. Israel se move como quer, mata quem quer.”
Agora, a escalada chegou ao Irã. “Após conversas indiretas entre Teerã e Washington em Amã, Israel iniciou uma guerra repentina e não provocada. Primeiro, vieram os assassinatos de generais, cientistas e civis. Depois, os bombardeios a bases militares, usinas, aeroportos e até infraestrutura pública.”
A justificativa? “O programa nuclear iraniano. Pacífico, civil, completamente monitorado pela Agência Internacional de Energia Atômica. A hipocrisia é avassaladora”, afirma Soumaya.
Ela lembra que Emmanuel Macron foi um dos primeiros a correr em defesa de Israel, chamando o Irã de “ameaça à segurança global”. “Isso vindo do mesmo país que ajudou secretamente a construir o reator nuclear de Dimona, nos anos 1950 e 60, que hoje abriga o único arsenal nuclear não declarado do Oriente Médio.”
Israel possui entre 80 e 90 ogivas nucleares — talvez mais. Tem capacidade de segundo ataque por meio de submarinos e força aérea. Recusa-se a assinar o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e não permite inspeções, mas bombardeia o Irã em nome da não proliferação.
“Reino Unido se apressou a enviar caças, aeronaves de vigilância, sistemas de alerta e suporte logístico para Israel. Os Estados Unidos aumentaram a escalada, deslocaram o porta-aviões USS Gerald R. Ford, destróieres, armamentos e satélites em tempo real. A União Europeia canta a mesma música: ‘Israel tem o direito de se defender’ — mesmo sendo o agressor, mesmo sendo o Irã quem defende sua soberania.”
“É o mesmo roteiro, a mesma mentira, as mesmas justificativas usadas para o massacre de dezenas de milhares em Gaza. Direito internacional, direitos humanos, indignação moral — tudo suspenso para Israel.”
Soumaya vai além: “O Ocidente arma Israel até os dentes, não pela sua segurança, mas para garantir sua supremacia, para mantê-lo como o único poder nuclear da região, livre para dominar, invadir e ocupar com total impunidade.”
Ela relembra que Israel nunca foi apenas um Estado. “Sempre foi um posto avançado do Ocidente, uma colônia de colonos fundada quando os impérios estavam em colapso. A Grã-Bretanha retirou seus soldados do Oriente Médio, mas não suas ambições. Os Estados Unidos assumiram o controle e o objetivo nunca mudou: controlar a terra, saquear o petróleo, silenciar os povos.”
Mas desta vez, ela alerta, o manual está falhando. “Israel hoje é governado por fanáticos, abertamente e com orgulho. Um Estado que antes disfarçava sua violência na diplomacia, agora a exibe sem vergonha.”
“Ministros ameaçam violações, colonos cantam por genocídio, soldados filmam a si mesmos rindo enquanto vestem roupas íntimas das mulheres que acabaram de matar ou expulsar em Jerusalém. Nos muros da Mesquita de Al-Aqsa, eles gritam: ‘Maomé está morto, deixou garotas para trás. Que suas aldeias queimem. Não há mais escolas em Gaza. Não há mais crianças’.”
O genocídio foi normalizado. “E Netanyahu, de forma grotesca, afirma representar o ‘mundo livre’, enquanto preside apartheid, ocupação e massacre.”
Por todo o mundo árabe, milhões assistem, indignados, traídos, amargurados, revoltados até a alma. “Seus líderes normalizaram relações com criminosos de guerra, mas seus povos percebem que a região estava paralisada — até agora. Porque desta vez, alguém se levantou.”
“Irã não é a Faixa de Gaza. Não são 45 quilômetros quadrados de prisão a céu aberto. Não é um grupo armado. É uma nação soberana, com 85 milhões de habitantes, 1,65 milhão de quilômetros quadrados, mísseis, montanhas e profundidade estratégica.”
“Irã suportou assassinatos, ciberataques, sanções — e ainda assim permanece de pé. E agora, reage. Pela primeira vez desde 1948, cidades israelenses estão em chamas. O mito da imunidade acabou. E não, Israel não pode mais se fazer de vítima. Não enquanto detém armas nucleares. Não enquanto bombardeia, invade e apaga nações.”
Dentro do Irã, algo mais profundo despertou: uma memória. “De 1953, quando o golpe contra Mohammad Mossadegh, planejado pela CIA e executado pelo MI6, derrubou um governo democraticamente eleito, apenas porque nacionalizou o petróleo. E de 1891, quando o povo iraniano se levantou contra o controle britânico do tabaco.”
“Essas feridas nunca cicatrizaram. Cada protesto, cada funeral, cada míssil lançado hoje carrega o peso de séculos de traição e resistência.”
E agora, diz ela, essa memória está viva, crua, pulsante. “Um vídeo viralizou: uma mulher iraniana, sem véu, nada parecida com uma simpatizante do governo, grita, com a voz embargada de raiva e dor, contra o genocídio em Gaza, contra o silêncio do Ocidente, contra décadas de humilhação. E no auge do desespero, ela clama: ‘Queremos a bomba!’.”
“Para os iranianos, isso não é apenas sobre armas. É sobre dignidade. É sobre dizer: não seremos quebrados outra vez.”
A crise não é apenas entre Israel e Irã. O efeito dominó já começou. “O Paquistão, única nação muçulmana com armas nucleares, alerta: a região está em ebulição. E pode ser o próximo. Israel é aliado da Índia, e Islamabad enxerga claramente o que vem aí. A Turquia soa o alarme. Ministros de Ancara declaram: ‘Netanyahu colocou nosso país na mira’. E não é exagero: há poucos dias, no Parlamento de Israel, Netanyahu disse: ‘Não haverá império otomano’. Isso não é uma lição de história. É uma ameaça.”
“Israel, embriagado de poder e respaldo ocidental, acredita que pode bombardear, faminto e humilhar o mundo muçulmano até a submissão. Mas a região está acordando.”
“Isso não é apenas uma guerra. É uma guerra contra a dignidade. Contra a simples ideia de que qualquer nação do Oriente Médio possa se levantar de cabeça erguida.”
Enquanto isso, a mídia ocidental vive num delírio. “A BBC entrevista o filho do xá do Irã, pergunta se as bombas israelenses poderiam ‘libertar o Irã’. Como se os iranianos quisessem ser salvos pelo filho de um ditador, por um regime que eles próprios derrubaram. Como se liberdade viesse de monarcas depostos e de mísseis ocidentais.”
Israel acreditou que poderia fazer o de sempre: assassinar, bombardear e ir embora. Mas agora, Tel Aviv está em chamas. Haifa está sob ataque. Ashkelon não é mais segura.
Pela primeira vez, a guerra chegou ao solo israelense. O mito da invencibilidade foi destruído.
“Irã pode suportar. É rápido. É resiliente. Está preparado para esse momento há décadas. O sonho de que Israel poderia destruir o regime iraniano com ataques cirúrgicos e sair ileso… esse sonho colapsou. Tel Aviv acendeu um fogo que não pode apagar.”
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