Menu

Juristas rechaçam comparação de Jefferson a Lula

Por Lenio Streck, Marco Aurélio de Carvalho e Fabiano Silva dos Santos O grande Norberto Bobbio dizia que a lição número um de um cientista é não comparar ovos com caixa de ovos. Sempre dá errado. Outra lição vem de Ludwig Wittgenstein (muito lido em faculdades de filosofia), que dizia: sobre o que não se tem competência […]

3 comentários
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Por Lenio Streck, Marco Aurélio de Carvalho e Fabiano Silva dos Santos

O grande Norberto Bobbio dizia que a lição número um de um cientista é não comparar ovos com caixa de ovos. Sempre dá errado. Outra lição vem de Ludwig Wittgenstein (muito lido em faculdades de filosofia), que dizia: sobre o que não se tem competência para falar, deve-se calar.

Essas duas lições parecem não ter sido captadas pela colunista da Folha e filósofa Catarina Rochamonte, autoproclamada liberal-conservadora (sic).

Em artigo na Folha (“Bob Jeff, o herói bolsonarista”; 15/8), Rochamonte usa a prisão de Roberto Jefferson para atacar Lula. Sim. Diz que gritar pela liberdade de Bob Jeff é o mesmo que gritar Lula livre. Eis aí: ovos e caixa de ovos. Como filósofa, deveria saber sobre a tese dos dois demônios, raso truque retórico pelo qual, se tenho que, inexoravelmente, criticar um amigo (ou ex-amigo, porque Rochamonte é bolsonarista arrependida), tenho de, ao mesmo tempo, esculhambar um inimigo, arrastando-o para o mesmo terreno da infâmia. Nota zero na aula sobre sofismas.

Como filósofa, por certo ela não diria que Platão é um autor da modernidade ou do medievo. Tiraria zero. Pois então como pode, sem saber nada de direito, repetir pérolas como “que o STF comete abusos, isso é público e notório. O maior deles, diga-se de passagem, foi ter declarado suspeito o ex-juiz Sergio Moro a fim de garantir a elegibilidade de Lula”. Então, para ela, declarar um juiz que criminosamente faz arapongagem de advogados e outros ilícitos não é parcial? Declarar essa suspeição é abuso? Público e notório, colunista?

Chumbou na prova. Claro. São coisas do direito que, quem não é da área, não entende um ovo. Nós também não palpitaríamos sobre operação cardíaca. Ou sobre física quântica. A filósofa-colunista é negacionista do direito. Negar a suspeição de Moro é como dizer que Christiaan Barnard não fez o primeiro transplante cardíaco. E que cloroquina cura Covid-19. Essa comparação é pertinente, porque o cerne é o negacionismo. Ou a ignorância.

É feio uma colunista dizer que a profissão de advogado serve para defender “abusos com unhas e dentes” e que advogados quiseram fazer prevalecer “narrativa torpe”. Sabe a colunista que, em uma democracia, quem diz o direito por último é a Suprema Corte? Ah, não gostou? Que coisa, não? Bob Jeff também não gosta. Todos os bolsonaristas e os lavajatistas não gostam do Supremo Tribunal Federal. Logo, por qual razão Rochamonte estaria de acordo com o uso de garantais processuais, coisa que qualquer aluno da faculdade UniZero sabe?

Rochamonte, ao pretender criticar o Grupo Prerrogativas e o ex-presidente Lula, e, ao mesmo tempo, elogiar a Lava Jato, esqueceu de olhar o dicionário. Afinal, ela fala em sanha persecutória. Que quer dizer ódio, rancor, fúria, ira, desejo de vingança. Na mosca. A Lava Jato foi isso mesmo. Um rancor, uma fúria, uma ira e um desejo de vingança.

Uma operação criminosa a serviço de um projeto eleitoral que tirou do último pleito aquele que era o franco favorito para vencê-lo.

Uma operação que mergulhou nosso sistema de Justiça em uma crise sem precedentes, levando a cárcere político um réu sabidamente inocente por mais de 580 longos dias.

Portanto, numa palavra final, patético não é gritar “Lula livre” —afinal, ficou provado que Lula foi vítima de uma sanha persecutória. E não o contrário. Patético é comparar a aplicação de garantias processuais, só ignoradas por quem não sabe nada de direito (“jusnegacionistas”), com a delinquência de um celerado como Roberto Jefferson.

O Supremo merece nosso reconhecimento e o nosso aplauso. Tem agido com absoluta correção na defesa da democracia e das instituições. Desconhecer esse papel é fruto de má-fé ou de profunda falta de informação e conhecimento.

A tese dos dois demônios realmente é muito rasa. Esperamos mais criatividade. Há por aí bons cursos de retórica. Fica a dica.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

Artigo publicado originalmente na Folha em 17 de agosto de 2021.

Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

carlos

19/08/2021 - 07h00

Esse bíblia Jeferson ele leu o Ludwig wittigenstein, mas não entendeu ele um anti filosofias, o tratactus de filosofia nem é muito discutido nas universidades, pelo fato de seguir uma dualidade entre o ateísmo e o cristianismo , tanto que se suicidou, no direito aonde é que entra a comparação entre Lula e Jeferson, dizem que o Lula roubou, e ele vem provando o contrário, o Jeferson roubou e nunca procurou provar o contrário, existe uma questão de que um roubou mais que o outro, meu amigo não existe no código penal meio oficial de roubo o que existe é o roubo, não meio oficial de ladrão o que existe é o ladrão apenas para pesar o roubo o juiz aplica a dosificação da pena de acordo com o tamanho do delito.

    carlos

    19/08/2021 - 07h01

    Por favor leiam bob jef.

João Ribett

18/08/2021 - 10h52

Essa colunista ( filósofa?) da Foia pode ser chamada de Catarina Rochamonte de Merda na Cabeça.


Leia mais

Recentes

Recentes