Horas após a confirmação de um acordo financeiro de grandes proporções entre os Estados Unidos e a Argentina, o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, afirmou que o presidente Javier Milei está “comprometido em tirar a China” do país. Em entrevista à Fox News, citada por O Globo, Bessent destacou que Milei busca romper com padrões históricos da economia argentina e reposicionar o país no cenário geopolítico regional.
De acordo com o secretário, a Argentina vive um momento decisivo. “Milei fez as coisas certas. Ele chegou para romper 100 anos de ciclos negativos na Argentina”, declarou Bessent, ao defender o pacote de assistência financeira firmado com Buenos Aires. O anúncio, que prevê um swap de US$ 20 bilhões com o Banco Central da Argentina (BCRA), ocorre em meio à aproximação das eleições legislativas, marcadas para 26 de outubro.
Acordo financeiro e estratégia dos EUA
O acordo prevê que os Estados Unidos atuem diretamente no mercado cambial argentino, por meio da compra de pesos, como forma de estabilizar a moeda e conter a inflação. A medida, segundo o Tesouro norte-americano, busca fortalecer as reservas internacionais argentinas e garantir um fluxo de liquidez no curto prazo.
O pacote financeiro é considerado essencial para o governo Milei, que enfrenta pressões políticas e econômicas internas. Com altos índices de inflação e restrições orçamentárias, a Argentina depende de medidas emergenciais para evitar novas desvalorizações cambiais.
O apoio dos EUA também tem um componente estratégico. Bessent destacou que a parceria reforça o papel de Buenos Aires como aliada em uma América Latina cada vez mais marcada pela expansão chinesa. “A Argentina é um farol para a América Latina”, afirmou.
Distanciamento da China e impacto geopolítico
Segundo Bessent, o presidente argentino está “comprometido em tirar a China do seu país”, em referência à política de realinhamento diplomático que vem sendo adotada por Milei desde sua posse. A fala indica uma tentativa de reduzir a dependência argentina em relação a investimentos e acordos comerciais com Pequim, que nas últimas décadas se tornaram fundamentais para o país sul-americano.
O movimento também reflete o esforço de Washington em conter a influência chinesa na região. A América Latina tem sido palco de uma crescente disputa geopolítica, com a China ampliando sua presença em setores como infraestrutura, energia e tecnologia.
Para os Estados Unidos, a aproximação com Milei representa uma oportunidade de reequilibrar essa balança. Bessent classificou o acordo como “benéfico para ambas as partes” e disse que o apoio econômico reforça o compromisso dos EUA com a estabilidade regional.
Críticas internas e resistência no Congresso americano
Apesar do anúncio, o apoio à Argentina enfrenta resistência em setores do Congresso dos Estados Unidos. A senadora Elizabeth Warren liderou uma tentativa de barrar a liberação do auxílio financeiro, argumentando que a medida poderia gerar riscos fiscais e enfraquecer a posição norte-americana frente a outras potências econômicas.
Bessent reagiu às críticas com ironia. “Ela é uma peronista americana. Você sabe, não chore por mim, Massachusetts”, declarou o secretário, em referência à canção Don’t Cry for Me, Argentina. A fala, segundo analistas, expôs o clima de disputa política em torno da decisão do governo americano de apoiar Milei.
Além da oposição parlamentar, há questionamentos sobre o impacto que a reaproximação entre Buenos Aires e Washington pode ter nas relações comerciais da Argentina com a China. O país asiático é atualmente um dos principais parceiros comerciais argentinos, especialmente nos setores de energia, agricultura e tecnologia.
Desafios e próximos passos
Mesmo com o acordo em vigor, o governo de Milei enfrenta desafios para consolidar sua política econômica. A estabilização do peso e o controle inflacionário dependem não apenas do apoio externo, mas também de medidas internas de ajuste fiscal e reformas estruturais.
Analistas apontam que o distanciamento em relação à China poderá gerar efeitos colaterais no curto prazo, especialmente no comércio exterior e nos investimentos em infraestrutura. Ainda assim, o governo argentino acredita que a cooperação com os Estados Unidos abrirá novas frentes de financiamento e acesso a mercados internacionais.
Após as eleições legislativas, Milei deverá enfrentar novas negociações com aliados e opositores para definir a continuidade do programa econômico. O resultado das urnas será determinante para medir o apoio político às reformas e à política externa de aproximação com Washington.
Perspectivas regionais
O acordo entre Argentina e Estados Unidos também repercute em outros países da América Latina, onde a influência chinesa tem crescido de forma constante. O movimento de Milei é visto como um teste para avaliar até que ponto a região está disposta a revisar seus laços comerciais e financeiros com Pequim.
Segundo observadores internacionais, a estratégia adotada por Buenos Aires pode inaugurar uma nova fase de disputas geopolíticas no continente. O papel dos EUA como principal financiador e parceiro econômico tende a ser reavaliado à medida que governos latino-americanos busquem equilibrar suas relações com potências globais.
Embora a desvalorização do peso e a crise inflacionária permaneçam como desafios centrais, o apoio norte-americano oferece a Milei uma base de sustentação política e econômica antes das eleições. O sucesso do acordo dependerá da capacidade do governo argentino de manter estabilidade cambial e de fortalecer a confiança dos investidores.
Com o novo pacote financeiro, Washington reforça sua presença na região e sinaliza que pretende disputar espaço com Pequim em um momento de redefinição das alianças globais. Para Milei, a parceria representa não apenas um alívio econômico imediato, mas também um passo decisivo em sua estratégia de reposicionamento internacional.


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