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Vídeos e notas da entrevista de Lula – parte 1/2

Como acho que a maioria dos leitores não possui tempo de assistir as três horas de entrevista de Lula aos blogueiros, resolvi editar o vídeo, dividindo-o em blocos, cortando partes que não considerava essenciais. Fiz ainda um resumo da entrevista, abaixo de cada bloco. Esta é a razão pela qual não pude fazer as duas […]

23 comentários
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Como acho que a maioria dos leitores não possui tempo de assistir as três horas de entrevista de Lula aos blogueiros, resolvi editar o vídeo, dividindo-o em blocos, cortando partes que não considerava essenciais.

Fiz ainda um resumo da entrevista, abaixo de cada bloco.

Esta é a razão pela qual não pude fazer as duas análises nem ontem, nem de hoje, o que prometo compensar no fim de semana.

Bloco 1 – Pergunta de Gisele Federicce Francisco, do Brasil 247.

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Entrevista Lula – Parte 1 – Blog 247 from migueldorosario on Vimeo.

A jornalista do 247 mencionou a denúncia de Roberto Podval, advogado do lobista Mauro Marcondes Machado, de que um delegado da polícia federal, Marlon Oliveira Cajado, o procurou na prisão, e o chantageou explicitamente, dizendo que, senão delatasse o ex-presidente Lula, sua esposa e sócia, a empresária Cristina Mautoni, seria encarcerada em regime fechado. Em seguida, a jornalista perguntou se o ex-presidente, diante de fatos como esse, não se sente perseguido.

Lula iniciou sua resposta tentando rechaçar a impressão de que tenta se vitimizar. E demonstrou que entende perfeitamente o processo político por trás de tudo que acontece em torno dele. O ex-presidente lembrou que, no início de sua carreira como dirigente sindical, ao final dos anos 70, era idolatrado pela mídia, porque era considerado um “sindicalista puro”, um “trabalhador puro”, que não pensava em política, que não pensava no poder. Os jornais dedicavam-lhe capas e faziam matérias positivas sobre a sua pessoa.

Eles tinham orgasmo, diz Lula, quando eu repetia que “não gostava de política e não gostava de quem gostava de política”.

Lula representava o sonho do trabalhador despolitizado, cujo único interesse, no âmbito sindical, seria fazer a intermediação entre patrões e empregados, evitando greves desnecessárias e ajudando, assim, a dar segurança aos negócios.

Alguns anos depois, porém, diz Lula, ele entendeu a importância da política. Fundou um partido. Fundou uma central sindical. E a lua de mel entre Lula e a grande imprensa terminou, para sempre.

A partir daí, Lula passou a ser visto como um adversário perigoso e a imprensa jamais voltou a lhe dar trégua.

Sobre as delações, o ex-presidente deixou claro que já entendeu o jogo: os procuradores e delegados têm feito todo o tipo de pressão para que os delatores apontem o dedo para Lula.

No delação premiada, o prêmio maior vai para quem dá informações, mesmo que ambíguas, mesmo que sem provas, que permitam à conspiração subsidiar a imprensa com manchetes criminais contra o ex-presidente.

Lula falou também de suas palestras. Lembrou que, durante um tempo, era o palestrante mais bem pago do mundo, ao lado de Bill Clinton. E por que isso? Por que era tão requisitado? Por que conseguira a proeza de tirar dezenas de milhões de brasileiros da condição de miséria. O mundo inteiro queria saber o segredo deste sucesso.

O ex-presidente deixa bem claro que um dos segredos para fazer o Brasil crescer foi justamente o seu desempenho como embaixador do país lá fora, ajudando as empresas brasileiras a exportarem mais para o mundo inteiro.

Lula observou que o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton esteve há pouco no Brasil, e o seu cachê, pago pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), foi superior a 1 milhão de dólares. A imprensa brasileira não acha errado que empresários brasileiros paguem cachê a um ex-presidente norte-americano, e ao mesmo tempo procuram criminalizar quando empresas patrocinam palestras do presidente brasileiro.

Bloco 2 – Pergunta de Joaquim Palhares, da Carta Maior.

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Entrevista Lula – Joaquim Palhares – Carta Maior from migueldorosario on Vimeo.

O editor da Carta Maior fez uma pergunta dura ao ex-presidente. Por que Dilma iniciou seu governo fazendo políticas que parecem exatamente o oposto do que prometeu em campanha?

O presidente admitiu que Dilma e o governo erraram. As reformas que foram anunciada no início do ano, como a que mexeu no seguro-desemprego, no seguro-defeso para pescadores, nas pensões, estavam sendo discutidas com as centrais sindicais e com a sociedade. De repente, Dilma e seus ministros – Mercadante à frente – rompem as conversações e anunciam intempestivamente uma série de medidas, causando um mal estar muito grande nas relações entre o governo e os movimentos sociais. Mais uma vez, Dilma, sob orientação de Mercadante, desprezou a política. O preço? Sua aprovação despencou.

Dilma não conseguiu o apoio de um só agente do mercado, e perdeu sua base, a qual se sentiu desrespeitada e traída.

O ex-presidente também admitiu que a vitória de Dilma apenas tinha sido possível porque o movimento social, blogueiros, “grupos de funk”, todos os “punks”, a juventude progressista em geral, entrou de cabeça na campanha.

Em 2015, outra vez, os mesmos atores evitaram o golpe, sobretudo após a profunda mudança na atmosfera política causada pela grande manifestação em São Paulo, no dia 16 de dezembro, que reuniu mais de 80 mil pessoas, superando a marcha coxinha feita dias antes.

Lula incitou ainda Dilma a vir a público para dizer à sociedade quais são os planos estratégicos com a mudança no ministério da Fazenda.

Lula acusou o Tribunal de Contas de atrasar as obras, porque engaveta às vezes por dois anos a autorização necessária para o início de obras essenciais de infra-estrutura.

Ele observou que a inflação permanece alta, mas acha exagero transformar 8% ou 10% ao ano numa tragédia, ainda mais quando ainda existe a memória dos índices de 80% ao mês.

Ele defendeu, porém, a reforma da previdência, porque a longevidade média dos brasileiros cresceu muito, e portanto é preciso ajustar as leis às mudanças. Mas que tudo deve ser discutido com os sindicatos, os aposentados, e a socieadade em geral.

Bloco 3 – Pergunta de Conceição Oliveira, do blog Maria Fro.

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Entrevista Lula – Conceição Oliveira, blog Maria Fro from migueldorosario on Vimeo.

Conceição Oliveira abordou o problema da comunicação e da disputa da narrativa, uma batalha que o governo, e a esquerda em geral, tem perdido sistematicamente nos últimos anos. Ela lembrou o caso de um chargista, do Zero Hora, que fez um desenho sobre denúncia da Lava Jato contra FHC, e, ao invés de desenhar FHC, cometeu o curioso engano de desenhar Lula.

Lula menciona as calúnias envolvendo o nome de seu filho, citando o caso de Wanderlei Silva, estrela da luta livre, que publicou foto de um jovem numa iate, dizendo que era o filho de Lula.

O ex-presidente diz que, a partir de agora, irá processar todas as calúnias ou injúrias que seus advogados entenderem que são passíveis de se tornarem processos.

Mas o ex-presidente, sem querer, revela porque ele, os dirigentes do PT e a própria presidenta Dilma, nunca ousaram em matéria de comunicação, nem jamais defenderam leis para democratizar a comunicação social.

Em outros tempos, diz Lula, ele podia ligar para o “dono” do jornal.

“Eu lembro que ligava para Roberto Marinho e mudava matéria”, falou.

É uma observação que revela um lado provinciano de Lula, um cacoete assimilado da cultura do coronelato, da qual nem Lula escapou desde que se tornou uma celebridade política, antes mesmo de ser eleito.

Ao invés de criarem estratégias criativas, originais, de comunicação, os caciques políticos do PT (incluindo Dilma) desenvolveram hábito de “ligar para dono” e pedir direito de resposta.

Os barões da mídia jogaram com esse provincianismo do PT, através de estratégias de morde e assopra, massagem de ego, evitando rupturas no último momento com algum elogio extemporâneo.

Lula faz uma observação correta sobre comunicação: Dilma tem de criar um fato político toda semana, senão a imprensa conservadora vai fazer a Lava Jato hegemonizar o noticiário.

Bloco 4 – Pergunta de Renato Rovai, da revista Forum.

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Entrevista Lula, com Renato Rovai, da Forum from migueldorosario on Vimeo.

Rovai falou da questão econômica. Ele lembrou que, independente do discurso profundamente negativo da mídia, a situação econômica está bem pior do que nos anos anteriores. O PIB está caindo, a inflação está alta e o desemprego tem crescido. Em seguida, ele pergunta se ele concorda com a Lei Anti-Terrorismo, que os movimentos sociais entendem (com razão) que podem servir para governos – sobretudo estaduais – para criminalizar manifestações.

Lula respondeu que Dilma deve ampliar o crédito, para infra-estrutura e consumo. Ele vê o consumo interno como a única saída da crise. “Temos 14 milhões de micro empresas e empreendedores individuais, que ainda não tem crédito”. Fornecedores de grandes empresas deveriam receber crédito.

Disse que o crédito consignado deveria ser estendido ao trabalhador privado.

Lula observou que a dívida pública dos EUA, que era de 64% em 2007, e foi para 105% atualmente. “Obama endividou um pouco mais o país, para fazer a economia virar”.

Lula defendeu aumento no endividamento, “se for para aumentar os ativos do país”, porque isso dá retorno, faz crescer a arrecadação e o orçamento. Ele observa que a dívida cresce se o PIB cair, e portanto, o crescimento econômico é essencial para fazer a dívida declinar.

Lula observou que não podemos tratar com desdém os produtos supostamente básicos exportados pelo país, porque são produtos essenciais, alimentos, e o mundo pode prescindir de tudo, menos de alimentos.

Ele também criticou o fato de Dilma ter dado aumento de 11% ao salário mínimo, elevou as aposentadorias, aumentou o piso nacional dos professores, mas não fez a devida comunicação desses fatos.

Lula disse que Dilma tem de fazer as coisas de maneira mais combinada com os setores sociais que lhe apoiam.

Ele respondeu que é contra a lei anti-terrorismo. “O Brasil não tem tradição de terrorismo e não podemos importar um problema que não é nosso, é da França, é americano, é do oriente médio”.

Bloco 5 – Pergunta de Miguel do Rosário, do blog O Cafezinho.

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Entrevista com Lula – Miguel do Rosário from migueldorosario on Vimeo.

A minha pergunta pegou o gancho da economia. Falei na questão de infra-estrutura, com ênfase no problema da mobilidade urbana.

Mencionei o problema do declínio da indústria, mas esqueci de deixar claro uma coisa (porque isso me pareceu implícito): como esse problema poderia ser combatido através do investimento na indústria ferroviária, entendendo aí não apenas trens, mas vls e metrôs.

Observei que as grandes manifestações de 2013 focaram muito no tema da mobilidade urbana, e que a nova onda de protestos em São Paulo, nas últimas semanas, tratam do mesmo assunto.

Lembrei que a China ofereceu mais de 60 bilhões de dólares para o Brasil investir em infra-estrutura, em especial para a construção de uma ferrovia bioceânica. Tudo isso poderia ser usado para geração de grande quantidade de empregos, além de criar um novo pólo industrial no país.

O que eu também queria falar, mas achei que tornaria minha pergunta muito extensa, era um problema que logo ficou claro na resposta vaga que Lula deu à questão: a estrutura sindical brasileira formou-se no âmbito da indústria automobilística, que sempre foi, no Brasil, a principal inimiga de projetos de mobilidade urbana ancorados em trilhos. E Lula é filho desse ambiente.

Todas as nações desenvolvidas tem malhas ferroviárias complexas, servindo tanto ao transporte de cargas quanto para o deslocamento humano. Por que não investimos mais nisso?

O PT, nascido do sindicalismo de carro, nunca pensou na importância, para o próprio sindicalismo, de criar toda uma nova cadeia industrial, voltada para o fornecimento de peças para a indústria ferroviária.

Lula, todavia, deu uma ideia boa.

Ele observou que o custo de exploração de um barril de petróleo, no pré-sal, baixou para 8 dólares, fazendo com que a Petrobrás consiga se manter competitiva mesmo no atual ambiente de preços baixos.

Já o petróleo de xisto, explorado pelos EUA, tem custo de 45 dólares por barril, e está sendo a primeira vítima da atual crise de preços.

A ideia boa de Lula, e à qual ele voltou mais de uma vez na entrevista, é que o Brasil fizesse um acordo estratégico com a China, para que o gigante investisse em infra-estrutura no Brasil, em troca de um contrato de longo prazo para fornecimento de petróleo.

Amanhã eu publico os seis blocos que faltam da entrevista: Eduardo Guimarães (blog Cidadania), Altamiro Borges (Blog do Miro), Breno Altman (Opera Mundi), Laura Capriglione (Jornalistas Livres), Kiko Nogueira (DCM) e Conceição Lemes (Viomundo).

As fotos são de Heinrich Aikawa, fotógrafo do Instituto Lula.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Moacir Coelho da Gama

23/01/2016 - 00h34

Ele e muito e bandido.

Angelo Filomena

23/01/2016 - 00h19

Digam o que digam o cara é muito inteligente

    Moacir Coelho da Gama

    23/01/2016 - 00h39

    Inteligente e ser corrupto?

Iara Pinheiro

23/01/2016 - 00h16

Jussara Fernandes

Marcos Graneiro

22/01/2016 - 22h20

Olha o santo

Gf Andrezão

22/01/2016 - 22h04

Lula-lá 2018…doa a quem doer…

Darcino Souza

22/01/2016 - 06h19

lula 2018

    Moacir Coelho da Gama

    23/01/2016 - 00h41

    Até lá ele estará preso.

Gabriel

22/01/2016 - 01h44

Ele está vindo aí, reaças… é Lula 2018.

Marilac Castor Castor Aragão

22/01/2016 - 01h41

Valeu Miguel…

Carlos Hums

21/01/2016 - 23h14

Pena que a Dilma não deve ter visto 1 segundo sequer da entrevista.

Gustavo

21/01/2016 - 22h19

Esse formato de entrevista, sinceramente eu não gosto, prefiro um número menor de entrevistadores (2 ou 3), com um mediador, pois do jeito que foi feito, os temas foram abordados superficialmente e sem chance do entrevistador retrucar e aprofundar as questões, além disso soma-se a isso o fato que Lula na maioria das vezes discursa o que a plateia quer ouvir, o que talvez reforce a sensação de muitos que a entrevista foi do tipo “levanta a bola e corta”.

Iran Guerreiro

22/01/2016 - 00h02

http://youtu.be/M5bOtqmvJHE

Luiz Henrique

22/01/2016 - 00h02

É LULA EM 2018 PRESIDENTE.

Simone Dos Santos

21/01/2016 - 23h47

Lula ?

Marco Silva

21/01/2016 - 22h37

Em janeiro de 2019, a Presidenta Dilma estará devolvendo a faixa presidencial ao Presidente Lula. Inicio de um novo ciclo do PT e fieis aliados para mais 5 mandatos na presidência da república, até o final dos anos 30. Sensacional.

    Moacir Coelho da Gama

    23/01/2016 - 00h37

    Esse março e muito sem noção, ou e bolsista.

    Moacir Coelho da Gama

    23/01/2016 - 00h43

    Se está tragédia acontecer, que e muito difícil, será um novo ciclo de corrupção. Mas 2018 será o fim do PT.

Cláudio Vieira Vieira

21/01/2016 - 21h46

#Lula2018

J Stélio Carvalho

21/01/2016 - 21h38

Cristiano Penha

21/01/2016 - 21h06

ENTENDERAM?

1- Quando FHC pegou US$ 42 bilhões do FMI em 1998 pra salvar o dinheiro dos especuladores que queriam mandar seus dólares pra fora antes da desvalorização cambial que viria e que anularia os ganhos com juros de 45%, o país não tinha quebrado. Era um ajuste necessário. Agora o país tem US$ 370 bilhões em reservas que pagam mais da metade da dívida pública, sem FMI por aqui, sem crise cambial, sem fuga de dólares, mas o país tá quebrado. Entenderam?

2 – Petrobras e Vale do Rio Doce valem 10% do que valiam em 2008, o ponto máximo de valorização. No caso da Petrobras, empresa pública, a culpa é do PT, não da queda recorde do petróleo. No caso da Vale, empresa privada, privatizada pelo PSDB, a culpa é da crise mundial, da queda do crescimento da China, da queda das commodities. Entenderam?

3 – O governo FHC sofreu várias crises internacionais, nenhuma com impacto tão forte como a crise atual, mas isso explica os problemas econômicos da época, tão ou mais graves que os de hoje. O governo do PT enfrentou a pior crise do capitalismo desde 1929, que derrubou o crescimento mundial, o preço das principais commodities exportadas pelo Brasil, a confiança dos empresários e consumidores e a arrecadação, mas nada disso explica os problemas de hoje. Entenderam?

4 – O Brasil sempre foi um país corrupto, tanto que sempre fomos um dos países mais desiguais e cheios de problemas sociais do planeta. Nunca se via empresários e políticos indo pra cadeia, por que nada era divulgado, investigado ou punido. Esse é considerado um governo honesto. Hoje a corrupção é divulgada, investigada e punida por que o governo atual deu autonomia aos órgãos de investigação como nunca antes na história. Esse é tido como o mais corrupto da história. Entenderam?

    Paulo Perez

    21/01/2016 - 21h22

    Nossa , como vc é um burro alienado

    Sandra Oliveira

    22/01/2016 - 06h58

    Fico feliz ao ler um comentário tão lúcido, parabéns Cristiano Penha!


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