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Os futuros economistas e o neoliberalismo que não lhes serve mais

Foto: Divulgação/SEP Da Carta Maior. Por Ana Paula Guidolin (Caeco), Carolina Michelman (Feneco e Caeco) Em breve, dos dias 30 de maio a 02 de junho, nas terras heterodoxas campineiras irá ocorrer o 22º Encontro Nacional de Economia Política (Enep) organizado pela Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP). O tema deste ano é “Restauração neoliberal […]

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Foto: Divulgação/SEP

Da Carta Maior.

Por Ana Paula Guidolin (Caeco), Carolina Michelman (Feneco e Caeco)

Em breve, dos dias 30 de maio a 02 de junho, nas terras heterodoxas campineiras irá ocorrer o 22º Encontro Nacional de Economia Política (Enep) organizado pela Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP). O tema deste ano é “Restauração neoliberal e as alternativas na periferia em tempos de crise do capitalismo” e tem como objetivo a reflexão crítica, abordando os tópicos sobre ajuste fiscal, reformas estruturais, privatizações e seus impactos sobre os direitos sociais, perspectivas socioeconômicas, e momento político de nossa sociedade.
Como apresentadores dos painéis e sessões especiais teremos grandes nomes nacionais e internacionais: Michael Heinrich, José Paulo Netto, Luiz Gonzaga Belluzzo, Costas Lapavitsas, Denise Lobato Gentil, Pedro Paulo Zahluth Bastos, Julio Gambina, Antonio Elias, Plínio de Arruda Sampaio Jr., Guilherme Boulos e Leda Maria Paulani. Esperamos um grande público em todas sessões que está ávido para ouvir e debater as grandes questões postas na atualidade.

Parceria com estudantes

Em meio ao caos em que o país vive no qual diversos movimentos sociais padecem de espaço político em meio a destruição do Estado democrático de direito, a SEP se colocou no rumo da democratização de seu principal evento. Como novidade para o encontro deste ano houve uma parceria com os estudantes de graduação, representados pelas entidades Centro Acadêmico de Economia (Caeco/Unicamp) e Federação Nacional dos Estudantes de Economia (Feneco). O evento que historicamente tem um posicionamento crítico ao neoliberalismo e de resistência às políticas de austeridade econômica, amplia seu alcance e incorpora para as discussões alunos de graduação de todo país.
Houve um esforço coletivo para trazer ao encontro estudantes de economia e áreas relacionadas. Vamos oferecer estrutura para pernoitar, alimentação no restaurante universitário, além de uma programação diversificada que busca estimular a reflexão e posicionamento crítico ao capitalismo e às propostas apresentadas para a crise na atual conjuntura, não só nacional mas na periferia como um todo. Além das apresentações de trabalho, minicursos e sessões especiais, também ocorrerão atividades de entretenimento, como o Samba da Mais – Valia e apresentações artísticas.
O Caeco promoverá uma roda de conversa entre os alunos envolvidos no movimento estudantil e na militância visando pensar formas de resistência e alternativas pela esquerda frente a atual crise. Reconhecemos que como futuros economistas temos papéis e responsabilidades enquanto agentes políticos, tanto no interior das instituições quanto na vida pública de forma geral. O que nos guia é a transposição da teoria econômica heterodoxa para a prática. Temos plena consciência de que não basta a crítica pura e simplesmente, embora esta seja de grande importância.

Por um ensino crítico de economia

Espaços como este são importantes para questionar o ensino de economia prevalecente no país e no mundo. É comum encontrar cursos que negam trazer para sala de aula o questionamento ao capitalismo, às relações sociais e de poder envolvidas e a desigualdade latentes nos países subdesenvolvidos. Entender economia como uma ciência exata desvinculada da política e da sociedade é uma forma de reafirmar a relação de dependência externa expressa pelo imperialismo além da desigualdade social baseada no estreitamento do espaço político de fato democrático. É grave estarmos formando economistas que não tem autonomia crítica e uma visão ampliada do funcionamento do sistema. Outro aspecto importante do ensino que cada vez mais tem ficado de lado, é o incentivo para o aluno se posicionar politicamente, participar como agentes ativos de debates, discussões e ter consciência dos impactos das políticas econômicas na sociedade.
Não por acaso, a realidade econômica anda paralela ao ensino da ciência. Margaret Thatcher, símbolo do neoliberalismo na política, trazia em sua propaganda o slogan “There is no alternative” conhecido popularmente como Tina. A ideia central é a de que as decisões na política econômica eram puramente técnicas e não políticas. Essa postura simples e inofensiva à primeira vista transformou completamente a forma de se fazer política econômica e de se ensinar economia. O principal inimigo a ser exterminado não é o desemprego e sim a inflação. A base curricular cada vez mais valoriza as matérias quantitativas em detrimento das qualitativas. Esse movimento segue a mesma lógica, e é essa lógica que será discutida por um público de 1000 pessoas, dentre pesquisadores, acadêmicos, profissionais, estudantes e demais interessados. O fato de mais da metade desse público ser constituído por estudantes de graduação mostra a inquietação onipresente nos futuros economistas deste país. A imposição do neoliberalismo é uma “roupa que não nos serve mais” como cantava Belchior. Queremos mudança.

Instituto de Economia da Unicamp

O histórico do Instituto de Economia da Unicamp corrobora para o sucesso desse 22º Enep. Nascido em meio à ditadura, a “Escola de Campinas” se mostrou um importante centro de pesquisa que influenciou a política brasileira, propondo uma atualização do Estado visando o desenvolvimento e a preocupação com um projeto de nação. Como afirma uma das maiores economistas e fundadora intelectual do IE, Maria da Conceição Tavares, “Economistas tratam de problemas sociais e políticos. A economia é um instrumento para melhorar socialmente e politicamente uma nação, para integrá-la, para torná-la finalmente o sonho do Furtado”¹. A propósito, sabemos também qual era o sonho de Furtado: “Não é demais repetir e insistir que o desenvolvimento se faz para o homem e que somente se legitima quando permite a este exercer plenamente as suas forças criadoras e identificar-se, no esforço com que contribui pessoalmente, com as suas implicações mais nobres”.²
É um símbolo de resistência a realização de um evento como este, numa conjuntura conturbada em um dos principais centros críticos do país que contará com a presença de centenas de estudantes de economia. Certamente o evento será um sucesso. Vale a pena lembrar que quem não puder comparecer, poderá conferir a transmissão online ao vivo.

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Luis Edmundo

Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

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