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O que dizem as pesquisas: A lua de mel de Javier Milei está durando muito pouco

A preocupação com o ajuste e a intenção de ignorar o Congresso afetam sua imagem. A grande questão é se o conflito social tenderá a se agravar rapidamente ou em um ritmo mais lento. Por Raúl Kollmann 31 de dezembro de 2023 – 13:15 Pagina 12 — Os pesquisadores e consultores de campanhas eleitorais estão […]

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A preocupação com o ajuste e a intenção de ignorar o Congresso afetam sua imagem. A grande questão é se o conflito social tenderá a se agravar rapidamente ou em um ritmo mais lento.

Por Raúl Kollmann
31 de dezembro de 2023 – 13:15

Pagina 12 — Os pesquisadores e consultores de campanhas eleitorais estão divididos. A maioria acha que Javier Milei já sofre um declínio, mas que ainda tem uma margem de manobra de alguns meses. O DNU e a Lei Ômnibus não têm apoio contundente e há pontos amplamente rejeitados: a paralisação da obra pública, o corte nas aposentadorias, algumas das privatizações. Mas a crítica é mais abrangente: à intenção de passar por cima do Congresso. Mesmo assim, uma porcentagem significativa da população diz que espera melhorias nos próximos seis meses. Outros consultores afirmam que o declínio é o maior de qualquer presidente desde a restauração da democracia e que Milei já tem uma minoria da sociedade a favor e índices de rejeição em aumento diário. O saldo é uma incógnita: se o conflito social, já marcado pelos panelaços e a greve da CGT, tenderá a se agravar rapidamente ou em um ritmo mais lento.

Página/12 conversou com dez dos consultores mais conhecidos e estas foram as suas respostas.

Pode não terminar bem
Hugo Haime, da Haime y Asociados, faz a comparação. “Ao iniciar seu período de governo, Cristina Kirchner, Mauricio Macri, Alberto Fernández registravam níveis de aprovação superiores aos votos que obtiveram. Sempre há um setor que se soma. Não é isso o que acontece com Milei. Ele tem 52 por cento de aprovação e conseguiu 56 por cento no segundo turno. E entre aqueles que o elegeram há sinais de alerta: quatro em cada dez dizem que esperarão 6 meses para ver se sua situação econômica melhora. Ou seja, esperam a queda da inflação. Quanto às suas medidas, tudo é discutível, causa desconforto. Talvez José Luis Espert tenha colocado as coisas em preto e branco quando disse ‘não posso garantir que isso termine bem’, referindo-se à possibilidade de, com a inflação disparada, ter que iniciar um novo ciclo desvalorizando o peso. Isso seria fatal”.

O ajuste, a casta e os dilemas
“O apoio do Governo Nacional até hoje tem valores semelhantes ao voto que Milei obteve no segundo turno: 55 por cento – aponta Federico Aurelio da ARESCO -. É comum que o início de uma nova gestão renove expectativas favoráveis na sociedade. Muitas das decisões de governo são avaliadas hoje mais pela confiança que Milei gera do que pelo conhecimento e convicção. Dilema temporal: Os argentinos consideram que os tempos difíceis podem durar mais de um ano, mas a maioria acredita que as pessoas podem aguentar menos de um ano. Dilema de alcance: Os argentinos concordam com decisões de ajuste que não afetem seus próprios bolsos. Diante da presunção de que uma medida pode afetá-los, modificam sua opinião sobre ela. Uma porcentagem significativa de argentinos acreditava que os ajustes na casta permitiriam melhorar a situação. Hoje, observam que várias das decisões de ajuste afetam a todos”.

Queda até entre seus eleitores
Roberto Bacman, do CEOP, adverte: “estamos há 21 dias carregados de mudanças para um modelo que muitos argentinos não votaram. Já há 10 dias naquela pesquisa que publicamos no Página/12, começava a ser visto o início do declínio da imagem de Javier Milei. Houve uma maioria contra o DNU, por exemplo. Mudou a equação com que Milei assumiu: tinha uma imagem positiva de 61 por cento e caiu 7 pontos para 54 por cento. Mesmo entre seus próprios eleitores. O que se vê nesses últimos dias é que a polarização está se aprofundando. O núcleo duro do macrismo, 30 por cento que permitiu a vitória de Milei, ainda aceita o que acontece. Em contrapartida, do outro lado, e também por razões heterogêneas, há rejeição. Alguns por questões ideológicas, a destruição do Estado e, principalmente, os aumentos ferozes. Então, esse ajuste brutal, que atinge muito até a classe média, será visto em toda a sua intensidade agora, a partir de janeiro, com a remoção de subsídios ao transporte e à energia. Veremos aí quanto é o declínio de Milei”.

A lua de mel, fora!
Gustavo Córdoba, da Zubán-Córdoba, é quem vê maior deterioração em Milei. “Nenhum governo tem garantia de apoio incondicional. As maiorias são algo que deve ser fortalecido. Acreditar que o consenso alcançado em uma votação é permanente, é o primeiro passo para cometer erros. Milei perdeu um ponto de imagem positiva por dia e hoje já há uma maioria que opina mal dele. O DNU e a lei ônibus têm níveis importantes de rejeição e há uma maioria que votaria contra em um plebiscito. A maioria pensa que o DNU é inconstitucional e que a lei ônibus deve ser rejeitada no Congresso. O abuso de poder é malvisto pela opinião pública da Argentina. Essa é uma lição que todos os governos aprendem cedo ou tarde”.

Modo mais positivo que negativo
“Diante de um novo governo – diagnostica Analía De Franco, da Del Franco Consultores -, a opinião pública tende a estar mais positiva que negativa. O presidente mantém uma imagem pessoal parecida com seu nível de voto. E parece que se manterá nessa linha. Começou com medidas impopulares e que não tenha descido deve ser visto como algo a seu favor. Portanto, há uma margem de expectativa e de ‘escolho acreditar’. Há propensão a dar-lhe tempo. O que mais gera rejeição é o freio à obra pública. Diria que a sociedade está dividida assim: 35 por cento de núcleo duro de apoio a Milei. 40 por cento de núcleo duro de oposição. 25 por cento dos que flutuam em apoios e críticas”.

Catástrofe social induzida
“A resposta da opinião pública frente ao DNU e à lei Ômnibus é paradoxal – afirma Artemio López, da Equis – Os níveis de aceitação de ambas as medidas ainda replicam as preferências eleitorais do segundo turno, então uma maioria as aceita como necessárias. Outra muito diferente é a opinião cidadã quando se indaga sobre os efeitos dessas alternativas. O agravamento da situação social será impactante. Tudo indica que a gestão do atual governo neoliberal começa já com 49 por cento de pobreza e 15 por cento de indigência. A perspectiva para 2024 é de uma evolução ascendente da pobreza e indigência e queda notável no poder aquisitivo de aposentadorias, pensões, planos de emprego e salários. Chegaremos sem dificuldade aos 54 por cento de pobreza e algo menos de 27 por cento de indigência que produziu aquela grande crise de 2001. Uma catástrofe social induzida”.

A sociedade aguentará?
“Eu acho que estamos em um ponto de interrogação, de grande dúvida – percebe Alfredo Serrano Mancilla, da CELAG -. Os quatro anos muito duros de Macri e quatro anos também duros do governo de Alberto Fernández, por muitas razões, também por falhas próprias, além de condições externas complicadas como a pandemia e outras, fizeram com que a cidadania tenha um alto grau de treinamento para ser resiliente. O objetivo é que, talvez, esses anos levaram os argentinos a serem dóceis e a continuar tolerando cenários cada vez mais adversos. A outra alternativa possível é que a sociedade não suporte a situação e, com o passar das semanas e dos dias, a sociedade civil comece a acelerar os protestos, acelerar o rejeição pública. E isso pode produzir um processo de rejeição definitiva e irrevogável ao que estão tentando Milei e sua aliança de grupos econômicos ultrapoderosos. Eu acredito que estamos em um momento onde não sabemos. O que parece certo é que hoje em dia as estruturas partidárias que restam no país não parecem ter a legitimidade, a força e a clareza para talvez ser o muro de contenção diante do que quer Milei”.

A grande Mike Tyson
Raúl Timerman, do Grupo de Opinião, afirma que “Milei tem uma imagem positiva menor que a porcentagem de votos que obteve no segundo turno. Está com 48, 49, de imagem positiva e obteve 56 por cento. Mas o mais transcendental é que Milei não tinha absolutamente nada preparado. E faz a grande Mike Tyson. Soa o sino e sai à frente com tudo para sufocar o rival. Manda um DNU inesperado. Manda uma lei ônibus inesperada. A questão é que sufocou a oposição. A desorientou, a levou contra as cordas, está golpeando forte. Isso gerou um desconcerto por um lado e uma crença na população de que não o estão deixando governar. O primeiro trimestre será de uma inflação altíssima. Bom, quem é responsável pela inflação? Para a maioria da sociedade, o governo anterior. Agora bem, se no segundo trimestre o índice inflacionário baixar, aí Milei tem uma base para seguir adiante. Se a inflação no segundo trimestre se mantiver ou se agravar, acho que aí aparecem os conflitos sérios para Milei”.

Choque de realidades
“A opinião pública em relação ao DNU e à lei Ômnibus está dividida por uma questão de voto – analisa Santiago Giorgetta, da Proyección -. Os que votaram em Milei continuam apoiando, sem saber muito bem em que consistem as medidas. Em contrapartida, os eleitores de outras forças são os que estão totalmente contra qualquer medida que Milei adote hoje. Mas o quadro da situação econômica complica o presidente. Hoje, no monitor que temos na Área Metropolitana, quase 80 por cento dos entrevistados entendem que sua situação econômica será ruim nos próximos seis meses. E aí há eleitores libertários e macristas e surge a complexidade que estamos vendo. Os eleitores da LLA nos dizem que estão mal, que consomem menos, que não têm o suficiente, que se endividam, mas pensam que vão estar melhor. Acho que esse choque de realidades em algum momento vai acontecer e vai custar muito ao presidente manter números melhores na opinião pública. Já hoje não são bons e se tornarão mais instáveis”.

Balanço social desfavorável
“As características do choque ou da tentativa de choque é que o cidadão comum não consegue perceber todas as alternativas que têm o DNU e o projeto de lei apresentado – afirma Marina Acosta, da Analogías – Há tanta informação nessas propostas que a cidadania não termina de compreender o que propõe o novo governo. Mesmo que na opinião pública haja muita confusão em relação às medidas que o governo quer tomar, o certo é que nos próximos meses as consequências dessas medidas impactarão de maneira plena nas condições de vida. O que se joga então é a velocidade com a qual a gestão perderá apoio social nos próximos meses. Um tema não menor é que a ação indiscriminada do governo que quebra as regras e se torna autoritário em termos de exercício do poder encontrará limites institucionais, políticos e jurídicos. A partir deste quadro de situação, acreditamos que durante os próximos sessenta dias se produzirá um balanço social desfavorável para o governo porque o que se propõe é um ajuste brutal e acelerado das condições de vida das pessoas”.

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